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Reforma de Obama reacende "guerra cultural" nos EUA
Plano para o sistema de saúde americano serve de pretexto para polarização inesperada em governo antes popularíssimo
Cai taxa de aprovação do presidente, sobe a audiência de emissoras enviesadas,
e floresce o fenômeno do "homem branco raivoso"
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Horas depois do anúncio da
morte de Ted Kennedy, na
quarta, os democratas passaram a capitalizar. A aprovação
pelo Congresso do empacado
plano de reforma de saúde pública, disse o partido de Barack
Obama, seria a melhor homenagem ao veterano senador.
De fato, o caçula dos irmãos
do clã Kennedy foi o autor do
esboço do projeto principal da
lei que Obama quer que seja o
marco de seu primeiro ano. Ele
dizia que a reforma era a causa
de sua vida. Poucas horas depois, também, o influente site
conservador Drudge Report
colocou no ar a manchete: "Lei
de saúde da cova: Democratas
promovem "Kennedycare'".
Passados quase oito meses da
posse do presidente que foi
eleito se dizendo bipartidário e
pós-racial, os EUA se encontram tão divididos quanto no
auge da era Bush. Três índices
dão a dimensão do cisma:
1-Em levantamento do Gallup de quinta-feira, Obama
caiu para 50% de aprovação nas
pesquisas de popularidade, ante um pico de 69%. Já é menos
que o resultado nas urnas,
quando teve 52,9% dos votos, o
que indica que o democrata não
só torrou todo seu capital político como entrou no vermelho.
Se continuar nesse ritmo, de
quase unanimidade, Obama
passará a ser minoria no país a
partir da semana que vem -o
terceiro presidente a fazer isso
tão rapidamente desde a Segunda Guerra. Bush pai e filho
levaram três anos para cruzar
aquela marca negativa.
2-Desde que Obama tomou
posse, o número de ameaças ao
ocupante da Casa Branca disparou 400%, segundo o estudioso Ronald Kessler, que acaba de lançar o livro "In The President's Secret Service" (Dentro do Serviço Secreto do Presidente, em tradução livre).
3-As audiências das partidárias emissoras de notícias Fox
News (conservadora) e
MSNBC (progressista) tiveram
saltos recordes, a primeira com
um ganho de 24% em relação
ao período anterior, a segunda
com aumento de 10%, segundo
o Nielsen. Pela primeira vez, a
CNN, mais imparcial, ficou em
terceiro, com queda de 22%.
Mola propulsora
O motor da divisão é a proposta de reforma da saúde, que
conservadores consideram socializante e que progressistas
têm sido inábeis em defender.
O plano de Obama torna a cobertura "universal" nos EUA,
onde 47 milhões não têm planos privados e não podem contar com o sistema público.
Um dos pontos mais polêmicos é o que a oposição batizou
de "painéis de morte". Trata-se
na verdade de uma medida já
descartada que permite que os
segurados de certa idade contem com aconselhamento pago
pelo governo em decisões como
fazer testamentos.
Foi o pretexto para que florescesse o que analistas chamam de "fenômeno do homem
branco raivoso". Os casos mais
evidentes foram vistos nos
eventos públicos de Obama pelo país, em que ele defendia o
plano e em torno dos quais alguns oposicionistas apareceram armados e carregando cartazes ameaçadores. "Hoje, homens brancos simbolizam a resistência conservadora ao presidente democrata" negro, disse Michael Crowley, da revista
"New Republic", citando números que mostram como esse
eleitorado se tornou minoria.
Para o especialista John
Kenneth White, autor do recém-lançado "Barack Obama's
America" [A América de Barack
Obama], parte da raiva em torno da reforma vem "do sentimento de que o poder mudou
nos EUA, e o país que [esse eleitorado] achava que conhecia
não existe mais".
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