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VENEZUELA
Presidente do grupo de mídia Venevision diz que Cisneros, controlador da empresa, não participou da tentativa de golpe
Empresário nega complô contra Chávez
DA REPORTAGEM LOCAL
Gustavo Cisneros, empresário
de mídia venezuelano, não participou da tentativa de golpe contra
o presidente Hugo Chávez, segundo Carlos Bardasano, 52, presidente da Venevision Continental e vice-presidente da holding
controlada por Cisneros.
Bardasano, que participou ontem em São Paulo de um encontro de grupos de comunicação,
evocou reportagem do "New
York Times" e retificação da revista americana "Newsweek" que
negam o envolvimento de Cisneros. Os canais de TV da Venevision "refletem a sociedade civil" e
por isso hoje criticam Chávez, disse Bardasano. Leia a seguir os
principais trechos de sua entrevista à Folha.
Folha - O grupo Venevision conspirou contra Chávez?
Bardasano - Em absoluto. Não
seria essa nossa filosofia.
Folha - É verdade que, pouco antes do golpe, Cisneros e empresários da mídia se reuniram com Pedro Carmona, chefe do efêmero governo provisório?
Bardasano - Na véspera da tentativa de golpe, Cisneros deu uma
recepção ao novo embaixador
americano em Caracas. Foi a única oportunidade em que esteve ao
lado de outros empresários. Carmona não estava presente.
Folha - Ele chegou a se avistar em
outra oportunidade com Carmona?
Bardasano - Carmona visitou a
Venevision, como também esteve
em outras empresas de mídia, na
condição de presidente da confederação patronal. Aquela entidade estava convocando uma paralisação geral. Carmona nos visitou para pedir cobertura jornalística para o movimento.
Folha - Ele não evocou a possibilidade de golpe contra Chávez?
Bardasano - De forma alguma.
Folha - Chávez, após o bem-sucedido contragolpe, acusou as TVs de
não divulgarem manifestações favoráveis a sua volta ao poder.
Bardasano - Tão logo se anunciou a queda de Chávez, passaram
a ocorrer saques em lojas. Fomos
então convocados pelo ministro
da Defesa, José Vicente Rangel,
que fez um apelo para que não
noticiássemos os saques, para evitar uma reação em cadeia.
Folha - Foi então em razão de
uma solicitação de Rangel?
Bardasano - Mesmo que não
quiséssemos aceitá-la, nós, empresas da mídia, não teríamos
condições de cobrir o que quer
que seja corretamente. Os partidários do presidente, armados,
estavam à caça de jornalistas, exceto daqueles que trabalham para
a emissora do governo. Tivemos
um fotógrafo morto e muitas casas de jornalistas invadidas, destruídas. Isso ocorreu entre sábado, 13 de abril, e domingo, 14. As
sedes das redes de TV foram cercadas. Uma delas, depois de invadida, só teve condições técnicas
de voltar a transmitir na tarde de
segunda-feira, dia 15.
Folha - Procede a informação de
que Chávez embarcaria para o exílio num avião cedido por Cisneros?
Bardasano - Esse boato não tem
fundamento. Havia dois aviões de
empresários na ilha de La Orchila,
e nenhum deles pertence a Cisneros ou ao nosso grupo. O governo
sabe de quem são esses aviões.
Quem pediu que eles fossem emprestados foi o cardeal Ignacio
Velazco, por razões humanitárias.
Folha - Caso Carmona tivesse se
mantido no poder, ele seria mais
conveniente que Chávez?
Bardasano - Ele teria sido mais
conveniente apenas se a transição
fosse rápida e também democrática. Mas o pouco que se viu nada
teve de democrático. Estávamos
totalmente contra isso.
Folha - Essa postura de oposição
foi anunciada a Carmona?
Bardasano - Sim. Ele recebeu
uma comissão de empresários da
mídia que entregou a ele um documento no qual esse desacordo
estava expresso.
Folha - Chávez propôs anteontem
um referendo para saber se continuará presidente.
Bardasano - Eu particularmente
sou a favor, mas sei que, antes disso, é preciso cobrir o vácuo jurídico aberto pela tentativa de golpe,
um assunto sobre o qual não sou
especialista.
Folha - Ele seria vencedor?
Bardasano - Ele tem hoje uns
20% de aprovação. Em caso de
união das oposições, ele com certeza perderia.
Folha - O grupo Venevision de início apoiou Chávez. O que mudou?
Bardasano - A mídia reflete a
opinião pública, identifica-se com
a sociedade civil. Chávez representou de início o clamor de mudança, mas o cenário mudou.
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