|
Próximo Texto | Índice
Premiê do Japão promete ficar após derrota histórica
Coalizão do conservador Shinzo Abe, há dez meses no cargo, perde quase 30 vagas no Senado; oposição quer eleições gerais
Com governo marcado por
escândalos, Abe assumiu
responsabilidade por mau resultado; Fujimori não consegue ser eleito senador
DA REDAÇÃO
Como esperado, a coalizão
governista no Japão sofreu
uma derrota histórica nas eleições legislativas de ontem, que
renovaram metade das 242 cadeiras do Senado. Ainda assim,
o premiê Shinzo Abe disse que
seguirá no cargo para "fazer as
reformas e continuar a construir um belo país".
Com três das 121 cadeiras em
jogo ainda indefinidas, o Partido Liberal Democrático (PLD),
de Abe, havia conseguido eleger
apenas 36 senadores. Seu aliado, o partido budista Novo Komeito, 8. Enquanto isso, o Partido Democrático do Japão,
centrista e de oposição, havia
arrebanhado 59 cadeiras.
O resultado tira da coalização
governista, conservadora, a
maioria no Senado, a Casa menos poderosa do sistema japonês. O governo deve ficar com,
no máximo, 104 dos 242 senadores -antes, tinha 132. Já a
oposição ampliou seu espaço
-foi de 83 para 111.
Analistas concordam que o
recuo do Partido Liberal Democrático, um dos piores desempenhos na história da sigla
criada em 1955 e desde então
no poder, foi um voto de protesto contra o governo de Abe,
formado há dez meses.
Além de uma série de escândalos no gabinete -incluindo o
suicídio de um ministro acusado de corrupção, em maio-, foi
determinante para o resultado
a crise pelo sumiço de depósitos do sistema previdenciário,
iniciada em maio.
A derrota, porém, não significa a renúncia automática do
premiê -esta prerrogativa é da
Câmara, onde o governo ainda
tem maioria. Mas cresce a pressão sobre Abe, que exibe só
26% de aprovação popular.
Ontem, apesar trazer para si
a responsabilidade pelo fracasso nas urnas, o premiê afirmou
que continuará no cargo. "Devo
levar adiante as reformas e continuar cumprindo minhas responsabilidades como primeiro-ministro", disse. "Foi um resultado muito ruim. Nós precisamos refletir sobre essa derrota.
Como líder do Liberal Democrático, sou responsável."
Mas os líderes da oposição
começaram ontem mesmo
uma campanha para que Abe
dissolva o governo agora e convoque eleições gerais. Em defesa do argumento, lembraram
que Ryutaro Hashimoto, então
premiê em 1998, deixou o cargo
quando o PLD só conseguiu 44
cadeiras no Senado, resultado
considerado vergonhoso.
"O povo claramente deu uma
resposta ao governo. A credibilidade de Abe como líder foi
completamente contestada",
diz Jiro Yamaguchi, professor
da universidade de Hokkaido .
"A real crise para o PLD é que
não há ninguém no partido que
poderia pedir a renúncia do
premiê e dizer: "Eu vou fazer isso'", completa Yamaguchi.
Agenda legislativa
Mesmo se Abe resistir às
pressões, analistas dizem que a
oposição forte no Senado terá
como pôr à prova a agenda legislativa do governo que pretende, entre outros pontos, aumentar o conteúdo patriótico
nas escolas, elevar o status militar do Japão e promover um referendo para revisar a Constituição pacifista do pós-guerra.
Os mesmos analistas também lembram que a agenda do
governo, representada pelo slogan "Um belo país", não encontra eco no eleitorado, que, apesar do crescimento econômico,
está insatisfeito com o nível de
impostos e qualidade do serviço público, por exemplo.
"O premiê tem projetos como revisar a Constituição, mas
os democratas têm dito que o
dia-a-dia dos japoneses vem
primeiro", disse Hirofumi Nemoto, 48, jornaleiro na cidade
de Chiba, que declarou seu voto
na oposição.
Fujimori
Outro derrotado na eleição
de ontem foi o ex-presidente do
Peru Alberto Fujimori (1990-2000). Com cidadania peruana
e japonesa, ele concorria ao Senado por um partido nanico de
direita. Em prisão domiciliar
no Chile, esperava que a vitória
o ajudasse a evitar sua extradição para Lima, requerida pelo
governo peruano e ainda sem
decisão definitiva.
Com agências internacionais
e "Financial Times"
Próximo Texto: Para Brown, mundo está em dívida com os EUA Índice
|