São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 2004

Próximo Texto | Índice

IRAQUE SOB TUTELA

Bigley afirma que premiê mente sobre negociações para libertá-lo; líder do Reino Unido culpa seqüestradores

Refém britânico chama Blair de mentiroso

Reuters/Reprodução - Al Jazira
O refém britânico Kenneth Bigley apela a Blair por sua libertação


DA REDAÇÃO

Em vídeo exibido ontem pela rede de TV pan-árabe Al Jazira, o britânico que está seqüestrado no Iraque acusou o premiê Tony Blair de mentir sobre as negociações para a sua libertação e novamente implorou para que a sua vida seja salva.
Kenneth Bigley, 62, aparece nas imagens dentro de uma jaula, com os pés e as mãos atados e uma corrente ao redor do pescoço. Como nas outras vezes, o britânico estava vestido com um uniforme laranja similar aos usados pelos prisioneiros muçulmanos na base americana de Guantánamo (Cuba).
"Tony Blair está mentindo. Ele mente quando diz que tem negociado. Ele não negociou. Minha vida é barata. Ele não se preocupa comigo", afirmou Bigley.
Os militantes exigem a libertação de todas as iraquianas presas no país para soltar Bigley. Dois americanos que estavam com ele foram decapitados porque os EUA não atenderam às demandas dos seqüestradores, que são do grupo Tawid e Jihad, do terrorista jordaniano ligado à rede Al Qaeda Abu Musab al Zarqawi.
Americanos e britânicos insistem que há apenas duas mulheres presas no Iraque -ambas estariam envolvidas no desenvolvimento de armas de destruição em massa de Saddam Hussein.
Em meio a crises de choro, o britânico, seqüestrado desde o dia 16, disse que os militantes não pretendem matá-lo.
"Tony Blair, eu imploro a você pela minha vida. Tenha piedade, por favor. Eu quero ir para casa. Por favor, senhor Blair, não me deixe aqui", acrescentou Bigley, que já fizera apelo semelhante ao premiê havia uma semana.
O vídeo de Bigley divulgado ontem não possui data e não teve confirmada a sua autenticidade.
Blair afirmou que se sentiu enojado ao ver o vídeo, mas não comentou a declaração de Bigley, afirmando que ele é mentiroso. O premiê disse apenas que sente muito por Bigley e por sua família e que seu governo está tentando entrar em contato com os seqüestradores de Bigley.
"Os seqüestradores não tentaram entrar em contato conosco. Se tivessem, nós teríamos respondido imediatamente. Nós não sabemos onde eles estão e eles não entraram em contato", afirmou.
Em comunicado aos seqüestradores, os familiares de Bigley disseram: "Nós, uma família, sentimos que a decisão final para libertar Bigley reside em vocês, as pessoas que o mantêm refém. Nós mais uma vez pedimos a vocês que, por favor, tenham piedade de meu pai e o soltem."
Paul Bigley, irmão do seqüestrado, disse ter recebido uma mensagem "100% autêntica" dos seqüestradores do irmão. "Acredito que na mensagem haja uma advertência para os trabalhadores britânicos não irem ao Iraque, pois, caso contrário, serão punidos", afirmou o irmão.
Há ao menos 18 estrangeiros ainda seqüestrados no Iraque, dois deles ocidentais. Os repórteres franceses Christian Chesnot e Georges Malbrunot são mantidos reféns há mais de um mês. Autoridades francesas afirmam que negociam a libertação deles, que pode ocorrer ainda neste fim de semana, sem a necessidade de pagamento de resgate.

Síria
A Síria fechou ontem um acordo com os governos iraquiano e americano para adotar medidas de proteção de sua fronteira com o Iraque contra insurgentes.
"Os sírios concordaram em adotar ações específicas em coordenação com forças multinacionais e iraquianas. Essas ações destinam-se a fechar as fronteiras da Síria a indivíduos que pretendam fomentar violência e desestabilizar o Iraque", disse o porta-voz do Departamento de Estado americano, Richard Boucher.
O FMI (Fundo Monetário Internacional) aprovou ontem uma ajuda de US$ 436 milhões para o Iraque.

Concurso
O governo iraquiano está organizando um concurso para escolher o novo hino e a nova bandeira do Iraque. A data final para a inscrição é 15 de janeiro. A antiga bandeira, que já sofreu algumas alterações desde a queda do ex-ditador, e o hino são ligados ao antigo regime de Saddam Hussein.
Uma versão em azul e branco da bandeira, publicada em jornais do Iraque, já provocou controvérsia no país. Muitos iraquianos a acharam parecida com a de Israel.

Com agências internacionais


Próximo Texto: Italianas querem voltar ao Iraque
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.