São Paulo, domingo, 30 de maio de 2010

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Grampo é pior que Watergate, diz chefe do Judiciário

DA ENVIADA A BOGOTÁ

Só um tema disputa atenção com as eleições hoje na Colômbia: os desdobramentos das investigações do escândalo dos grampos ilegais feitos por agentes de inteligência atingindo jornalistas, ativistas e até magistrados da Corte Suprema de Justiça. Nesta semana, o presidente Álvaro Uribe foi arrolado como testemunha no processo, que já investiga auxiliares do palácio presidencial. À Folha o presidente da Corte Suprema, Jaime Arrubla, disse que o caso é mais grave do que o Watergate, que provocou a renúncia do presidente americano Richard Nixon em 1974.

 

Folha - Como o sr. avalia a investigação do escândalo dos grampos?
Jaime Arrubla - Esse caso não é aceitável sob nenhum ponto de vista. É uma intromissão indevida nas funções do Poder Judiciário, amedronta a independência do Poder e a privacidade dos magistrados.
Os que fizeram essas interceptações ilegais o fizeram carentes de toda competência. O DAS não tem competência para abrir investigações contra magistrados. Nenhum funcionário do Executivo tem competência para ordenar esse tipo de pesquisa e investigação. Os únicos que podem fazê-lo são juízes, no marco de um processo.
No caso do Watergate, foram interceptações contra um partido político [de agentes do republicano Nixon a um QG do Partido Democrata]. Imagine se fosse a Corte Suprema dos EUA? A nação americana teria tremido. Aqui, não é suficiente.

A tese da Procuradoria diz que o objetivo do grampo e da queda de sigilo era buscar informações para difamar a Corte. O que o sr. acha?
É evidente que sim. A Corte está empreendendo uma grande investigação dos crimes da "parapolítica", onde, aqui sim com nossa competência, estamos investigando parlamentares, e já foram tomadas medidas e sanções.
Obviamente, isso tem afetado muitos círculos de poder. Antes de mais nada, porque são muitos [os casos]. Depois, porque muitos eram do partido do governo. Por isso, temos sido atacados, vilipendiados e estamos certos de que essa campanha de desprestígio tinha a ver com essa atividade.

Há assessores de Uribe citados por testemunhas. O presidente devia afastá-los?
Não faço referência a nenhuma pessoa em especial. Não nos cabe adiantar as investigações. Atenho-me ao que diz o procurador-geral. Até agora, ele fez acusações formais a funcionários do DAS e da Fazenda. Esperemos para ver a quem mais. É melhor não fazermos jogos de advinhação.
Há várias agências do Estado envolvidas no assunto, e pode-se imaginar que alguém coordenava a operação. É uma hipótese. Essa é a pessoa que falta para poder fechar o quebra-cabeças.

Uribe acusa a Corte de agir contra ele. Há tensão na relação entre os Poderes?
De nossa parte, não há nenhuma tensão ou prevenção. Cumprimos com nossas competências constitucionais.


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