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Musharraf e Benazir fecham acordo para dividir poder
Pacto viabilizaria volta de ex-líder opositora ao cargo de premiê do Paquistão; condição é que ditador deixe a farda
Única figura de peso que sobrou na oposição, premiê deposto Sharif torna-se o principal adversário nas eleições, ainda sem data
DA REDAÇÃO
Benazir Bhutto, ex-premiê
do Paquistão e líder do PPP
(Partido do Povo Paquistanês),
anunciou ter chegado a um
acordo com o ditador Pervez
Musharraf sobre os principais
pontos de uma provável aliança. O pacto de divisão de poder,
que pode salvar os planos de
reeleição do general, é discutido há pelo menos três meses.
Bhutto, que vive em Londres
desde que foi condenada por
corrupção em 1999 -pouco antes de Musharraf tomar o poder-, disse que irá disputar as
eleições parlamentares e que,
pelo acordo, o ditador deixará o
comando das Forças Armadas
-ela não informou quando.
O ministro Rashid Ahmed,
aliado de Musharraf, confirmou que o último encontro entre os dois estabeleceu um consenso sobre a questão. Como a
Constituição proíbe militares
de ocuparem cargos políticos, a
medida é necessária na busca
por legitimidade.
Com o anúncio da volta de
Nawaz Sharif, principal nome
da oposição paquistanesa, definições sobre o futuro do pacto
tornaram-se urgentes. Na última quinta (23), a Suprema Corte julgou inválido o acordo de
exílio assinado por Sharif depois do golpe militar, possibilitando seu retorno ao país. A decisão foi comemorada pelo ex-premiê, que diz que derrotará
Musharraf nas urnas.
Por meio da agência de notícias estatal, Musharraf fez apelos públicos para que Sharif "tivesse caráter" e respeitasse o
acordo, no qual ficou estabelecido que o ex-premiê, condenado à prisão perpétua por traição sob o regime que o depôs,
deixaria o país por dez anos para evitar ser preso.
Oposição partida
Sharif, ex-aliado de Bhutto
na Aliança pela Restauração da
Democracia, é agora o único
nome de peso na oposição ao
regime -que continua, porém,
enfraquecido. Desde março,
quando tentou, sem sucesso,
remover o presidente da Suprema Corte, Musharraf vê seu poder erodir-se mês a mês.
"A união com um partido [o
PPP de Bhutto] que sempre
acusou de corrupção é um sinal
do desgaste de Musharraf", disse à Folha o cientista político
Rasul Rais, da Universidade de
Lahore. Sharif poderá explorar
antigas rivalidades entre os
aliados recentes e o clima de
insatisfação provocado pela
crise política.
O ex-premiê tem buscado
também associar-se ao carismático presidente da Suprema
Corte, cujo relatório foi decisivo para a anulação do acordo
de exílio. Na semana passada,
em entrevista ao jornal inglês
"Financial Times", Sharif disparou: "Hoje o povo, a sociedade civil, o Judiciário, as forças
políticas e a mídia estão de um
lado e o ditador de outro".
Sharif não reagiu ao anúncio
de Bhutto. A aliança já era esperada desde que os encontros
entre Musharraf e a líder do
PPP vieram a público, no mês
passado. O aberto apoio dos
EUA à união recebeu críticas
do ex-premiê na semana passada, quando Sharif disse que, em
seu governo, sempre manteve
boas relações com os EUA e
que só a democracia poderá
derrotar o terrorismo no país.
O combate ao terrorismo, caro aos EUA, é explorado pelo
general como justificativa para
enrijecer o regime. O tema
também é parte da agenda de
campanha do PPP, que tem conhecidas credenciais laicas e
boas relações com o Ocidente.
Eleição incerta
Apesar da alta temperatura
da campanha, ainda não foi
anunciada a data das eleições
paquistanesas. Pelas normas
vigentes, o mandato de Musharraf é válido apenas até o final deste ano, e o do Legislativo, responsável pela escolha do
presidente, expira em outubro.
Sharif afirmou que voltará ao
país antes do Ramadã, o mês
sagrada islâmico -que, neste
ano, começa em setembro.
Bhutto e Musharraf não informaram se escolha do presidente acontecerá sob a atual legislatura ou apenas na próxima.
Com o "Financial Times" e agências internacionais
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