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ELEIÇÃO NOS EUA
Política externa será o tema central do embate; ambos buscam mostrar que são mais aptos a defender o país
Bush e Kerry fazem primeiro debate hoje
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A
CORAL GABLES (FLÓRIDA)
Quando o republicano George
W. Bush se encontrar com o democrata John Kerry hoje à noite,
na arena da Universidade de Miami, para o primeiro de três debates pela corrida à Presidência, o
país viverá um flashback. Pela primeira vez desde que o presidente
Ronald Reagan debateu com
Jimmy Carter (1980) e Walter
Mondale (1984), a política externa
dos EUA e sua segurança interna
serão os temas principais.
A pergunta que milhões de telespectadores esperam ver respondida é: se o país sofrer novo
ataque terrorista ou tiver de enfrentar um país inimigo, qual dos
dois é o mais adequado para estar
sentado no Salão Oval da Casa
Branca naquele momento?
"A economia dominou os últimos debates, incluindo os encontros de 2000 entre Bush e o então
vice-presidente Al Gore", disse à
Folha Coit Blacker, presidente do
Instituto de Estudos Internacionais (IIS) da Califórnia e membro
do Council on Foreign Relations
de Nova York. "Esse mundo acabou depois do 11 de Setembro."
De fato, a primeira eleição presidencial a acontecer pós-ataques
terroristas vê dois conflitos externos dominarem o noticiário, um
do final dos anos 60, outro que,
oficialmente, terminou em maio
do ano passado, mas que, na verdade, continua. Do primeiro, a
Guerra do Vietnã, vem a polêmica
mais folhetinesca, que responde
pela face "mar de lama". Os simpatizantes de ambos os candidatos se aproveitam de uma brecha
na lei para pagar anúncios desmerecendo a folha de serviços militares prestados pelo opositor.
Kerry, herói de guerra condecorado por sua atuação no Vietnã,
acusa Bush de ter usado a influência de seu pai para se livrar de seus
deveres como piloto da Guarda
Nacional em 1972. Já Bush se ampara numa questionável ONG de
ex-veteranos, que diz que Kerry
não merece as medalhas que ganhou porque teria pedido dispensa num fim de ano para passar o
feriado longe do fronte.
Do segundo, o Iraque, vem a
parte mais séria. Bush tem contra
si o número de soldados americanos mortos em missão no país,
que atingiu mil homens há poucas semanas, e as acusações de
tortura de detidos iraquianos na
prisão de Abu Ghraib. Já Kerry
tem de afastar a imagem de fraco
e mostrar o que teria feito (e fará)
de diferente se fosse presidente.
Vale lembrar que, apesar de todas as provas em contrário, 49%
da população americana pensa
que o ex-ditador iraquiano Saddam Hussein teve algo a ver com
o 11 de Setembro, segundo pesquisa recente do instituto Gallup.
"O debate deve atrair mais audiência do que de costume, e a
eleição deve ter mais do que os
30% de presença nas urnas, que é
a média histórica", disse Alan
Schroeder, autor de "Televised
Presidential Debates: 40 Years of
High-Risk TV" (debates presidenciais televisionados: 40 anos
de TV de alto risco).
O primeiro debate conta mais,
pois a tendência natural é que a
audiência diminua nos próximos
dois encontros. A eleição será em
2 de novembro. Daí os comandos
de ambas as campanhas estarem
cuidando dos mínimos detalhes,
via seus dois enviados especiais, o
ex-secretário de Estado James Baker (republicano) e o advogado
Vernon Jordan (democrata).
Juntos, chegaram a um documento explicitando cada detalhe
da noite de hoje, um calhamaço
com 33 páginas que determina,
entre outras coisas, a altura média
dos púlpitos dos quais cada um
dos candidatos vai responder às
perguntas (uma preocupação
compreensível, já que Bush tem
1,80 m, ante o 1,93 m de Kerry).
O jogo de bastidores também
está a pleno vapor. Ambos os lados começaram a dar entrevistas
exaltando as qualidades de orador do outro. A estratégia reversa
deu certo há quatro anos. A expectativa sobre o desempenho de
Bush então era tão baixa que só o
fato de ele não ter tropeçado no
palco o fez ganhar pontos na percepção do público.
Isso e o fato de ele ter se saído
realmente bem, respondendo de
maneira simples e diretas às perguntas. O problema é que tais perguntas não serão tão simples hoje.
Familiares de mortos
Descontente com a linha adotada por Bush para lidar com a crise
iraquiana, um grupo de familiares
de militares mortos no Iraque decidiu lançar uma campanha publicitária contra o presidente, que
os teria "traído" ao fazer a guerra.
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