São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

Política externa será o tema central do embate; ambos buscam mostrar que são mais aptos a defender o país

Bush e Kerry fazem primeiro debate hoje

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A
CORAL GABLES (FLÓRIDA)

Quando o republicano George W. Bush se encontrar com o democrata John Kerry hoje à noite, na arena da Universidade de Miami, para o primeiro de três debates pela corrida à Presidência, o país viverá um flashback. Pela primeira vez desde que o presidente Ronald Reagan debateu com Jimmy Carter (1980) e Walter Mondale (1984), a política externa dos EUA e sua segurança interna serão os temas principais.
A pergunta que milhões de telespectadores esperam ver respondida é: se o país sofrer novo ataque terrorista ou tiver de enfrentar um país inimigo, qual dos dois é o mais adequado para estar sentado no Salão Oval da Casa Branca naquele momento?
"A economia dominou os últimos debates, incluindo os encontros de 2000 entre Bush e o então vice-presidente Al Gore", disse à Folha Coit Blacker, presidente do Instituto de Estudos Internacionais (IIS) da Califórnia e membro do Council on Foreign Relations de Nova York. "Esse mundo acabou depois do 11 de Setembro."
De fato, a primeira eleição presidencial a acontecer pós-ataques terroristas vê dois conflitos externos dominarem o noticiário, um do final dos anos 60, outro que, oficialmente, terminou em maio do ano passado, mas que, na verdade, continua. Do primeiro, a Guerra do Vietnã, vem a polêmica mais folhetinesca, que responde pela face "mar de lama". Os simpatizantes de ambos os candidatos se aproveitam de uma brecha na lei para pagar anúncios desmerecendo a folha de serviços militares prestados pelo opositor.
Kerry, herói de guerra condecorado por sua atuação no Vietnã, acusa Bush de ter usado a influência de seu pai para se livrar de seus deveres como piloto da Guarda Nacional em 1972. Já Bush se ampara numa questionável ONG de ex-veteranos, que diz que Kerry não merece as medalhas que ganhou porque teria pedido dispensa num fim de ano para passar o feriado longe do fronte.
Do segundo, o Iraque, vem a parte mais séria. Bush tem contra si o número de soldados americanos mortos em missão no país, que atingiu mil homens há poucas semanas, e as acusações de tortura de detidos iraquianos na prisão de Abu Ghraib. Já Kerry tem de afastar a imagem de fraco e mostrar o que teria feito (e fará) de diferente se fosse presidente.
Vale lembrar que, apesar de todas as provas em contrário, 49% da população americana pensa que o ex-ditador iraquiano Saddam Hussein teve algo a ver com o 11 de Setembro, segundo pesquisa recente do instituto Gallup.
"O debate deve atrair mais audiência do que de costume, e a eleição deve ter mais do que os 30% de presença nas urnas, que é a média histórica", disse Alan Schroeder, autor de "Televised Presidential Debates: 40 Years of High-Risk TV" (debates presidenciais televisionados: 40 anos de TV de alto risco).
O primeiro debate conta mais, pois a tendência natural é que a audiência diminua nos próximos dois encontros. A eleição será em 2 de novembro. Daí os comandos de ambas as campanhas estarem cuidando dos mínimos detalhes, via seus dois enviados especiais, o ex-secretário de Estado James Baker (republicano) e o advogado Vernon Jordan (democrata).
Juntos, chegaram a um documento explicitando cada detalhe da noite de hoje, um calhamaço com 33 páginas que determina, entre outras coisas, a altura média dos púlpitos dos quais cada um dos candidatos vai responder às perguntas (uma preocupação compreensível, já que Bush tem 1,80 m, ante o 1,93 m de Kerry).
O jogo de bastidores também está a pleno vapor. Ambos os lados começaram a dar entrevistas exaltando as qualidades de orador do outro. A estratégia reversa deu certo há quatro anos. A expectativa sobre o desempenho de Bush então era tão baixa que só o fato de ele não ter tropeçado no palco o fez ganhar pontos na percepção do público.
Isso e o fato de ele ter se saído realmente bem, respondendo de maneira simples e diretas às perguntas. O problema é que tais perguntas não serão tão simples hoje.

Familiares de mortos
Descontente com a linha adotada por Bush para lidar com a crise iraquiana, um grupo de familiares de militares mortos no Iraque decidiu lançar uma campanha publicitária contra o presidente, que os teria "traído" ao fazer a guerra.


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