São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

Em meio a protestos, facções trocam acusações sobre ataques; número de jornalistas mortos supera o do Vietnã

Aumentam tensões entre xiitas e sunitas

DA REDAÇÃO

Sunitas e xiitas trocaram acusações ontem a respeito da violência sectária no Iraque, num cenário em que protestos contra a nova Constituição continuam a eclodir. Na véspera, o governo dominado por xiitas e curdos aprovou uma contestada versão preliminar da Carta e anunciou que a levará a consulta popular em outubro, ignorando críticas sunitas e eliminando a necessidade de aprovação pela Assembléia Nacional.
Em Tikrit, cidade dominada pelos sunitas e onde cresceu Saddam Hussein, cerca de 2.000 pessoas promoveram um protesto pacífico contra a Constituição.
Líderes xiitas e curdos alegam que cederam em todos os pontos possíveis, mas o negociador sunita Saleh al Mutlaq chamou o texto de "ilegal" e pediu que o Parlamento fosse dissolvido porque os legisladores perderam o prazo para votar a Carta, no último dia 22.
Os principais atritos giram em torno dos obstáculos criados para o partido Baath (sunita) e o federalismo -xiitas e curdos querem autonomia nas regiões que dominam, o sul e o norte, mas, como essas áreas concentram o petróleo, os sunitas temem perder acesso à maior riqueza do país.
Nos EUA, o presidente George W. Bush se disse "muito otimista" com o futuro do Iraque. "Nem todos estão de acordo [com a Constituição], mas ao menos agora o povo iraquiano pode decidir", declarou. A Carta precisa ser aprovada por 16 das 18 Províncias no referendo de 15 de outubro. Os sunitas dominam três delas.
O processo constitucional tem alimentado as tensões sectárias. O Partido Islâmico do Iraque, maior entidade sunita do país, acusou forças xiitas de matarem 36 sunitas e abandonarem seus corpos perto da fronteira com o Irã. Por sua vez, o Conselho Supremo para a Revolução Islâmica no Iraque acusou pistoleiros sunitas de matarem sete agricultores xiitas na aldeia de Sayafiyah, no centro.
Sem dar detalhes, a polícia anunciou ter achado 13 corpos em três cidades do oeste do país.

Jornalistas mortos
A organização Repórteres Sem Fronteiras, com sede na França, anunciou domingo que 66 jornalistas foram mortos no Iraque em 29 meses de guerra. O número supera o de jornalistas mortos em 20 anos de conflito no Vietnã, onde 63 profissionais perderam a vida.
Ontem, a Federação Internacional de Jornalistas exortou a ONU a investigar as 18 mortes causadas pelas forças americanas.


Com agências internacionais

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