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GUERRA SEM LIMITES
Sob críticas, Pentágono desiste de projeto que permitiria a investidor apostar onde e quando ocorreriam ataques
EUA abortam "mercado futuro do terror"
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O Departamento da Defesa dos
Estados Unidos abortou ontem,
em meio a pesadas críticas, a criação, por iniciativa do próprio órgão, de um ""mercado futuro" no
qual apostadores tentariam adivinhar a ocorrência de ataques terroristas ao redor do mundo.
A "bolsa de apostas" permitiria
aos "investidores" lucrar com
previsões sobre a ocorrência de
ataques ou instabilidades políticas no Egito, na Jordânia, no Irã,
no Iraque, na Arábia Saudita, na
Síria, na Turquia e na Coréia do
Norte. Quanto mais corretas as
previsões, mais os apostadores teriam lucros na operação (a exemplo do que ocorre em mercados
futuros de moedas e de petróleo).
O Pentágono reservou US$ 8
milhões para desenvolver o programa e esperava abrir as apostas
para até 10 mil investidores a partir de janeiro de 2004.
O Pentágono esperava que o
mecanismo estimulasse pessoas
com informações sobre possíveis
atentados a fazer apostas no mercado futuro, tornando mais previsíveis as datas e os locais da ocorrência de ações terroristas.
Segundo o Pentágono, o projeto
faria parte de sua busca pelo "conjunto mais amplo possível de novas formas de evitar ataques terroristas".
"Pesquisas indicam que os mercados são extremamente eficientes e capazes de agregar informações dispersas e ocultas. Mercados futuros têm sido mais eficientes do que analistas, por exemplo,
para prever resultados de eleições", dizia um dos comunicados
oficiais do Departamento da Defesa sobre o programa.
Senadores e pré-candidatos do
Partido Democrata, de oposição,
disseram que a "bolsa de apostas
federal para atrocidades", como o
programa passou a ser qualificado, era uma "piada de mau gosto"
e um "incentivo à ocorrência de
ataques terroristas".
Além da reprovação do conceito geral da idéia, seus críticos afirmaram ainda que o fato de o novo
mercado poder ser operado via
internet abriria a possibilidade de
os próprios terroristas apostarem
em datas e locais para atentados e
depois cometerem as ações.
O senador Byron Dorgan (Dakota do Norte), que chamou a
atenção do público para o projeto
anteontem, disse que a idéia era
de "uma estupidez inacreditável".
Diante das críticas, Paul Wolfowitz, subsecretário da Defesa, disse que também estava "chocado"
com o programa e que ele estava
sendo "eliminado".
Até anteontem, as regras e o
mecanismo de funcionamento
estavam no ar em um dos sites do
Pentágono na internet.
Em uma simulação, o site mostrava como contratos futuros reagiriam ao assassinato do líder da
Autoridade Nacional Palestina,
Iasser Arafat, à deposição do rei
Abdullah, da Jordânia, ou à possibilidade de um ataque norte-coreano com mísseis atômicos.
O projeto vinha sendo desenvolvido pela Darpa (sigla em inglês para Agência de Projetos
Avançados da Defesa), do Pentágono, e supervisionado por John
Poindexter, ex-assessor para Segurança Nacional do ex-presidente Ronald Reagan (1981-1989).
O ex-almirante Poindexter também é responsável, desde o ano
passado, por tentar criar uma base de dados nos EUA com registros eletrônicos de milhões de
pessoas em todo o mundo a partir
de informações de agências de
viagens, bancos e hospitais.
O projeto, conhecido como TIA
(Conhecimento de Informação
sobre Terrorismo, na sigla em inglês), tramita no Congresso, onde
tem sofrido oposição até de aliados de Bush, preocupados com a
potencial ameaça à privacidade
de cidadãos americanos.
Wolfowitz defendeu as atividades da Darpa, afirmando que o
órgão "é brilhantemente imaginativo em áreas em que precisamos de boas idéias". "Desta vez,
porém, acho que ele foi imaginativo demais", disse o subsecretário
da Defesa.
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