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Resistência do Brasil a tratado antibombas de dispersão é criticada
Organizações humanitárias lançam campanha para pressionar não signatários a mudar de posição
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
A recusa do Brasil em aderir
ao tratado que proíbe o uso e a
produção de bombas de dispersão voltou a ser alvo de duras
críticas. Ontem em Genebra,
organizações humanitárias
lançaram uma campanha para
pressionar o Brasil e outros países a mudar de posição.
Segundo relatório apresentado pelos ativistas, mais da metade dos 34 países que fabricavam esse tipo de armamento
abandonou a produção. O Brasil está entre os que continuam
a produzir "em certa medida" o
artefato, capaz de espalhar milhares de bombas menores, que
acabam funcionando como minas terrestres. Noventa e seis
países já assinaram o tratado
desde que ele foi apresentado,
em dezembro de 2008.
Na opinião de Steve Goose,
diretor-executivo da divisão de
armas da HRW, o interesse
econômico é só um dos motivos
para a relutância do Brasil em
aderir. "O Brasil já alegou motivos econômicos, pois tem uma
indústria vibrante, mas o mercado de exportação secou. A
maior parte do mundo assinou
o acordo", disse. "Por isso, acho
que há razões políticas, como a
de ficar em pé de igualdade com
potências militares, como
EUA, China e Índia."
O argumento do Itamaraty
para ficar fora do tratado é que
o âmbito mais adequado para a
discussão sobre as bombas é o
da Convenção sobre Certas Armas Convencionais, da ONU.
O Brasil afirma ainda que o
acordo é discriminatório, pois
deixa uma brecha para um tipo
de munição de dispersão que só
países desenvolvidos têm capacidade de produzir. Outro argumento é militar: as Forças Armadas brasileiras consideram
que as bombas são um importante fator de dissuasão.
Para Cristian Wittmann, da
Campanha Brasileira Contra as
Minas Terrestres e Munições
Cluster (termo em inglês do artefato), nenhum dos argumentos é convincente, já que a produção é mínima, o uso militar é
limitado, e a condenação mundial é crescente.
O cambojano Tun Channareth, que perdeu as pernas em
explosões de minas na fronteira de seu país com a Tailândia, é
um dos "embaixadores" da
campanha contra as armas de
dispersão. "Há duas guerras:
uma é barulhenta e coletiva. A
outra é silenciosa e individual, e
ocorre depois que os combates
terminam, mas as minas e os
"clusters" permanecem", disse.
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