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São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 2003

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GUERRA SEM LIMITES

Sob críticas, Pentágono desiste de projeto que permitiria a investidor apostar onde e quando ocorreriam ataques

EUA abortam "mercado futuro do terror"

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O Departamento da Defesa dos Estados Unidos abortou ontem, em meio a pesadas críticas, a criação, por iniciativa do próprio órgão, de um ""mercado futuro" no qual apostadores tentariam adivinhar a ocorrência de ataques terroristas ao redor do mundo.
A "bolsa de apostas" permitiria aos "investidores" lucrar com previsões sobre a ocorrência de ataques ou instabilidades políticas no Egito, na Jordânia, no Irã, no Iraque, na Arábia Saudita, na Síria, na Turquia e na Coréia do Norte. Quanto mais corretas as previsões, mais os apostadores teriam lucros na operação (a exemplo do que ocorre em mercados futuros de moedas e de petróleo).
O Pentágono reservou US$ 8 milhões para desenvolver o programa e esperava abrir as apostas para até 10 mil investidores a partir de janeiro de 2004.
O Pentágono esperava que o mecanismo estimulasse pessoas com informações sobre possíveis atentados a fazer apostas no mercado futuro, tornando mais previsíveis as datas e os locais da ocorrência de ações terroristas.
Segundo o Pentágono, o projeto faria parte de sua busca pelo "conjunto mais amplo possível de novas formas de evitar ataques terroristas".
"Pesquisas indicam que os mercados são extremamente eficientes e capazes de agregar informações dispersas e ocultas. Mercados futuros têm sido mais eficientes do que analistas, por exemplo, para prever resultados de eleições", dizia um dos comunicados oficiais do Departamento da Defesa sobre o programa.
Senadores e pré-candidatos do Partido Democrata, de oposição, disseram que a "bolsa de apostas federal para atrocidades", como o programa passou a ser qualificado, era uma "piada de mau gosto" e um "incentivo à ocorrência de ataques terroristas".
Além da reprovação do conceito geral da idéia, seus críticos afirmaram ainda que o fato de o novo mercado poder ser operado via internet abriria a possibilidade de os próprios terroristas apostarem em datas e locais para atentados e depois cometerem as ações.
O senador Byron Dorgan (Dakota do Norte), que chamou a atenção do público para o projeto anteontem, disse que a idéia era de "uma estupidez inacreditável".
Diante das críticas, Paul Wolfowitz, subsecretário da Defesa, disse que também estava "chocado" com o programa e que ele estava sendo "eliminado".
Até anteontem, as regras e o mecanismo de funcionamento estavam no ar em um dos sites do Pentágono na internet.
Em uma simulação, o site mostrava como contratos futuros reagiriam ao assassinato do líder da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, à deposição do rei Abdullah, da Jordânia, ou à possibilidade de um ataque norte-coreano com mísseis atômicos.
O projeto vinha sendo desenvolvido pela Darpa (sigla em inglês para Agência de Projetos Avançados da Defesa), do Pentágono, e supervisionado por John Poindexter, ex-assessor para Segurança Nacional do ex-presidente Ronald Reagan (1981-1989).
O ex-almirante Poindexter também é responsável, desde o ano passado, por tentar criar uma base de dados nos EUA com registros eletrônicos de milhões de pessoas em todo o mundo a partir de informações de agências de viagens, bancos e hospitais.
O projeto, conhecido como TIA (Conhecimento de Informação sobre Terrorismo, na sigla em inglês), tramita no Congresso, onde tem sofrido oposição até de aliados de Bush, preocupados com a potencial ameaça à privacidade de cidadãos americanos.
Wolfowitz defendeu as atividades da Darpa, afirmando que o órgão "é brilhantemente imaginativo em áreas em que precisamos de boas idéias". "Desta vez, porém, acho que ele foi imaginativo demais", disse o subsecretário da Defesa.


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