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Índia recebe Ahmadinejad e irrita o governo dos EUA
Irã negocia com indianos gasoduto de US$ 7,6 bilhões que atravessará Paquistão
Departamento de Estado
quis que Índia pressionasse
o Irã para cessar programa
nuclear; Nova Déli disse que
dispensava "orientações"
DA REDAÇÃO
O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, fez ontem
à noite uma escala de cinco horas em Nova Déli e não assinou
nenhum contrato. Mas isso
bastou para que a Índia desse
nova prova de independência
com relação aos Estados Unidos, que procuram isolar o Irã
em razão de seu controvertido
programa nuclear.
Ahmadinejad foi recebido
pelo primeiro-ministro Manmohan Singh e pela presidente
Pratibha Patil. Foi a primeira
visita desde 2003 de um governante do Irã à Índia.
Os dois países negociam um
gasoduto de 2.500 km de extensão, a um custo de US$ 7,6 bilhões. Ele atravessaria o Paquistão. Mas o projeto escorrega na tarifa exigida pelo Irã para entregar o combustível e na
desconfiança da Índia quanto à
travessia do duto pelo território de seu histórico inimigo regional, com o qual precisará negociar uma taxa de royalties.
EUA ditaram pauta
Mas o importante na visita
de Ahmadinejad está no interesse comum, dele e da Índia,
de provocar a irritação americana. Na semana passada, o
porta-voz do Departamento de
Estado, Tom Casey, sugeriu
que Nova Déli pressionasse o
presidente iraniano a cessar o
enriquecimento de urânio e a
não mais apoiar o Hizbollah e o
Hamas, grupos antiisraelenses
no Oriente Médio.
Na ocasião, o Ministério das
Relações Exteriores da Índia
respondeu que duas civilizações milenares, a sua e a iraniana, não precisavam de "orientações" sobre como se relacionar.
Ainda ontem, Shiv Shankar
Menon, o chefe da diplomacia
indiana, declarou que a região
se estabilizará se o Irã não permanecer isolado.
É o oposto do que pensam os
Estados Unidos, que trabalham
por esse isolamento, como forma de pressão para que os iranianos não levem adiante o plano que lhes é atribuído de construir a bomba atômica.
Lalit Mansigh, ex-embaixador da Índia em Washington,
disse ao "New York Times" que
é positivo para o governo indiano tomar iniciativas que possam desagradar aos EUA.
Um integrante do governo de
Nova Déli, não identificado,
também afirmou ao jornal
americano que a visita de Ahmadinejad "é de alta visibilidade, mas de magras chances de
gerar resultados concretos".
O "Times" não bate apenas
na tecla da irritação da administração Bush. Há um outro
pacote de motivos que leva o
Irã a se manter próximo da Índia. Ele é o segundo maior fornecedor de petróleo aos hindus, superado apenas pela Arábia Saudita. O Irã é também influente no Afeganistão, cuja
instabilidade preocupa a Índia.
Por fim, os iranianos exercem
liderança sobre a minoria xiita
da Índia, com a qual o governo
procura manter boas relações.
Antes de desembarcar em
Nova Déli, Ahmadinejad, em
visita oficial ao Sri Lanka, assinou contrato de empréstimo de
US$ 1,5 bilhão para que aquele
país amplie sua principal refinaria de petróleo e sua capacidade de geração hidrelétrica.
Na ocasião, o presidente iraniano afirmou que "podemos
dar segurança e manter boas
relações, mas alguns países poderosos [referência aos EUA]
criaram divisões entre os povos
e nacionalidades".
Com agências internacionais
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