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ANÁLISE
EUA já reduzem expectativas sobre o Iraque
STEVEN R. WEISMAN
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON
Enquanto a nova Constituição
iraquiana era submetida à Assembléia Nacional, sob boicote sunita,
o presidente Bush elogiava a Carta, descrevendo-a como marco na
transição para a democracia e na
luta contra a insurgência.
Entretanto, no clima de confusão que se evidencia em Bagdá,
com os sunitas e mesmo alguns
setores xiitas prometendo derrotar a Constituição e outros, irados,
prevendo um aumento na violência contrária ao governo, as afirmações do presidente parecem
querer dar a impressão de que a
situação não é tão ruim quanto é.
Vários integrantes do governo
reconheceram sentir profunda
frustração pelo fato de seus esforços não terem resultado em um
documento capaz não apenas de
defender os direitos humanos,
mas também de trazer para dentro do processo político um enorme setor insatisfeito, como os
EUA esperavam.
Reduzindo suas expectativas,
funcionários do governo Bush
disseram anteontem que seu objetivo agora é manter o processo
político vivo, mesmo que a Constituição seja rejeitada em outubro,
e, com isso, impedir que os sunitas insatisfeitos ajudem a gerar
ainda mais violência.
Não faz muito tempo que Washington hesitava em ser visto como interferente na política interna iraquiana. Na quinta-feira, porém, num esforço de último momento para conseguir um acordo
que satisfizesse a todos os setores,
Bush telefonou a xiitas para pedir
que eles se mostrassem mais
aberto aos interesses sunitas. A
tentativa fracassou.
O momento em que aconteceu
o revés com a Constituição foi especialmente duro para Bush, após
um verão no qual as mortes contínuas de soldados americanos
provocaram uma queda grande
de sua popularidade.
Além disso, o Congresso está retomando suas críticas à estratégia
de guerra. E, o que é menos evidente, o governo enfrenta os receios dos árabes em relação ao
caos no Iraque e o que eles vêem
dizem ser a influência iraniana sobre os partidos xiitas iraquianos.
Alguns especialistas disseram
que os líderes sunitas atraídos para o processo, por exemplo, não
tinham a força necessária para fechar acordos com as lideranças
xiitas e curdas, ou que, possivelmente, tenham se sentido intimidados, depois de vários líderes sunitas de destaque terem sido mortos recentemente por cumplicidade com o governo.
"Com algumas exceções, os
convocados não eram as maiores
lideranças", disse Noah Feldman,
professor de direito na Universidade de Nova York que já atuou
como consultor da ocupação.
"Eles tentaram usar de manipulação política, mas agora precisam
colocar suas cartas na mesa. Ao
aplicar os prazos que estabeleceu,
o governo demonstrou que estava
disposto a excluir os sunitas."
Outros analistas disseram que a
administração Bush calculou mal
a força da reivindicação xiita de
um super-Estado no sul do país,
composto de cinco Províncias. Os
americanos procuravam convencer os curdos a não exigir uma região autônoma no norte do Iraque. Eles ficaram sem saber como
reagir quando os xiitas deixaram
de se opor à autonomia dos curdos, e, em lugar disso, se uniram a
eles, pedindo um Iraque descentralizado.
No final de semana, Bush pediu
paciência. "Nossa própria Constituição não foi recebida com unanimidade", disse ele. O que ele
deixou de fora da analogia foi que,
no momento em que a Convenção Constitucional de Filadélfia se
reuniu nos EUA, não estava acontecendo no país uma insurgência
que crescia em razão da insatisfação com o processo político.
Tradução de Clara Allain
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