São Paulo, segunda-feira, 30 de abril de 2007

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Laicização veio após a queda do poder otomano

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Embora sejam de religião muçulmana 99,8% de seus 71 milhões de habitantes, a Turquia tem como princípio, por razões históricas, a laicidade de suas instituições, criadas no início dos anos 20 com as reformas radicais do presidente Mustafá Kemal Ataturk (1923-1938).
Até a Primeira Guerra Mundial o atual território turco formava o núcleo do Império Otomano, governado por um sultão, com poderes religiosos e temporais.
Ataturk e sua geração de militares procuraram impedir que o Estado, em frangalhos depois da derrota militar de 1918, se fatiasse a exemplo do que britânicos e franceses fariam com os ex-territórios otomanos do Oriente Médio, da Palestina ao Golfo Pérsico.
A idéia era criar um Estado moderno, visceralmente dissociado da religião. Ataturk, de certo modo, modificou de forma autoritária a idéia que os turcos faziam de si mesmos. Deixaram de ser um país vinculado cultural e teologicamente ao mundo árabe para se transformarem em país ocidentalizado e europeu. Essa ocidentalização ocorreu com a secularização da saúde e do ensino, a adoção de uma Justiça autônoma e até com a mudança do alfabeto e a introdução de centenas de novas palavras. Chapéus tradicionais foram proibidos para servidores públicos.
O Exército tornou-se o instrumento dessa modernização forçada, razão pela qual a oficialidade ainda hoje vê com desconfiança a religiosidade crescente da classe média e o fortalecimento dos partidos islâmicos, suspeitando-os de querer dar marcha a ré na história e levar o país a uma reformatação teocrática das instituições.
Foi para conter o que acreditavam ser riscos de islamização que os militares fizeram intervenções pontuais ao depor gabinetes, em 1960, 1971, 1980 e 1997.


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