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Laicização veio após a queda do poder otomano
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Embora sejam de religião
muçulmana 99,8% de seus 71
milhões de habitantes, a Turquia tem como princípio, por
razões históricas, a laicidade
de suas instituições, criadas
no início dos anos 20 com as
reformas radicais do presidente Mustafá Kemal Ataturk (1923-1938).
Até a Primeira Guerra
Mundial o atual território
turco formava o núcleo do
Império Otomano, governado por um sultão, com poderes religiosos e temporais.
Ataturk e sua geração de
militares procuraram impedir que o Estado, em frangalhos depois da derrota militar de 1918, se fatiasse a
exemplo do que britânicos e
franceses fariam com os ex-territórios otomanos do
Oriente Médio, da Palestina
ao Golfo Pérsico.
A idéia era criar um Estado
moderno, visceralmente dissociado da religião. Ataturk,
de certo modo, modificou de
forma autoritária a idéia que
os turcos faziam de si mesmos. Deixaram de ser um
país vinculado cultural e teologicamente ao mundo árabe
para se transformarem em
país ocidentalizado e europeu. Essa ocidentalização
ocorreu com a secularização
da saúde e do ensino, a adoção de uma Justiça autônoma e até com a mudança do
alfabeto e a introdução de
centenas de novas palavras.
Chapéus tradicionais foram
proibidos para servidores
públicos.
O Exército tornou-se o
instrumento dessa modernização forçada, razão pela
qual a oficialidade ainda hoje
vê com desconfiança a religiosidade crescente da classe
média e o fortalecimento dos
partidos islâmicos, suspeitando-os de querer dar marcha a ré na história e levar o
país a uma reformatação teocrática das instituições.
Foi para conter o que acreditavam ser riscos de islamização que os militares fizeram intervenções pontuais
ao depor gabinetes, em 1960,
1971, 1980 e 1997.
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