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ANÁLISE
Comédia de erros lembra em pouco a era de ouro da KGB
CHARLES CLOVER
DO "FINANCIAL TIMES"
Os sucessos da formidável
máquina de inteligência internacional do Kremlin são
numerosos. A "central de
Moscou", como os agentes a
conhecem, ao longo dos
anos conseguiu infiltrar
agentes no alto comando de
Hitler e instalar o americano
Aldrich Ames na CIA.
O caso dos "residentes ilegais", 11 agentes detidos nos
EUA e no Chipre sob a acusação de espionagem em favor
da Rússia, dificilmente entrará para o quadro de honra da
organização.
Em Moscou, ex-agentes
dos serviços de inteligência
condenam o descuido com
que a operação foi conduzida
e dizem que ela mais parece
um roteiro de filme ruim de
suspense do que um manual
de espionagem eficiente.
As provas oferecidas pelo
Departamento da Justiça dos
EUA parecem elementos de
uma comédia de erros.
"Você tem certeza de que
ninguém está nos observando?", pergunta uma das suspeitas de espionagem, Anna
Chapman, num encontro
num café de Nova York com
um agente do FBI que se passava por espião russo.
O ex-agente da agência de
espionagem KGB Mikhail
Liubimov diz que os documentos revelam erros elementares dos agentes, como
operações de lavagem de dinheiro. "Combinar ações de
inteligência a uma empreitada criminosa é descuidado e
estúpido demais."
Nikolai Kovalev, ex-diretor
do Serviço Federal de Segurança russo, diz que outro erro grave está no fato de que
os membros do grupo mantinham contato constante uns
com os outros. "Qualquer "residente ilegal" contata apenas uma pessoa. É a lei mais
importante de qualquer organização de espionagem."
Em vez de demonstrar o alcance assustador de Moscou,
o caso mostra o estado precário do aparelho de inteligência que orgulhava o Kremlin
nos dias da União Soviética.
O fim da Guerra Fria e as
transformações pelas quais a
Rússia passou desde que o
comunismo acabou deixaram a organização sem missão clara e seriamente desprovida de recursos.
A KGB representava uma
carreira muito admirada na
era soviética, provendo acesso a viagens e privilégios,
mas a situação agora é outra.
Muitos dos formandos
universitários poliglotas e talentosos preferem buscar
empregos mais bem pagos
em bancos ou escritórios de
advocacia, em lugar de se sujeitar às normas de sigilo e às
privações de uma vida como
agentes clandestinos.
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