São Paulo, domingo, 30 de agosto de 2009

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Acordo militar rende crítica interna a Uribe

DO ENVIADO À COLÔMBIA

Enquanto externamente a Colômbia é alvo de cobranças dos governos vizinhos, no país se questiona a constitucionalidade, a violação da soberania nacional e a falta de transparência do governo sobre o acordo que autoriza a presença de soldados americanos em bases militares. Até agora, o Senado não teve acesso ao texto.
"Foi tudo às escondidas. Quanto mais se negociava, mais se dizia que não havia nada", protestou um dos principais críticos, o senador Jorge Enrique Robledo, do Polo Democrático Alternativo, em entrevista à Folha.
Para Robledo, o acordo fere a soberania da Colômbia, viola a Constituição e compromete a estabilidade e as relações na região. A Carta só permite o trânsito e a presença de tropas estrangeiras no país mediante a aprovação do Senado, o que não houve. Ele acusa o governo de não chamar o acordo de "tratado" para evitar ter de enviá-lo ao Congresso.
O presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa da Casa, o governista Manuel Enriquez Rosero, e o senador Juan Manuel Galán admitiram à reportagem que o Senado conhece apenas pontos do acordo.
"Mas o governo disse que nossas opiniões serão levadas em conta, e confiamos que vá negociar da melhor maneira", disse Rosero, para quem a Colômbia não podia informar os países vizinhos sobre negociações em andamento. "Não somos ameaça a ninguém. Só precisamos lutar contra o narcotráfico."
Galán afirmou que tem solicitado ao governo explicações sobre o tema, mas ponderou que a Colômbia pediu a ajuda dos EUA "porque não encontrou suficiente solidariedade e ajuda na região para o combate às Farc".
A oposição tenta impedir o acordo, mas falta força política para tanto. O pré-candidato à Presidência do Partido Liberal, Rafael Pardo, considera o acordo "uma má ideia", mas, como seu partido apoia o governo contra o venezuelano Hugo Chávez, prefere não se pronunciar sobre o assunto.
Para Robledo -que acha "legítimo" o desconforto dos países vizinhos-, depois da Colômbia, "o maior ameaçado é o Brasil, que logo será o maior rival econômico dos EUA na América Latina". "Por trás das estratégias de guerra estão sempre interesses econômicos. Os brasileiros devem se preocupar."
O senador também vê com preocupação as referências vagas no tratado a respeito do combate ao terrorismo.

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