São Paulo, quinta-feira, 30 de agosto de 2007

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Musharraf e Benazir fecham acordo para dividir poder

Pacto viabilizaria volta de ex-líder opositora ao cargo de premiê do Paquistão; condição é que ditador deixe a farda

Única figura de peso que sobrou na oposição, premiê deposto Sharif torna-se o principal adversário nas eleições, ainda sem data

DA REDAÇÃO

Benazir Bhutto, ex-premiê do Paquistão e líder do PPP (Partido do Povo Paquistanês), anunciou ter chegado a um acordo com o ditador Pervez Musharraf sobre os principais pontos de uma provável aliança. O pacto de divisão de poder, que pode salvar os planos de reeleição do general, é discutido há pelo menos três meses.
Bhutto, que vive em Londres desde que foi condenada por corrupção em 1999 -pouco antes de Musharraf tomar o poder-, disse que irá disputar as eleições parlamentares e que, pelo acordo, o ditador deixará o comando das Forças Armadas -ela não informou quando.
O ministro Rashid Ahmed, aliado de Musharraf, confirmou que o último encontro entre os dois estabeleceu um consenso sobre a questão. Como a Constituição proíbe militares de ocuparem cargos políticos, a medida é necessária na busca por legitimidade.
Com o anúncio da volta de Nawaz Sharif, principal nome da oposição paquistanesa, definições sobre o futuro do pacto tornaram-se urgentes. Na última quinta (23), a Suprema Corte julgou inválido o acordo de exílio assinado por Sharif depois do golpe militar, possibilitando seu retorno ao país. A decisão foi comemorada pelo ex-premiê, que diz que derrotará Musharraf nas urnas.
Por meio da agência de notícias estatal, Musharraf fez apelos públicos para que Sharif "tivesse caráter" e respeitasse o acordo, no qual ficou estabelecido que o ex-premiê, condenado à prisão perpétua por traição sob o regime que o depôs, deixaria o país por dez anos para evitar ser preso.

Oposição partida
Sharif, ex-aliado de Bhutto na Aliança pela Restauração da Democracia, é agora o único nome de peso na oposição ao regime -que continua, porém, enfraquecido. Desde março, quando tentou, sem sucesso, remover o presidente da Suprema Corte, Musharraf vê seu poder erodir-se mês a mês.
"A união com um partido [o PPP de Bhutto] que sempre acusou de corrupção é um sinal do desgaste de Musharraf", disse à Folha o cientista político Rasul Rais, da Universidade de Lahore. Sharif poderá explorar antigas rivalidades entre os aliados recentes e o clima de insatisfação provocado pela crise política.
O ex-premiê tem buscado também associar-se ao carismático presidente da Suprema Corte, cujo relatório foi decisivo para a anulação do acordo de exílio. Na semana passada, em entrevista ao jornal inglês "Financial Times", Sharif disparou: "Hoje o povo, a sociedade civil, o Judiciário, as forças políticas e a mídia estão de um lado e o ditador de outro".
Sharif não reagiu ao anúncio de Bhutto. A aliança já era esperada desde que os encontros entre Musharraf e a líder do PPP vieram a público, no mês passado. O aberto apoio dos EUA à união recebeu críticas do ex-premiê na semana passada, quando Sharif disse que, em seu governo, sempre manteve boas relações com os EUA e que só a democracia poderá derrotar o terrorismo no país.
O combate ao terrorismo, caro aos EUA, é explorado pelo general como justificativa para enrijecer o regime. O tema também é parte da agenda de campanha do PPP, que tem conhecidas credenciais laicas e boas relações com o Ocidente.

Eleição incerta
Apesar da alta temperatura da campanha, ainda não foi anunciada a data das eleições paquistanesas. Pelas normas vigentes, o mandato de Musharraf é válido apenas até o final deste ano, e o do Legislativo, responsável pela escolha do presidente, expira em outubro.
Sharif afirmou que voltará ao país antes do Ramadã, o mês sagrada islâmico -que, neste ano, começa em setembro. Bhutto e Musharraf não informaram se escolha do presidente acontecerá sob a atual legislatura ou apenas na próxima.


Com o "Financial Times" e agências internacionais

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