São Paulo, domingo, 30 de julho de 2006

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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Hizbollah aceita acordo sob condições

Grupo mantém exigência de libertação de prisioneiros libaneses, que Israel rejeita; Olmert rechaça cessar-fogo temporário

Nasrallah ameaça ampliar alcance de ataques contra israelenses; Rice volta à região para negociações em Jerusalém e Beirute

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BEIRUTE
DA REDAÇÃO

Representantes do Hizbollah e membros do gabinete libanês chegaram a um acordo em torno de uma proposta de cessar-fogo, mas as reservas expressadas pelo grupo xiita devem torná-lo pouco produtivo para terminar a escalada de violência que já dura 18 dias. Israel rejeitou ontem um pedido da ONU para declarar uma trégua de três dias, destinada a permitir a entrega de ajuda humanitária.
A proposta do governo libanês para pôr fim ao conflito, aceita na sexta à noite em Beirute pelo Hizbollah, inclui a declaração de um cessar-fogo imediato e a libertação prisioneiros libaneses em poder de Israel em troca dos dois soldados seqüestrados pelo grupo xiita no último dia 12, quando começou a crise. O plano não deve estancar a ofensiva, já que Israel exige a libertação incondicional dos soldados para suspender os ataques.
O plano do governo libanês também inclui o retorno dos deslocados pela guerra a suas casas, negociações entre Israel e o Líbano sobre as disputadas fazendas de Shebaa e o envio de forças multinacionais no lado libanês da fronteira.
Esse último item também foi motivo de reserva do Hizbollah, que não aceita uma força maciça de tropas internacionais na região, como pede Israel. O grupo xiita, embora não admita abertamente desarmar-se, insinua que deixaria de operar no sul do Líbano ao admitir a presença do Exército libanês com as tropas internacionais.
Enquanto a diplomacia não produz resultados, a violência continua. Um ataque aéreo israelense matou ontem uma mulher e cinco crianças na cidade de Nmeiriya, no sul do país, segundo fontes médicas libanesas. Nove corpos foram encontrados na estrada Maarub-Dardghia, perto da cidade de Tiro, informou Salam Daher, da Defesa Civil libanesa. O Exército israelense informou que fez ontem 60 ataques aéreos contra alvos do Hizbollah.
Depois de foguetes do grupo xiita terem atingido na sexta a cidade israelense de Afula, o alvo mais ao sul até agora, o xeque Hassan Nasrallah, líder do Hizbollah prometeu em um pronunciamento na TV que novos alvos no centro de Israel serão atingidos. Até o fechamento desta edição, 39 foguetes do Hizbollah tinha atingido ontem Israel, nas cidade de Acre, Tiberíades, Nahariya e Tzfat. Cinco pessoas ficaram feridas.
As tropas israelenses se retiraram ontem da cidade libanesa de Bint Jbeil, perto da fronteira entre os dois países, que havia sido cercado no início da semana. Foi em Bin Jbeil, localizada a quatro quilômetros da fronteira, que Israel sofreu as maiores baixas até agora nos combates com o Hizbollah, perdendo oito de seus soldados na quarta-feira.
"Não há mais soldados em Bint Jbeil, mas é possível que eles voltem para ações pontuais", disse um porta-voz do Exército israelense. Segundo um oficial israelense ouvido pela rádio Israel, a ofensiva em Bint Jbeil foi planejada para durar apenas três dias.

Sem cessar-fogo
O governo israelense rejeitou ontem o pedido de cessar-fogo temporário da ONU. "Não há necessidade, porque Israel abriu um corredor humanitário", disse o porta-voz Avi Pazner. Ele afirmou que o país não está bloqueando a ajuda humanitária na região do conflito e acusou o Hizbollah. "São eles que deliberadamente estão barrando a transferência de ajuda médica e comida para criar uma crise humanitária e culpar Israel."
Agências humanitárias internacionais dizem que Israel não garante uma passagem segura para os civis das áreas atacadas.
Nos EUA, o presidente George W. Bush, voltou a afirmar, em seu programa semanal de rádio, que a ofensiva no Líbano é "parte de uma luta mais ampla entre a liberdade e o terror" e que, para acabar com a violência, é preciso acabar com a "ameaça representada pelo Hizbollah".
Para discutir o envio de uma força multinacional à região, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, voltou ontem a Jerusalém, onde se encontraria com o primeiro-ministro Ehud Olmert.
O ministro de Relações Exteriores da Itália, Massimo D'Alema, vai a Israel com o mesmo propósito. Rice pretende conversar, na seqüência, com o premiê libanês, Fouad Siniora, em Beirute.


Com agências internacionais


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