São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

QUESTÃO RACIAL

Aumento nos últimos 20 anos atinge o ponto em que há mais negros nas cadeias que nas universidades

Total de negros presos nos EUA quintuplica

FOX BUTTERFIELD
DO "THE NEW YORK TIMES"

O número de homens negros presos nos EUA quintuplicou nos últimos 20 anos, chegando ao ponto em que mais negros estão atrás das grades do que matriculados em universidades, segundo um estudo divulgado anteontem.
O aumento na população carcerária masculina negra coincide com o boom da construção de prisões que começou em 1980. Naquela época, um número três vezes maior de negros estava matriculado em instituições de ensino superior do que atrás das grades, afirma o estudo.
O relatório foi preparado pelo Instituto de Política Judiciária, uma ONG com sede em Washington que defende alternativas ao encarceramento.
Segundo o estudo, havia 791.600 homens negros presos em 2000 e 603.032 matriculados em universidades. Em comparação, afirma o estudo, em 1980 havia 143.000 homens negros presos, mas 463.700 matriculados em universidades.
Alguns especialistas em justiça penal afirmam que a comparação pode ser enganadora, pois o número de presos inclui todos os homens negros de 17 anos ou mais, enquanto o número de negros em instituições de ensino superior limita-se a uma faixa etária bem mais estreita.
Mas Todd Clear, professor da Faculdade John Jay de Justiça Penal em Manhattan, afirma que, mesmo assim, os resultados do pesquisa são significativos e "demonstram que políticas públicas têm enfatizado em demasia o investimento na justiça penal em vez do investimento na educação da população".
Segundo Clear, o estudo "mostra que as chances de um menino negro ir para a prisão hoje são maiores do que as chances de ele entrar na universidade, e não foi sempre assim".
O estudo não explica porque o número de negros presos subiu tanto. Segundo alguns especialistas, uma possibilidade seria o fato de que aumentou o número de homens negros condenados por crimes relacionados às drogas.
Mas números do Departamento de Justiça mostram que, de 1990 a 2000, 50% do crescimento em populações carcerárias em prisões estatais deveu-se a crimes violentos e apenas 20% a crimes relacionados a drogas.
Durante o boom na construção de prisões nas últimas duas décadas, o número total de americanos presos quadruplicou, passando de 502 mil em 1980 para 2,1 milhões em 2000. No mesmo período, o número total de americanos em universidades subiu 22%, de 12,1 milhões para 14,8 milhões.
Hilary O. Shelton, diretora do escritório em Washington da Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor, disse: "É realmente uma triste declaração sobre o nosso país o fato de que parece ser mais fácil para os governos investir preciosos recursos públicos no encarceramento de homens afro-americanos do que investir na educação superior".
Vincent Schiraldi, presidente do Instituto de Política Judiciária, observou que o número de homens negros presos cresceu três vezes mais rápido do que o de homens negros em universidades entre 1980 e 2000.

Mais ricos
Segundo um estudo divulgado ontem, a riqueza de negros americanos mais do que triplicou entre 1989 e 1998.
A Federação de Consumidores da América encomendou uma pesquisa à Universidade de Ohio, que, com base em dados do Federal Reserve (o banco central dos EUA), concluiu que a riqueza doméstica média dos negros cresceu 321% no período, de US$ 3.680 em 1989 para US$ 15.500 em 1998.
A quantia, contudo equivale a menos de um quarto dos US$ 71.700 acumulados pela família americana média.
Segundo a agência do governo responsável pelo censo americano, a renda anual média de lares formados por negros subiu de US$ 18.083 em 1989 para US$ 25.351 em 1998. As quantias foram ajustadas de acordo com a inflação.


Texto Anterior: Argentina: Procurador pede à Corte Suprema que invalide anistia
Próximo Texto: História: Submarino lança dúvida sobre Pearl Harbor
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.