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SUCESSÃO NOS EUA / RELAÇÕES PERIGOSAS
Sob pressão, Obama renega ex-pastor
Pré-candidato sobe o tom para se defender de ataques de rivais e diz não reconhecer o homem que liderou sua igreja por 20 anos
Jeremiah Wright diz que EUA "atraíram para si" o 11 de Setembro; pesquisa mostra uma polarização maior no Partido Democrata
DA REDAÇÃO
Pressionado pela mídia e
perseguido por rivais políticos,
o pré-candidato democrata à
Presidência dos EUA Barack
Obama rejeitou ontem com
veemência inédita seu ex-pastor Jeremiah Wright, que liderou a igreja do senador por quase duas décadas e cujos discursos inflamados causam polêmica. O elo entre os dois vem sendo explorado por adversários
para retratar Obama como condescendente com radicais.
Na segunda entrevista convocada em menos de 24 horas
para tratar de Wright, o pré-candidato se disse "ultrajado"
pelas falas sobre racismo e
opressão no país.
"Esses comentários horríveis
contradizem tudo que defendo.
A pessoa que vi ontem [anteontem] não é a mesma que conheci há 20 anos."
No domingo e na última segunda-feira, o ex-pastor repetira sua fala mais célebre, de que
os EUA "atraíram para si" os
atentados do 11 de Setembro.
Sobre racismo, afirmara que
"não há desculpas para o que o
governo deste país já fez".
A polêmica havia surgido antes, há dois meses, com a divulgação de trechos de sermões na
internet, mas ontem foi a primeira vez que Obama rejeitou
claramente o religioso.
Em 18 de março, o pré-candidato abordou pela primeira vez
a divisão racial no país em discurso para se distanciar de
Wright, mas sem renegá-lo:
"Não posso renegá-lo, assim
como não posso renegar a comunidade negra (...) ou minha
avó branca (...), que já confessou seu medo de homens negros que passam por ela na
rua". Mas o discurso foi incapaz
de impedir a volta do tema,
principalmente pelo ímpeto de
Wright em se defender.
O ex-pastor alega que Obama
concorda com ele e só se distanciou publicamente para não
perder votos -algo que o pré-candidato nega, mas que pode
servir de munição a seus rivais.
Experiente na cena política,
Wright intrigou analistas americanos com o tour midiático.
"Meu palpite", escreve o articulista do "New York Times" Bob
Herbert, "é que Wright se sentiu atropelado por um ônibus"
quando Obama discordou dele.
"O que vemos agora é o tour
"você vai ver só" do reverendo."
Herbert, que é negro, discorda do ex-pastor quando ele diz
que o verdadeiro alvo das críticas a seu discurso é a igreja negra americana. "Ele está vivendo um sonho narcisista. (...) Está respondendo ao que vê como
um ataque contra si."
Fratricídio
É incerto se a polêmica terá
efeito sobre Obama. A longevidade da disputa democrata, no
entanto, parece já afetar o pré-candidato. Pesquisa divulgada
ontem pela Associated Press e
o Yahoo! mostra crescente rejeição dos eleitores democratas
ao candidato que não apóiam.
A visão negativa de Hillary
por parte de simpatizantes de
Obama subiu de 35% em novembro para 44% neste mês.
Destes, 2 de cada 3 dizem preferir votar no republicano John
McCain do que na ex-primeira-dama democrata.
Já 42% dos simpatizantes de
Hillary rejeitam Obama (eram
26% em novembro) -e 75%
destes afirmam preferir
McCain ao senador.
A margem de erro é de 3,3
pontos em ambas as direções.
Com agências internacionais
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