São Paulo, sexta-feira, 30 de julho de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Em meio à violência, organizadores atrasam conferência em 15 dias temendo baixo comparecimento

Iraque adia escolha de legisladores interinos

DA REDAÇÃO

Os organizadores da Conferência Nacional iraquiana, marcada para este fim de semana, adiaram o evento para o próximo dia 15, temendo um baixo índice de comparecimento. No encontro, do qual devem participar cerca de mil representantes da sociedade iraquiana, serão escolhidos os cem legisladores para a Assembléia Nacional interina, que redigirá a Constituição e supervisionará o governo interino.
Embora os organizadores neguem que a violência no país tenha influenciado a decisão de adiamento, vários delegados manifestaram temor em relação à segurança, que se deteriorou ainda mais com a explosão de um carro-bomba que matou 70 pessoas anteontem em Baquba e com o recrudescimento dos seqüestros.
A decisão gerou a preocupação de que as eleições legislativas planejadas para o início do próximo ano também sejam atrasadas, colocando em risco o processo de transição politica no Iraque, que culminará na eleição de um governo permanente em 2006.
O anúncio do adiamento foi feito após intensas discussões entre os organizadores da conferência, o presidente Ghazi Yawer e o representante da ONU no país, Jamal Benomar. De acordo com vários membros do comitê organizador, a ONU ameaçou retirar seu apoio ao evento caso não ocorresse o adiamento.
Além disso, grupos políticos proeminentes ameaçaram promover um boicote, enquanto líderes tribais em regiões etnicamente minoritárias não conseguiram chegar a um consenso sobre quem enviar à conferência.
"A ONU disse que seria necessário mais tempo", disse Sadeq Moussawi, um dos organizadores. "Eles disseram que a divulgação da conferência era ruim, que 60% dos iraquianos não sabiam o que estava acontecendo, e argumentaram que grupos demais estavam de fora do processo."
Em visita ao Oriente Médio, o secretário de Estado americano, Colin Powell, afirmou acreditar que o atraso não vá afetar as eleições do próximo ano. "A decisão tomada nesta manhã foi que seria mais sábio adiar em duas semanas [a conferência] e fazê-la do modo correto, ter certeza de que a representatividade será adequada e de que a conferência não será manipulada de nenhuma forma", disse. "Foi uma decisão esperta."

Seqüestros
Em um novo episódio da onda de seqüestros que assola o Iraque desde abril e que ganhou força nas duas últimas semanas, um grupo insurgente anunciou ter tomado como reféns quatro jordanianos, exigindo que a transportadora que os emprega interrompesse sua cooperação com as forças americanas que seguem no Iraque. Como tem sido praxe em casos assim, um vídeo mostrando os quatro reféns foi ao ar no canal Dubai Television.
Os homens exibiram documentos de identificação para a câmera, e os seqüestradores leram um comunicado afirmando que "tomarão as medidas adequadas" caso a empresa não encerre seu trabalho com os americanos.
Em outro vídeo, exibido pela TV Al Arabiya, de Dubai, um grupo que mantém três indianos, três quenianos e um egípcio como reféns desde a semana passada ameaçou matar um deles dentro de 24 horas -a contar das 19h de ontem (hora local)- caso suas demandas não fossem cumpridas imediatamente.
O grupo exigira a suspensão das atividades da empresa kuaitiana que emprega os sete estrangeiros e a retirada dos civis de seus países de origem. O prazo para cumprir a ameaça já havia sido estendido duas vezes em 72 horas.
Na gravação, um dos seqüestradores aparece apontando um fuzil para um refém, que usa um macacão laranja semelhante aos usados por outros estrangeiros capturados e que imita o uniforme dos prisioneiros da guerra ao terror dos EUA.
O seqüestrador afirmou que os governos de origem dos civis ignoraram sua ameaça e recriminaram Cairo por negociar a libertação de um diplomata egípcio capturado na semana passada, mas não a do caminhoneiro.
Também ontem, aviões americanos voltaram a bombardear Fallujah, destruindo um prédio. Até o fechamento desta edição, não havia informação sobre baixas. Desde junho, os EUA vêm promovendo ataques aéreos contra a cidade, onde acreditam estar escondido o terrorista jordaniano Abu Musab Zarqawi, suspeito de comandar da maior parte dos atentados do pós-guerra.
O governo iraquiano disse que a polícia prendeu, nas últimas semanas, 270 terroristas, a maioria vinda de países vizinhos.
Uma corte marcial considerou culpado de roubo a mão armada um soldado americano que tomou o carro de um xeque sob a mira de um revólver. O sargento James Williams, 37, pode ser condenado a 15 anos de prisão.


Com agências internacionais

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