São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 2011

Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros

'Indignados' com votação de pacote endurecem ações

Manifestantes reagem com fúria e combatem polícia nas ruas de Atenas; 29 são detidos durante 'batalha'

Hospitais registram 500 atendimentos, e o emblemático Hotel Grande Bretagne é evacuado em Atenas

DO ENVIADO A ATENAS

Cansados de chamar de "vendidos" todos os políticos gregos, da situação e da oposição, os "indignados" que se concentram em frente ao Parlamento há três semanas passaram das palavras à ação.
Eles atacaram com garrafas e até uma cadeira o deputado socialista Alexandros Athanasidis, quando ele saía do prédio escoltado por cinco seguranças, depois de ter votado a favor do pacote de austeridade a que se opõe a rua grega.
Athanasidis ameaçara votar "não", mas voltou atrás depois de uma pressão formidável da União Europeia e do governo, que compensou a pressão da rua, mais ruidosa, mais violenta, mas também mais impotente.
Outra parlamentar que desatou a fúria da massa foi a conservadora Elsa Papadimitrou, do partido opositor Nova Democracia, única a desertar do seu grupo e votar "sim". Compensou a defecção de um único socialista, Panayotis Kouroubilos, imediatamente expulso pelo primeiro-ministro grego George Papandreou.

INDIGNADOS
A pressão da rua foi tão forte que se deu de maneira contrária ao usual: foram os manifestantes, pelo menos os radicais entre eles, que atacaram a polícia desde o início dos trabalhos.
No meio da praça, já estavam os "aganaktismeni" ("indignados", em grego), que insistem em manter pacífico o seu movimento de protesto.
Esses manifestantes acabaram incomodados pelos radicais, grupos anarquistas que vieram para a praça devidamente equipados com máscaras contra gases, capacetes, pedras e outros elementos de ataque.
A polícia reagiu com cassetetes e uma catarata de bombas de gás lacrimogêneo, que deixou a praça sob uma nuvem de fumaça que queimava gargantas e olhos.
Ela foi a responsável pela grande maioria dos cerca de 500 atendimentos feitos nos hospitais das imediações (30 pessoas tiveram que ficar hospitalizadas) e pela evacuação do Hotel Grande Bretagne, o mais emblemático de Atenas, de cujos terraços as televisões tinham o melhor foco para a guerra.
Guerra que, segundo informações da polícia, deixou 30 policiais feridos e 29 detidos, entre os inimigos.
A batalha começou antes da votação, parou alguns minutos enquanto o pessoal ouvia os deputados dizerem "nai" ("sim", que os gregos pronunciam "né") ou "óxi", continuou depois e ainda rugia quando o sol começou a se pôr, lá pelas 21h (15h no horário de Brasília).

DEFAULT
Os radicais atacaram também o Ministério das Finanças do país, os Correios e tentaram queimar uma agência do segundo maior banco grego, o Eurobank.
Embora o foco das TVs tenha sido, inexoravelmente, os choques e a nuvem de gás, o fato é que a violência partiu de um grupo pequeno, que pouco ou nada tem a ver com os "indignados".
Estes prometem continuar na praça, gritando um de seus slogans favoritos, o "não vamos pagar [a dívida grega]", exatamente o oposto do discurso de Papandreou, que disse que era preciso fazer tudo para evitar o default. (CLÓVIS ROSSI).


Texto Anterior: Brasileiro perde aulas por causa de protestos
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.