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ARGENTINA
Tribunal estudará anulação de duas leis que protegem policiais e militares acusados por crimes durante a ditadura
Procurador pede à Corte Suprema que invalide anistia
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
O procurador-geral da Argentina, Nicolás Becerra, concedeu ontem parecer favorável para a anulação de duas leis de anistia que
dificultam a punição de militares
e policiais por crimes contra os direitos humanos cometidos na última ditadura (1976-1983).
Segundo o Centro de Estudos
Legais e Sociais (CELS), autor de
uma ação que motivou o parecer
de Becerra, o procurador pede à
Corte Suprema de Justiça a anulação das leis do Ponto Final e de
Obediência Devida, aprovadas
durante o governo do ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-1989).
A Lei do Ponto Final, decretada
em 1986, determinou que, a partir
daquela data, não poderiam ser
abertos novos processos contra os
militares por crimes cometidos
durante a ditadura. Já a Lei de
Obediência Devida, aprovada em
1987, anistiou todos os militares
de baixo escalão que teriam atuado na repressão ilegal a mando de
oficiais superiores.
Uma decisão favorável da Corte
Suprema abriria um precedente
para que outros juízes de instâncias inferiores processem mais facilmente centenas de militares
que teriam sido responsáveis pelo
desaparecimento de pelo menos
15 mil pessoas no período.
Esse é o caso, por exemplo, do
ex-presidente Leopoldo Fortunato Galtieri (1981-1982), que está
detido em prisão domiciliar por
ordem do juiz federal Claudio Bonadio. Galtieri é acusado de ser
co-responsável pelo sequestro e
assassinato de 18 integrantes do
grupo Montenores, uma guerrilha de esquerda ligada ao Partido
Justicialista (peronista) que atuou
durante o período da ditadura.
A decisão do governo dos EUA
de divulgar, na semana passada,
mais de 4.600 documentos secretos da diplomacia americana do
período da ditadura pode trazer
novas provas aos processos em
andamento e complicar a situação dos envolvidos na repressão.
Anistia
As leis do Ponto Final e de Obediência Devida foram estabelecidas por Alfonsín para reduzir as
pressões das Forças Armadas.
Descontentes com a prisão de vários oficiais até 1985, os militares
começaram a promover uma série de rebeliões que colocaram em
risco o governo de Alfonsín.
Nas próximas semanas, a Corte
Suprema analisará o processo sobre o desaparecimento do chileno
José Poblete e sua mulher argentina Gertrudis Hlaczik, sequestrados em 1978 juntamente com a filha Claudia, de oito meses.
O casal era membro de uma organização ligada ao peronismo
-na época, considerado um partido de esquerda- que promovia
campanhas de auxílio a deficientes físicos. Eles permaneceram
presos em um centro de torturas,
em Buenos Aires.
De acordo com o Centro de Estudos Legais e Sociais, autor da
ação, os ex-policiais Julio Simón e
Juan Antonio del Cerro teriam sido responsáveis pelo posterior
desaparecimento do casal.
Em primeira instância, o juiz federal Gabriel Cavallo já havia decretado, em março de 2001, a inconstitucionalidade das leis de
Ponto Final e Obediência Devida
para processar os dois ex-policiais. Em novembro, a sentença
foi confirmada em segunda instância pela Câmara Federal e, agora, será analisada pela primeira vez pela Corte Suprema.
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