São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SUCESSÃO NOS EUA / RELAÇÕES PERIGOSAS

Sob pressão, Obama renega ex-pastor

Pré-candidato sobe o tom para se defender de ataques de rivais e diz não reconhecer o homem que liderou sua igreja por 20 anos

Jeremiah Wright diz que EUA "atraíram para si" o 11 de Setembro; pesquisa mostra uma polarização maior no Partido Democrata


DA REDAÇÃO

Pressionado pela mídia e perseguido por rivais políticos, o pré-candidato democrata à Presidência dos EUA Barack Obama rejeitou ontem com veemência inédita seu ex-pastor Jeremiah Wright, que liderou a igreja do senador por quase duas décadas e cujos discursos inflamados causam polêmica. O elo entre os dois vem sendo explorado por adversários para retratar Obama como condescendente com radicais.
Na segunda entrevista convocada em menos de 24 horas para tratar de Wright, o pré-candidato se disse "ultrajado" pelas falas sobre racismo e opressão no país.
"Esses comentários horríveis contradizem tudo que defendo. A pessoa que vi ontem [anteontem] não é a mesma que conheci há 20 anos."
No domingo e na última segunda-feira, o ex-pastor repetira sua fala mais célebre, de que os EUA "atraíram para si" os atentados do 11 de Setembro. Sobre racismo, afirmara que "não há desculpas para o que o governo deste país já fez".
A polêmica havia surgido antes, há dois meses, com a divulgação de trechos de sermões na internet, mas ontem foi a primeira vez que Obama rejeitou claramente o religioso.
Em 18 de março, o pré-candidato abordou pela primeira vez a divisão racial no país em discurso para se distanciar de Wright, mas sem renegá-lo: "Não posso renegá-lo, assim como não posso renegar a comunidade negra (...) ou minha avó branca (...), que já confessou seu medo de homens negros que passam por ela na rua". Mas o discurso foi incapaz de impedir a volta do tema, principalmente pelo ímpeto de Wright em se defender.
O ex-pastor alega que Obama concorda com ele e só se distanciou publicamente para não perder votos -algo que o pré-candidato nega, mas que pode servir de munição a seus rivais.
Experiente na cena política, Wright intrigou analistas americanos com o tour midiático. "Meu palpite", escreve o articulista do "New York Times" Bob Herbert, "é que Wright se sentiu atropelado por um ônibus" quando Obama discordou dele. "O que vemos agora é o tour "você vai ver só" do reverendo."
Herbert, que é negro, discorda do ex-pastor quando ele diz que o verdadeiro alvo das críticas a seu discurso é a igreja negra americana. "Ele está vivendo um sonho narcisista. (...) Está respondendo ao que vê como um ataque contra si."

Fratricídio
É incerto se a polêmica terá efeito sobre Obama. A longevidade da disputa democrata, no entanto, parece já afetar o pré-candidato. Pesquisa divulgada ontem pela Associated Press e o Yahoo! mostra crescente rejeição dos eleitores democratas ao candidato que não apóiam.
A visão negativa de Hillary por parte de simpatizantes de Obama subiu de 35% em novembro para 44% neste mês. Destes, 2 de cada 3 dizem preferir votar no republicano John McCain do que na ex-primeira-dama democrata.
Já 42% dos simpatizantes de Hillary rejeitam Obama (eram 26% em novembro) -e 75% destes afirmam preferir McCain ao senador.
A margem de erro é de 3,3 pontos em ambas as direções.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Greve em estatal de cobre ofusca melhora na aprovação de Bachelet
Próximo Texto: Frases
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.