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Bolívia deixa órgão do Banco Mundial
Em Cúpula na Venezuela, Evo Morales anunciou que país não integrará mais centro de arbitragem sobre investimentos
Proposta pelo presidente boliviano em reunião da Alba, iniciativa tem o apoio
de Hugo Chávez e pode prejudicar a Petrobras
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BARQUISIMETO
Com o apoio da Venezuela, o
presidente Evo Morales, da Bolívia, anunciou ontem a saída
de seu país do Centro Internacional para Arbitragem de Disputa sobre Investimento (Ciadi), órgão do Banco Mundial ao
qual a Petrobras tem o direito
de recorrer em caso de impasse
nas negociações com a Bolívia.
A proposta foi feita por Morales na cúpula da Alba (Alternativa Bolivariana para os Povos da Nossa América), realizada em Barquisimeto (360 km a
oeste de Caracas), e teve o
apoio dos outros três países do
bloco. De acordo com o texto
aprovado, a Venezuela e a Nicarágua também sairão do Ciadi
-Cuba, o quarto país da Alba,
não pertence ao organismo.
"Os países-membros da Alba-TCP (Tratado de Comércio
dos Povos) rechaçam enfaticamente as pressões políticas,
midiáticas e diplomáticas de algumas empresas multinacionais que, havendo violado normas constitucionais (...), resistem à aplicação de decisões soberanas de países, ameaçando
(...) Estados nacionais no Centro Internacional para Arbitragem de Disputa sobre Investimento", afirma o texto final.
"Em conseqüência, os Estados da Alba-TCP concordam
em renunciar e denunciar de
maneira conjunta a convenção
do Ciadi", conclui o texto, lido
por Morales aos demais representantes de governo, entre os
quais o anfitrião Hugo Chávez.
Mais tarde, em entrevista coletiva, Morales se recusou a nomear as empresas a que ele se
refere, mas disse que algumas
"não andam respeitando as
normas bolivianas; só o que fazem é nos ameaçar".
De acordo com o presidente
boliviano, à exceção dos EUA,
só empresas multinacionais
obtiveram vitórias no Ciadi em
disputas com governos.
O anúncio da saída do órgão,
com sede em Washington,
ocorre num momento em que a
Bolívia e a Petrobras negociam
a venda do controle acionário
das duas refinarias da empresa
no país, conforme determina o
decreto de nacionalização, de
1º de maio do ano passado.
Ontem as duas partes se reuniram em La Paz. Segundo a
Folha apurou, a Bolívia aceitou
reabrir a negociação sobre o
preço das refinarias.
A Bolívia também teria sinalizado que não emitirá amanhã
-aniversário do anúncio da
nacionalização- um decreto
que rebaixaria as duas refinarias da Petrobras a prestadoras
de serviço do Estado, seqüestrando seu fluxo de caixa.
A Petrobras não é a única
empresa em negociações com a
Bolívia. Outras multinacionais
do petróleo, como a espanhola
Repsol, também têm de repassar o controle acionário de suas
empresas ao Estado.
Em setembro do ano passado, o presidente da Petrobras,
José Sérgio Gabrielli, disse que
a empresa poderia acionar o
Ciadi por causa do impasse sobre as refinarias. Na semana
passada, a empresa voltou a
ameaçar a Bolívia com uma arbitragem internacional.
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