São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 2011

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Grécia evita "suicídio", mas fica na UTI

Governo consegue aprovação apertada no Parlamento de pacote de austeridade de € 78 bilhões para 2012-2015

Programa era condição de europeus e do FMI para liberar próxima parcela de resgate e um segundo socorro ao país

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

O Parlamento grego evitou ontem o "suicídio" do país, termo usado pelo presidente do Banco Central, George Provopoulos, para designar a eventual rejeição do programa de austeridade 2012/15, imposto pela União Europeia e pelo Fundo Monetário e encampado, por falta de alternativas, pelo primeiro-ministro George Papandreou.
O duro pacote -€ 78 bilhões, que, no Brasil, como idêntica proporção do PIB, corresponderiam a inacreditáveis R$ 900 bilhões- foi aprovado por 155 votos contra 138 e cinco abstenções.
Com isso, a Grécia se habilita não só a receber uma cota de € 12 bilhões relativa ao primeiro socorro da UE/FMI, mas também a uma segunda ajuda, maior ainda, que lhe permita evitar algum tipo de calote de sua imponente dívida de € 355 bilhões -o que significa que cada grego, até os que nasceram ontem, deve € 30 mil.
Se evitou o suposto suicídio que seria o calote, a Grécia nem remotamente saiu da UTI.
A melhor avaliação do quadro é feita exatamente por um ícone dos mercados -os grandes responsáveis pela crise, na visão dos "indignados" que acampam há três semanas na praça Syntagma, coração de Atenas, e na qual fica o Parlamento.
Mohamed El-Erian, do fundo Pimco de investimentos, afirma:
"O problema da Grécia se deve a dois problemas interrelacionados: a economia é incapaz de crescer e o peso da dívida é enorme. Não obstante, nem um fator nem o outro tiveram influência suficiente no enfoque da coalizão de gerenciamento da crise" (alusão à "troika" UE/FMI/Banco Central Europeu).
Desde a introdução, há um ano, do primeiro programa de auxílio, acoplado ao primeiro plano de ajuste, os indicadores gregos só fizeram piorar: a retração no crescimento, originalmente estimada em 2,6% para este ano, acaba de ser revista para 3%.
A taxa de desemprego alcançou 15,9% no primeiro trimestre, quase 50% acima dos 11,7% do primeiro trimestre de 2010. Entre os jovens de 15 a 29 anos, é pior: 30,9% de desemprego.

INSATISFAÇÃO
É ilógico supor que um novo corte de gastos, com demissão de funcionários públicos, mais aumento de impostos tenha efeito positivo sobre o crescimento.
Daí à insatisfação generalizada é um passo: pesquisa do jornal "Kathimerini" ("O Diário") mostrou que 87% dos gregos acham que o país adotou rumo errado.
É só a fatia mais mobilizada dessa maioria que acampa há três semanas na praça Syntagma, em protesto espontâneo e que deveria ser pacífico. Mas, ontem e anteontem, grupos de radicais invadiram também a praça e provocaram uma batalha campal com a polícia. Também se juntaram aos "indignados" os militantes sindicais que promoveram uma greve geral de 48 horas, a terceira neste ano.
Aos "indignados" que se concentram na Syntagma junta-se um grupo de grosso calibre de "desconfiados": temerosos de um calote, cujas vítimas principais seriam exatamente os bancos gregos, promovem silenciosa fuga de divisas, à razão de € 2,8 bilhões por mês no primeiro quadrimestre.
A aprovação do pacote pode ter evitado o "suicídio" pelo calote, mas será insuficiente para tirar a palavra de circulação, a julgar pela avaliação de Ian Bremmer, presidente do Eurasia Group, consultoria de risco político, em "blog" na edição eletrônica do "Financial Times":
"Com o voto de hoje [ontem] a favor de um plano fiscal de médio prazo, a Grécia escapou por pouco do perigo imediato de colapso financeiro. Mas será uma vitória de curta vida para o governo grego: nos próximos dias e meses, uma série de decisões cruciais estará pendente. A perspectiva tanto de um 'default' fiscal como de uma crise política raramente estará longe das manchetes".


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