São Paulo, segunda-feira, 30 de julho de 2007

Próximo Texto | Índice

Premiê do Japão promete ficar após derrota histórica

Coalizão do conservador Shinzo Abe, há dez meses no cargo, perde quase 30 vagas no Senado; oposição quer eleições gerais

Com governo marcado por escândalos, Abe assumiu responsabilidade por mau resultado; Fujimori não consegue ser eleito senador

DA REDAÇÃO

Como esperado, a coalizão governista no Japão sofreu uma derrota histórica nas eleições legislativas de ontem, que renovaram metade das 242 cadeiras do Senado. Ainda assim, o premiê Shinzo Abe disse que seguirá no cargo para "fazer as reformas e continuar a construir um belo país".
Com três das 121 cadeiras em jogo ainda indefinidas, o Partido Liberal Democrático (PLD), de Abe, havia conseguido eleger apenas 36 senadores. Seu aliado, o partido budista Novo Komeito, 8. Enquanto isso, o Partido Democrático do Japão, centrista e de oposição, havia arrebanhado 59 cadeiras.
O resultado tira da coalização governista, conservadora, a maioria no Senado, a Casa menos poderosa do sistema japonês. O governo deve ficar com, no máximo, 104 dos 242 senadores -antes, tinha 132. Já a oposição ampliou seu espaço -foi de 83 para 111.
Analistas concordam que o recuo do Partido Liberal Democrático, um dos piores desempenhos na história da sigla criada em 1955 e desde então no poder, foi um voto de protesto contra o governo de Abe, formado há dez meses.
Além de uma série de escândalos no gabinete -incluindo o suicídio de um ministro acusado de corrupção, em maio-, foi determinante para o resultado a crise pelo sumiço de depósitos do sistema previdenciário, iniciada em maio.
A derrota, porém, não significa a renúncia automática do premiê -esta prerrogativa é da Câmara, onde o governo ainda tem maioria. Mas cresce a pressão sobre Abe, que exibe só 26% de aprovação popular.
Ontem, apesar trazer para si a responsabilidade pelo fracasso nas urnas, o premiê afirmou que continuará no cargo. "Devo levar adiante as reformas e continuar cumprindo minhas responsabilidades como primeiro-ministro", disse. "Foi um resultado muito ruim. Nós precisamos refletir sobre essa derrota. Como líder do Liberal Democrático, sou responsável."
Mas os líderes da oposição começaram ontem mesmo uma campanha para que Abe dissolva o governo agora e convoque eleições gerais. Em defesa do argumento, lembraram que Ryutaro Hashimoto, então premiê em 1998, deixou o cargo quando o PLD só conseguiu 44 cadeiras no Senado, resultado considerado vergonhoso.
"O povo claramente deu uma resposta ao governo. A credibilidade de Abe como líder foi completamente contestada", diz Jiro Yamaguchi, professor da universidade de Hokkaido . "A real crise para o PLD é que não há ninguém no partido que poderia pedir a renúncia do premiê e dizer: "Eu vou fazer isso'", completa Yamaguchi.

Agenda legislativa
Mesmo se Abe resistir às pressões, analistas dizem que a oposição forte no Senado terá como pôr à prova a agenda legislativa do governo que pretende, entre outros pontos, aumentar o conteúdo patriótico nas escolas, elevar o status militar do Japão e promover um referendo para revisar a Constituição pacifista do pós-guerra.
Os mesmos analistas também lembram que a agenda do governo, representada pelo slogan "Um belo país", não encontra eco no eleitorado, que, apesar do crescimento econômico, está insatisfeito com o nível de impostos e qualidade do serviço público, por exemplo.
"O premiê tem projetos como revisar a Constituição, mas os democratas têm dito que o dia-a-dia dos japoneses vem primeiro", disse Hirofumi Nemoto, 48, jornaleiro na cidade de Chiba, que declarou seu voto na oposição.

Fujimori
Outro derrotado na eleição de ontem foi o ex-presidente do Peru Alberto Fujimori (1990-2000). Com cidadania peruana e japonesa, ele concorria ao Senado por um partido nanico de direita. Em prisão domiciliar no Chile, esperava que a vitória o ajudasse a evitar sua extradição para Lima, requerida pelo governo peruano e ainda sem decisão definitiva.


Com agências internacionais e "Financial Times"


Próximo Texto: Para Brown, mundo está em dívida com os EUA
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.