São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 2004

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Insurgência generalizada coloca eleição em dúvida

JAMES GLANZ
THOM SHANKER
DO "NEW YORK TIMES", EM BAGDÁ

Mais de 2.300 ataques de insurgentes foram lançados nos últimos 30 dias contra alvos civis e militares no Iraque, num padrão que abrange praticamente todos os grandes centros de população fora o norte do país, de maioria curda. Os dados, abrangentes, foram compilados por uma empresa de segurança privada que tem acesso a relatórios da inteligência militar e uma rede própria de informantes iraquianos.
O alcance geográfico amplo dos ataques, abrangendo desde as Províncias de Nineveh e Salahuddin, no noroeste do país, até a Babilônia e Diyala, no centro, e Basra, no sul, leva a crer que a resistência é mais ampla e difundida do que os bolsões isolados descritos pelo governo iraquiano.
Os ataques contabilizados são de todos os tipos: carros-bomba, bombas-relógio, granadas-foguete, granadas de mão, disparos de armas de pequeno porte, ataques com morteiros e minas terrestres.
"Se você colocar os dados referentes a incidentes armados no mapa, verá que não ocorrem apenas em poucas Províncias", disse o especialista em segurança Adam Collins, chefe de inteligência no Iraque da empresa de segurança privada Special Operations Consulting-Security Management Group, com sede em Las Vegas, que compila e analisa os dados como parte regular de suas operações no Iraque.
Os ataques aumentam e diminuem no decorrer dos meses. Segundo Collins, chegaram ao auge em abril, com os combates pesados em Fallujah: a média diária de ataques insurgentes chegou a 120. Hoje ocorrem cerca de 80 por dia.
Mas, ainda assim, outros enxergam o Iraque como um país em que a maioria da população está em segurança e onde será possível realizar eleições num clima de plena legitimidade.
"Tenho todos os motivos para acreditar que a população iraquiana vai poder realizar eleições", disse o tenente-coronel da Força Aérea William Nichols, porta-voz das forças da coalizão liderada pelos EUA no Iraque.
Não há estatísticas sobre número de ataques que meçam a equação que talvez seja a mais importante com a qual se defrontam o primeiro-ministro Iyad Allawi e os militares americanos: que porcentagem do Iraque está sob controle firme do governo interino? Isso vai determinar a probabilidade de haver eleições em janeiro.
Além disso, o número de ataques não constitui medida precisa do controle em Fallujah, onde os ataques diminuíram recentemente, embora a cidade seja controlada por insurgentes, sendo área de acesso proibido às forças americanas e iraquianas. É um lugar onde não seria possível realizar eleições sem uma intervenção política ou militar dramática.
As estatísticas indicam que ocorreram pouco menos de mil ataques em Bagdá nos últimos 30 dias. Na realidade, disse um porta-voz militar americano, desde abril os insurgentes já dispararam quase 3.000 projéteis de morteiros apenas em Bagdá. Mas isso não exclui a possibilidade de haver eleições na capital do Iraque.
Representantes do Pentágono e oficiais militares costumam mencionar lista de estatísticas distinta para contrabalançar a contagem do número de ataques. Sua lista inclui o número de escolas e clínicas abertas no Iraque.
Sobretudo, porém, os oficiais militares argumentam que, apesar do aumento no número de ataques sangrentos nos últimos 30 dias, os insurgentes ainda não ganharam uma única batalha.
Representantes do governo americano explicam que avaliações otimistas sobre a situação no Iraque formuladas pelo presidente dos EUA, George W. Bush, e o premiê interino do Iraque, Iyad Allawi, podem ser interpretadas como declaração de uma meta estratégica: que, apesar dos ataques, a eleição terá lugar.
Em aparição com Bush, na Casa Branca, Allawi falou que, das 18 Províncias iraquianas, "entre 14% e 15% estão totalmente seguras". Disse que as outras Províncias têm "bolsões de terroristas" que provocam danos e tramam ataques realizados em outras partes do país. Allawi já afirmara que será possível realizar eleições em 15 das 18 Províncias do país.
Segundo os dados da Special Operations Consulting , nos últimos 30 dias, os ataques de insurgentes chegaram ao total de 283 em Nineveh, 325 em Salahuddin, no noroeste do país, e 332 na região desértica da Província de Anbar, no oeste do Iraque. Na região central do país os ataques chegaram a 123 na Província de Diyala, 76 na Babilônia e 13 em Wasit. Nenhuma Província deixou de sofrer ataques no período.
Mesmo assim, alguns iraquianos compartilham o otimismo do premiê sobre a probabilidade de que as eleições e um recenseamento possam ser conduzidos com êxito. "Estamos prontos para começar", disse Hamid Abd Muhsen, funcionário iraquiano do setor da educação que está chefiando parte do recenseamento em Bagdá. "Juro por Deus."


Tradução de Clara Allain


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