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Acostumado, israelense assiste a ataques
MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA.
DE MARGALIOT (ISRAEL)
"Daqui a pouco vocês vão ouvir explosões que vão balançar
seus ovos", diz Tomer Milshtok. "No início assusta, mas depois você se acostuma", diz o israelense, que realizou o sonho
de muitos jovens e trocou o ritmo urbano de Tel Aviv pelas
montanhas do norte de Israel.
Há três anos morando em
Margaliot, na região chamada
"Dedo da Galiléia", Tomer é
uma das poucas pessoas que ficaram no local depois do início
do conflito, mesmo com a chuva de foguetes Katyusha e o barulho da artilharia e dos caças
disparando contra o sul do Líbano. Das mil pessoas que moram em Margaliot, sobraram
cerca de 20. "Eu simplesmente
não tenho medo. Me acostumei
ao barulho das bombas. O único problema é dormir com as
explosões", diz.
Da varanda, ele mostra as cidades de Kriat Shmone e Metula. Em frente, depois do vale
quadriculado por campos agrícolas, estão as colinas do Golã e
as fronteiras entre Israel, Líbano e Síria.
O alto-falante começa a
anunciar que "todos os moradores devem descer para os
abrigos", no momento em que
Tomer enche o copo de refrigerante e senta-se para ver o sorteio das chaves da Copa dos
Campeões da Europa. Em seguida, começa o barulho das
bombas. As janelas e as paredes
tremem a cada disparo de artilharia. Os Katyusha caem nos
arredores. Os cachorros se escondem embaixo da mesa.
"É assim o dia inteiro. O tempo todo eles mandam descer
para o abrigo. Quando caem
Katyusha perto de verdade, dá
para sentir. Eles [o Hizbollah]
estão mirando em Kriat Shmone, só acertam aqui por erro",
diz Tomer.
Nos primeiros dias ele desceu para o abrigo público, a dez
metros de sua casa. O bunker
tem ar-condicionado e televisão com ligação pirata de canais
por cabo. O barulho de bombas
começa a ficar mais perto. A reportagem desce para o bunker,
mas Tomer continua em casa.
Cinco minutos depois, ele
desce e diz: "Realmente é perda
de tempo ficar aqui embaixo.
Agora são só tiros nossos. O
som da artilharia é mais grave,
os Katyusha são mais estridentes. Não podemos depender do
alerta, porque eles só avisam
para descer, mas não dizem
quando é permitido subir", explica.
Tomer passa os dias acompanhando as notícias da guerra
pela internet, vendo filmes e
programas esportivos na televisão. Faz compras no único
supermercado que está aberto
na região, em Kriat Shmone, a
meia hora de viagem, no sopé
da montanha onde fica Margaliot -a cem metros do Líbano.
O mercado da comunidade
continua aberto para compras
de emergência. O dono só aceita dinheiro vivo, para ter liquidez. Os caixas automáticos de
Kriat Shmone estão sem dinheiro na maior parte do tempo. Tomer conta que está gastando as economias da venda
de seu restaurante. Ele recebe
também o aluguel de uma quitinete da qual é dono em Tel
Aviv.
As explosões voltam. Ele busca canais de notícias na TV,
mas não há informações sobre
Katyusha em Margaliot. "A
guerra vai longe, acho que o
Exército precisa fazer o que
tem de ser feito."
A conversa entra em política
de Israel, Oriente Médio e música. O barulho das explosões
continua. "Não disse que com o
tempo se acostuma com as
bombas?"
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