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Unasul só não quebra porque não age
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
De reunião em reunião, a
Unasul (União das Nações Sul-Americanas) só consegue demonstrar que está distante de
justificar o "União" que abre o
seu nome.
Tanto é assim que o comunicado final da cúpula de anteontem em Bariloche produziu
uma das mais patéticas platitudes já encontradas em textos
diplomáticos de uma região em
que obviedades enchem arquivos e arquivos.
Diz o documento que "forças
militares estrangeiras não podem (...) ameaçar a soberania e
a integridade de qualquer nação sul-americana". Só faltou
acrescentar que forças militares estrangeiras não podem
ameaçar a soberania de qualquer nação na face da Terra. Ou
que é obrigatório que o sol nasça todos os dias.
O pior é que o presidente
equatoriano, Rafael Correa,
presidente de turno do conglomerado, ainda achou que o documento de Bariloche é "um
passo adiante".
Não é passo adiante nem passo atrás. É marcar passo, nada
mais, à espera de que uma nova
reunião (agora de ministros da
Defesa e do Exterior) consiga a
quadratura do círculo que seria
pôr de acordo a Colômbia e os
bolivarianos Venezuela, Bolívia
e o próprio Equador em torno
da maneira de encarar as relações com os Estados Unidos.
Para a Colômbia, o acordo
com os EUA, que já dura dez
anos e acaba de ser renovado
para dar a militares americanos
o direito de usar bases colombianas, é não apenas legítimo
como benéfico para a luta contra o narcotráfico e o narcoterrorismo (das Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia),
umbilicalmente ligados.
Para a Venezuela de Hugo
Chávez, trata-se, ao contrário,
do "cerco do império" à sua revolução bolivariana.
O que complica ainda mais o
que já é complicado é o fato de
que os dois lados têm argumentos ponderáveis a esgrimir.
O presidente colombiano, Álvaro Uribe, tem razão em se
queixar de que seus vizinhos da
Unasul não foram além de uma
"solidariedade retórica" na
guerra ao narcotráfico/terrorismo, ao passo que os Estados
Unidos lhe deram apoio "prático" e "efetivo" (os US$ 6 bilhões
do Plano Colômbia são bastante "efetivos").
Hugo Chávez tem razão ao
dizer que "ainda que os Estados
Unidos jurem até no Vaticano
que não lançarão ataques a partir da Colômbia contra outros
países, não temos nenhum motivo para acreditar".
De fato, desde a intervenção
na guerra de independência de
Cuba, no finzinho do século 19,
até o apoio velado ao efêmero
golpe que depôs Chávez, em
2002, dá mais de um século de
intervenções na região.
Nesse cenário, tornam-se
inócuas as duas propostas do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva para tentar resolver o impasse: chamar o presidente Barack Obama para dar explicações e exigir "garantias jurídicas" de que o acordo com a Colômbia ficará confinado ao território colombiano.
Afinal, coube a Correa lembrar, após a cúpula de Bariloche, que os Estados Unidos não
acataram o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, ao apoiarem o Reino Unido
na guerra das Malvinas contra a
Argentina, em 1982. "Os países
assinam acordos e depois os
rompem conforme sua conveniência", disse o presidente
equatoriano.
Quanto à reunião Obama/Unasul, é evidente que, ainda que
se realize, o presidente dos Estados Unidos não dirá nada, absolutamente nada, de diferente
do que Uribe já disse ou do que
disse ao próprio Lula Jim Jones, o assessor de Obama para
segurança nacional.
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