São Paulo, segunda-feira, 30 de abril de 2007

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Bolívia deixa órgão do Banco Mundial

Em Cúpula na Venezuela, Evo Morales anunciou que país não integrará mais centro de arbitragem sobre investimentos

Proposta pelo presidente boliviano em reunião da Alba, iniciativa tem o apoio de Hugo Chávez e pode prejudicar a Petrobras


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BARQUISIMETO

Com o apoio da Venezuela, o presidente Evo Morales, da Bolívia, anunciou ontem a saída de seu país do Centro Internacional para Arbitragem de Disputa sobre Investimento (Ciadi), órgão do Banco Mundial ao qual a Petrobras tem o direito de recorrer em caso de impasse nas negociações com a Bolívia.
A proposta foi feita por Morales na cúpula da Alba (Alternativa Bolivariana para os Povos da Nossa América), realizada em Barquisimeto (360 km a oeste de Caracas), e teve o apoio dos outros três países do bloco. De acordo com o texto aprovado, a Venezuela e a Nicarágua também sairão do Ciadi -Cuba, o quarto país da Alba, não pertence ao organismo.
"Os países-membros da Alba-TCP (Tratado de Comércio dos Povos) rechaçam enfaticamente as pressões políticas, midiáticas e diplomáticas de algumas empresas multinacionais que, havendo violado normas constitucionais (...), resistem à aplicação de decisões soberanas de países, ameaçando (...) Estados nacionais no Centro Internacional para Arbitragem de Disputa sobre Investimento", afirma o texto final.
"Em conseqüência, os Estados da Alba-TCP concordam em renunciar e denunciar de maneira conjunta a convenção do Ciadi", conclui o texto, lido por Morales aos demais representantes de governo, entre os quais o anfitrião Hugo Chávez.
Mais tarde, em entrevista coletiva, Morales se recusou a nomear as empresas a que ele se refere, mas disse que algumas "não andam respeitando as normas bolivianas; só o que fazem é nos ameaçar".
De acordo com o presidente boliviano, à exceção dos EUA, só empresas multinacionais obtiveram vitórias no Ciadi em disputas com governos.
O anúncio da saída do órgão, com sede em Washington, ocorre num momento em que a Bolívia e a Petrobras negociam a venda do controle acionário das duas refinarias da empresa no país, conforme determina o decreto de nacionalização, de 1º de maio do ano passado.
Ontem as duas partes se reuniram em La Paz. Segundo a Folha apurou, a Bolívia aceitou reabrir a negociação sobre o preço das refinarias.
A Bolívia também teria sinalizado que não emitirá amanhã -aniversário do anúncio da nacionalização- um decreto que rebaixaria as duas refinarias da Petrobras a prestadoras de serviço do Estado, seqüestrando seu fluxo de caixa.
A Petrobras não é a única empresa em negociações com a Bolívia. Outras multinacionais do petróleo, como a espanhola Repsol, também têm de repassar o controle acionário de suas empresas ao Estado.
Em setembro do ano passado, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse que a empresa poderia acionar o Ciadi por causa do impasse sobre as refinarias. Na semana passada, a empresa voltou a ameaçar a Bolívia com uma arbitragem internacional.


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