São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 2002

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VENEZUELA

Presidente do grupo de mídia Venevision diz que Cisneros, controlador da empresa, não participou da tentativa de golpe

Empresário nega complô contra Chávez

DA REPORTAGEM LOCAL

Gustavo Cisneros, empresário de mídia venezuelano, não participou da tentativa de golpe contra o presidente Hugo Chávez, segundo Carlos Bardasano, 52, presidente da Venevision Continental e vice-presidente da holding controlada por Cisneros.
Bardasano, que participou ontem em São Paulo de um encontro de grupos de comunicação, evocou reportagem do "New York Times" e retificação da revista americana "Newsweek" que negam o envolvimento de Cisneros. Os canais de TV da Venevision "refletem a sociedade civil" e por isso hoje criticam Chávez, disse Bardasano. Leia a seguir os principais trechos de sua entrevista à Folha.

Folha - O grupo Venevision conspirou contra Chávez?
Bardasano -
Em absoluto. Não seria essa nossa filosofia.

Folha - É verdade que, pouco antes do golpe, Cisneros e empresários da mídia se reuniram com Pedro Carmona, chefe do efêmero governo provisório?
Bardasano -
Na véspera da tentativa de golpe, Cisneros deu uma recepção ao novo embaixador americano em Caracas. Foi a única oportunidade em que esteve ao lado de outros empresários. Carmona não estava presente.

Folha - Ele chegou a se avistar em outra oportunidade com Carmona?
Bardasano -
Carmona visitou a Venevision, como também esteve em outras empresas de mídia, na condição de presidente da confederação patronal. Aquela entidade estava convocando uma paralisação geral. Carmona nos visitou para pedir cobertura jornalística para o movimento.

Folha - Ele não evocou a possibilidade de golpe contra Chávez?
Bardasano -
De forma alguma.

Folha - Chávez, após o bem-sucedido contragolpe, acusou as TVs de não divulgarem manifestações favoráveis a sua volta ao poder.
Bardasano -
Tão logo se anunciou a queda de Chávez, passaram a ocorrer saques em lojas. Fomos então convocados pelo ministro da Defesa, José Vicente Rangel, que fez um apelo para que não noticiássemos os saques, para evitar uma reação em cadeia.

Folha - Foi então em razão de uma solicitação de Rangel?
Bardasano -
Mesmo que não quiséssemos aceitá-la, nós, empresas da mídia, não teríamos condições de cobrir o que quer que seja corretamente. Os partidários do presidente, armados, estavam à caça de jornalistas, exceto daqueles que trabalham para a emissora do governo. Tivemos um fotógrafo morto e muitas casas de jornalistas invadidas, destruídas. Isso ocorreu entre sábado, 13 de abril, e domingo, 14. As sedes das redes de TV foram cercadas. Uma delas, depois de invadida, só teve condições técnicas de voltar a transmitir na tarde de segunda-feira, dia 15.

Folha - Procede a informação de que Chávez embarcaria para o exílio num avião cedido por Cisneros?
Bardasano -
Esse boato não tem fundamento. Havia dois aviões de empresários na ilha de La Orchila, e nenhum deles pertence a Cisneros ou ao nosso grupo. O governo sabe de quem são esses aviões. Quem pediu que eles fossem emprestados foi o cardeal Ignacio Velazco, por razões humanitárias.

Folha - Caso Carmona tivesse se mantido no poder, ele seria mais conveniente que Chávez?
Bardasano -
Ele teria sido mais conveniente apenas se a transição fosse rápida e também democrática. Mas o pouco que se viu nada teve de democrático. Estávamos totalmente contra isso.

Folha - Essa postura de oposição foi anunciada a Carmona?
Bardasano -
Sim. Ele recebeu uma comissão de empresários da mídia que entregou a ele um documento no qual esse desacordo estava expresso.

Folha - Chávez propôs anteontem um referendo para saber se continuará presidente.
Bardasano -
Eu particularmente sou a favor, mas sei que, antes disso, é preciso cobrir o vácuo jurídico aberto pela tentativa de golpe, um assunto sobre o qual não sou especialista.

Folha - Ele seria vencedor?
Bardasano -
Ele tem hoje uns 20% de aprovação. Em caso de união das oposições, ele com certeza perderia.

Folha - O grupo Venevision de início apoiou Chávez. O que mudou?
Bardasano -
A mídia reflete a opinião pública, identifica-se com a sociedade civil. Chávez representou de início o clamor de mudança, mas o cenário mudou.



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