São Paulo, domingo, 30 de julho de 2006

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Acostumado, israelense assiste a ataques

MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA.
DE MARGALIOT (ISRAEL)

"Daqui a pouco vocês vão ouvir explosões que vão balançar seus ovos", diz Tomer Milshtok. "No início assusta, mas depois você se acostuma", diz o israelense, que realizou o sonho de muitos jovens e trocou o ritmo urbano de Tel Aviv pelas montanhas do norte de Israel.
Há três anos morando em Margaliot, na região chamada "Dedo da Galiléia", Tomer é uma das poucas pessoas que ficaram no local depois do início do conflito, mesmo com a chuva de foguetes Katyusha e o barulho da artilharia e dos caças disparando contra o sul do Líbano. Das mil pessoas que moram em Margaliot, sobraram cerca de 20. "Eu simplesmente não tenho medo. Me acostumei ao barulho das bombas. O único problema é dormir com as explosões", diz.
Da varanda, ele mostra as cidades de Kriat Shmone e Metula. Em frente, depois do vale quadriculado por campos agrícolas, estão as colinas do Golã e as fronteiras entre Israel, Líbano e Síria.
O alto-falante começa a anunciar que "todos os moradores devem descer para os abrigos", no momento em que Tomer enche o copo de refrigerante e senta-se para ver o sorteio das chaves da Copa dos Campeões da Europa. Em seguida, começa o barulho das bombas. As janelas e as paredes tremem a cada disparo de artilharia. Os Katyusha caem nos arredores. Os cachorros se escondem embaixo da mesa.
"É assim o dia inteiro. O tempo todo eles mandam descer para o abrigo. Quando caem Katyusha perto de verdade, dá para sentir. Eles [o Hizbollah] estão mirando em Kriat Shmone, só acertam aqui por erro", diz Tomer.
Nos primeiros dias ele desceu para o abrigo público, a dez metros de sua casa. O bunker tem ar-condicionado e televisão com ligação pirata de canais por cabo. O barulho de bombas começa a ficar mais perto. A reportagem desce para o bunker, mas Tomer continua em casa.
Cinco minutos depois, ele desce e diz: "Realmente é perda de tempo ficar aqui embaixo. Agora são só tiros nossos. O som da artilharia é mais grave, os Katyusha são mais estridentes. Não podemos depender do alerta, porque eles só avisam para descer, mas não dizem quando é permitido subir", explica.
Tomer passa os dias acompanhando as notícias da guerra pela internet, vendo filmes e programas esportivos na televisão. Faz compras no único supermercado que está aberto na região, em Kriat Shmone, a meia hora de viagem, no sopé da montanha onde fica Margaliot -a cem metros do Líbano.
O mercado da comunidade continua aberto para compras de emergência. O dono só aceita dinheiro vivo, para ter liquidez. Os caixas automáticos de Kriat Shmone estão sem dinheiro na maior parte do tempo. Tomer conta que está gastando as economias da venda de seu restaurante. Ele recebe também o aluguel de uma quitinete da qual é dono em Tel Aviv.
As explosões voltam. Ele busca canais de notícias na TV, mas não há informações sobre Katyusha em Margaliot. "A guerra vai longe, acho que o Exército precisa fazer o que tem de ser feito."
A conversa entra em política de Israel, Oriente Médio e música. O barulho das explosões continua. "Não disse que com o tempo se acostuma com as bombas?"


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