São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2008

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Índia recebe Ahmadinejad e irrita o governo dos EUA

Irã negocia com indianos gasoduto de US$ 7,6 bilhões que atravessará Paquistão

Departamento de Estado quis que Índia pressionasse o Irã para cessar programa nuclear; Nova Déli disse que dispensava "orientações"


DA REDAÇÃO

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, fez ontem à noite uma escala de cinco horas em Nova Déli e não assinou nenhum contrato. Mas isso bastou para que a Índia desse nova prova de independência com relação aos Estados Unidos, que procuram isolar o Irã em razão de seu controvertido programa nuclear.
Ahmadinejad foi recebido pelo primeiro-ministro Manmohan Singh e pela presidente Pratibha Patil. Foi a primeira visita desde 2003 de um governante do Irã à Índia.
Os dois países negociam um gasoduto de 2.500 km de extensão, a um custo de US$ 7,6 bilhões. Ele atravessaria o Paquistão. Mas o projeto escorrega na tarifa exigida pelo Irã para entregar o combustível e na desconfiança da Índia quanto à travessia do duto pelo território de seu histórico inimigo regional, com o qual precisará negociar uma taxa de royalties.

EUA ditaram pauta
Mas o importante na visita de Ahmadinejad está no interesse comum, dele e da Índia, de provocar a irritação americana. Na semana passada, o porta-voz do Departamento de Estado, Tom Casey, sugeriu que Nova Déli pressionasse o presidente iraniano a cessar o enriquecimento de urânio e a não mais apoiar o Hizbollah e o Hamas, grupos antiisraelenses no Oriente Médio.
Na ocasião, o Ministério das Relações Exteriores da Índia respondeu que duas civilizações milenares, a sua e a iraniana, não precisavam de "orientações" sobre como se relacionar.
Ainda ontem, Shiv Shankar Menon, o chefe da diplomacia indiana, declarou que a região se estabilizará se o Irã não permanecer isolado.
É o oposto do que pensam os Estados Unidos, que trabalham por esse isolamento, como forma de pressão para que os iranianos não levem adiante o plano que lhes é atribuído de construir a bomba atômica.
Lalit Mansigh, ex-embaixador da Índia em Washington, disse ao "New York Times" que é positivo para o governo indiano tomar iniciativas que possam desagradar aos EUA.
Um integrante do governo de Nova Déli, não identificado, também afirmou ao jornal americano que a visita de Ahmadinejad "é de alta visibilidade, mas de magras chances de gerar resultados concretos".
O "Times" não bate apenas na tecla da irritação da administração Bush. Há um outro pacote de motivos que leva o Irã a se manter próximo da Índia. Ele é o segundo maior fornecedor de petróleo aos hindus, superado apenas pela Arábia Saudita. O Irã é também influente no Afeganistão, cuja instabilidade preocupa a Índia. Por fim, os iranianos exercem liderança sobre a minoria xiita da Índia, com a qual o governo procura manter boas relações.
Antes de desembarcar em Nova Déli, Ahmadinejad, em visita oficial ao Sri Lanka, assinou contrato de empréstimo de US$ 1,5 bilhão para que aquele país amplie sua principal refinaria de petróleo e sua capacidade de geração hidrelétrica.
Na ocasião, o presidente iraniano afirmou que "podemos dar segurança e manter boas relações, mas alguns países poderosos [referência aos EUA] criaram divisões entre os povos e nacionalidades".


Com agências internacionais


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