São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2010

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ANÁLISE

Comédia de erros lembra em pouco a era de ouro da KGB

CHARLES CLOVER
DO "FINANCIAL TIMES"

Os sucessos da formidável máquina de inteligência internacional do Kremlin são numerosos. A "central de Moscou", como os agentes a conhecem, ao longo dos anos conseguiu infiltrar agentes no alto comando de Hitler e instalar o americano Aldrich Ames na CIA.
O caso dos "residentes ilegais", 11 agentes detidos nos EUA e no Chipre sob a acusação de espionagem em favor da Rússia, dificilmente entrará para o quadro de honra da organização.
Em Moscou, ex-agentes dos serviços de inteligência condenam o descuido com que a operação foi conduzida e dizem que ela mais parece um roteiro de filme ruim de suspense do que um manual de espionagem eficiente.
As provas oferecidas pelo Departamento da Justiça dos EUA parecem elementos de uma comédia de erros.
"Você tem certeza de que ninguém está nos observando?", pergunta uma das suspeitas de espionagem, Anna Chapman, num encontro num café de Nova York com um agente do FBI que se passava por espião russo.
O ex-agente da agência de espionagem KGB Mikhail Liubimov diz que os documentos revelam erros elementares dos agentes, como operações de lavagem de dinheiro. "Combinar ações de inteligência a uma empreitada criminosa é descuidado e estúpido demais."
Nikolai Kovalev, ex-diretor do Serviço Federal de Segurança russo, diz que outro erro grave está no fato de que os membros do grupo mantinham contato constante uns com os outros. "Qualquer "residente ilegal" contata apenas uma pessoa. É a lei mais importante de qualquer organização de espionagem."
Em vez de demonstrar o alcance assustador de Moscou, o caso mostra o estado precário do aparelho de inteligência que orgulhava o Kremlin nos dias da União Soviética.
O fim da Guerra Fria e as transformações pelas quais a Rússia passou desde que o comunismo acabou deixaram a organização sem missão clara e seriamente desprovida de recursos.
A KGB representava uma carreira muito admirada na era soviética, provendo acesso a viagens e privilégios, mas a situação agora é outra.
Muitos dos formandos universitários poliglotas e talentosos preferem buscar empregos mais bem pagos em bancos ou escritórios de advocacia, em lugar de se sujeitar às normas de sigilo e às privações de uma vida como agentes clandestinos.


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