São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 2005

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SAÚDE

Os responsáveis pela venda direta ao consumidor, não os produtores, são os que mais lucram, segundo relatório da ONU

Drogas movimentam US$ 321,6 bi ao ano

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

O comércio de drogas ilícitas fatura no mundo US$ 321,6 bilhões ao ano e abastece um mercado de aproximadamente 200 milhões de pessoas, o que representa 5% da população mundial entre 15 e 64 anos. Quem mais lucra com esse negócio, no entanto, não são os produtores, mas sim os responsáveis pelas vendas diretas ao consumidor nos países mais ricos.
Essas são as principais conclusões do Relatório Mundial sobre Drogas 2005, que é publicado anualmente pela ONU. Os dados do levantamento são referentes, principalmente, aos anos de 2003 e 2004, e as principais fontes de informação são os 177 países que responderam ao questionário da organização sobre o tema.
O faturamento total foi estimado a partir do preço médio de cada droga nas diferentes etapas de comercialização e levou em conta também o volume de produção de cada substância, que é monitorado a partir de satélite ou estimado por meio das apreensões.
Essa foi a primeira vez que a ONU estima o faturamento desse comércio nas três fases da cadeia produtiva. Mesmo não sendo a fase em que o faturamento é maior, o valor movimentado por esse comércio no atacado (ou seja, o momento em que a droga é transportada do produtor para o mercado consumidor) é maior do que o valor de exportações de produtos de primeira necessidade.
O faturamento de US$ 94 bilhões nessa fase, por exemplo, supera o valor somado das exportações mundiais de carne (US$ 52,5 bilhões) e cereais (US$ 40,7 bilhões). O levantamento mostra, no entanto, que a maior parte do faturamento é gerada no varejo, ou seja, no momento da venda ao consumidor final.
Dos US$ 322 bilhões faturados, apenas 4% (ou US$ 12,8 bilhões) são gerados no momento da produção, e 25% (ou US$ 94 bilhões) no atacado. Isso significa que, de cada US$ 100 resultantes da venda ao consumidor final, US$ 71 ficam com os vendedores diretos, US$ 25 com quem fez chegar a droga àquele mercado e apenas US$ 4 com quem a produziu.
Como o consumo é maior nos países industrializados, a ONU calculou que 76% do lucro das vendas é gerado nesses países. Segundo o relatório, os países da América do Norte respondem, sozinhos, por 44% do faturamento no varejo dessas drogas. A Europa aparece como segundo maior mercado, com 33% desse faturamento. A América do Sul representa apenas 3%, percentual menor do que o da Oceania, de 5%.
Por ser a droga de maior consumo, a maconha é também a que rende mais faturamento no varejo: US$ 113 bilhões. Em segundo lugar aparece a cocaína (US$ 71 bilhões) e, depois, os opiáceos (US$ 65 bilhões).
Para o representante do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime no Brasil, Giovanni Quaglia, os dados da pesquisa indicam que os países precisam ter estratégias diferenciadas para combater o problema no momento da produção, do tráfico e do consumo.
"O consumo precisa ser tratado como uma questão de saúde pública, enquanto a produção e o tráfico são problemas de polícia", diz.


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