São Paulo, domingo, 30 de julho de 2006

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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Game tenta resolver conflito no Oriente Médio pela paz

"O Pacificador", criado por dois estudantes nos EUA, tem como "personagens" o premiê de Israel e o presidente da ANP

Por suas ações, jogadores podem ser classificados de "criminoso de guerra" a "ministro medíocre" ou até "Prêmio Nobel da Paz"

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Asi Burak sabe como resolver o conflito no Oriente Médio -não este conflito, mas "o" conflito, inteiro, para sempre. A começar pela questão principal, israelenses e palestinos querendo o mesmo pedaço de terra. Na semana passada, ele começou a remover os assentamentos restantes de colonos judeus em Gaza. Achou que o gesto de boa vontade em relação ao Hamas poderia ajudar indiretamente o entendimento no norte, contra o Hizbollah.
Estava tudo indo bem. Até que houve um atentado em Tel Aviv. Um homem-bomba se explodiu, matando com ele dezenas de civis que jantavam num café. Asi Burak teve de interromper seu gesto de boa vontade. Em vez disso, num piscar de olhos, moveu centenas de soldados para a fronteira, e houve troca de tiros. Até que ele teve de dormir. Apertou a tecla "off", e tudo ficou em paz.
O cenário acima é inventado. Tudo faz parte de "The Peacemaker" ("O Pacificador"), um videogame criado por Burak, 34, americano de origem israelense que já foi oficial de inteligência em Tel Aviv, e seu colega Eric Brown, 29, ambos recém-formados na universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh.
No game educativo, como explicou Burak em troca de e-mails com a Folha nos últimos dias, dois jogadores assumem o papel respectivamente de premiê de Israel e presidente da Autoridade Nacional Palestina. A missão é simples: conseguir a paz. Para tanto, cada jogador poderá ter 17 tipos diferentes de ações, divididas nas categorias "segurança", "política" e "estratégia", de iguais pesos, contando para isso com oito personagens diferentes.
Elas incluem falar com autoridades estrangeiras, pedir auxílio aos EUA, calcular a repercussão de cada "evento negativo" (como um homem-bomba ou um ataque de militares a civis). Já ouviu isso em algum lugar? Burak também. Foi do eterno conflito da região que ele tirou a inspiração, auxiliado pela professora de história Laurie Eisenberg, consultora de conteúdo.
Há pontuação e níveis. O equilíbrio é zero, "ministro medíocre", o máximo é 100, "Prêmio Nobel da Paz", e o mínimo, -100, "criminoso de guerra". Ações militares não necessariamente custam pontos obtidos, a não ser que elas façam o jogador regredir em seu plano de ação rumo à paz. Como pano de fundo, fotos e cenas reais da região se sobrepõem a um mapa atualizado diariamente de Israel e seus vizinhos.
Várias versões experimentais estão espalhadas pelos EUA com amigos dos criadores, estudiosos de jogos, judeus e árabes. Já fazem parte do currículo dos cursos "Relações Árabe-Americanas", ensinado simultaneamente na Carnegie e no Qatar, "A Condição Árabe-Israelense", só da Carnegie, e "Sendo um Pacificador", da Escola de Ensino Médio Cyber, na Pensilvânia. Em poucas semanas, uma versão aberta a todo o mundo será colocada no site www.peacemakergame. com para download.
Como nada é de graça, nem a paz, o download de "O Pacificador" será cobrado. O preço ainda não foi definido pelos dois amigos, mas uma versão gratuita será distribuída a entidades.


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