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QUESTÃO DE HÁBITO
Gigantes como McDonald"s e PepsiCo se movimentam para evitar ter de pagar indenizações a obesos
Redes de fast food temem processo nos EUA
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Em julho último, quando o supervisor comercial Caesar Barber,
56, moveu seus 123 quilos até o
tribunal federal do Brooklyn, em
Nova York, para processar quatro
das maiores redes de fast food dos
EUA sob a acusação de que elas
teriam contribuído para que ele
engordasse, muita gente riu.
Muita gente, menos os executivos e os acionistas dessas e de outras empresas de fast food do país,
que movimentam US$ 107 bilhões por ano. Eles temiam que o
processo pudesse ser o primeiro
de uma série e que o setor pudesse
tomar o lugar da indústria do tabaco na berlinda dos milionários
processos de saúde.
A ação do nova-iorquino obeso
continua em andamento, e os
maiores e mais caros advogados
de Manhattan, contratados a peso
de ouro pelas quatro grandes para
a defesa, recusam-se, por motivos
óbvios, a dizer se outras ações do
tipo se seguiram àquela. Sabe-se
que já há escritórios de advocacia
juntando grupos de clientes para
novos processos.
Desde então, as empresas do setor vêm tomando discretamente
medidas cujo objetivo final é um
só: tornar o hambúrguer, a pizza e
os refrigerantes que são consumidos em seus restaurantes mais
saudáveis ou, ao menos, menos
prejudiciais à saúde.
No final do ano passado, o Ministério da Saúde americano chocou a opinião pública com um relatório dizendo que o excesso de
peso tomara proporções epidêmicas no país, com 69 milhões de
pessoas acima do peso e 51 milhões de obesos, numa população
total de 281 milhões.
Na movimentação dos gigantes
do principal setor alimentício
norte-americano vale tudo, de
projetos de avisos do tipo "o Ministério da Saúde adverte" até
mudanças nos óleos utilizados na
fritura, passando pela busca do
direito de usar o selo "saudável"
nos produtos comercializados.
O McDonald's, citado no processo de Barber, já se mexeu. No
início do mês, anunciou que vai
passar a fritar suas batatas, os
Chicken McNuggets e os sanduíches de frango e de peixe num novo óleo, que reduz os ácidos graxos em 48% e a gordura saturada
em 16% -componentes que ajudam a aumentar o colesterol.
A PepsiCo deu o segundo passo.
Na semana passada, a empresa,
que, além dos refrigerantes, produz salgadinhos como o Doritos e
o Cheetos, associou-se a um renomado centro de nutrição e esportes de Dallas, que vai dar seu selo
de "saudável" a uma nova linha
de salgadinhos e refrigerantes a
ser criada pela empresa.
Trata-se do Cooper Aerobics
Center, de Kenneth Cooper, que
também vai desenvolver para a
empresa dicas de exercícios e alimentação que serão divulgadas
nas embalagens dos produtos.
Além disso, seguindo o exemplo de seus colegas no McDonald's, a empresa avisa que, a partir de 2003, deixará de usar óleos
hidrogenados em suas frituras e
passará a usar só óleo sem ácido
graxo. O plano é que, num futuro
próximo, pelo menos 50% dos
produtos da Pepsi possam ser
chamados de "nutritivos".
Por fim, num movimento que
lembra o que chacoalhou a indústria do cigarro há alguns anos,
pais de alunos e professores de escolas públicas americanas começam a pedir a revisão dos contratos firmados entre instituições de
ensino e empresas de fast food.
Os acordos permitem que nomes como McDonald's e Pizza
Hut sejam os fornecedores de merenda escolar. Hoje, 43% das escolas americanas de ensino básico
e todas as escolas de ensino médio
têm máquinas de fast food, doces
ou refrigerantes nos refeitórios.
A briga tomou os jornais quando o endocrinologista infantil David Ludwig publicou um estudo
em que afirma que os refrigerantes contribuem para a obesidade
infantil. Logo, o lobby das indústrias de refrigerantes divulgou um
contra-estudo, que afirma que refrigerantes são necessários para
uma "dieta equilibrada".
Mesmo assim, no mês passado,
Los Angeles proibiu a bebida gasosa durante o horário escolar. A
Pepsi foi a primeira a capitular.
No começo do verão norte-americano, a Pepsi mandou um
vídeo institucional direcionado
aos responsáveis pelas merendas
escolares em que um porta-voz da
empresa diz, pela primeira vez na
história, com todas as letras: "Alimentos como Pepsi-Cola e Doritos são um prazer, uma compensação. O consumo exagerado de
nossos produtos não é algo que
incentivamos ou mesmo recomendamos".
Consumidor "enganado"
Caesar Barber resolveu mover a
ação porque se sentiu "enganado"
por quatro empresas: McDonald's, Wendy's, Burger King e
Kentucky Fried Chicken.
"Eles dizem "100% carne", e eu
pensei que isso queria dizer que
era saudável", disse em seu depoimento. "As pessoas nos comerciais não dizem o que há na comida. É gordura, gordura e mais
gordura. Fiquei obeso", disse Barber, que afirma se alimentar basicamente de fast food há 40 anos.
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