São Paulo, sábado, 30 de setembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dois morrem em confronto na base de Morales

DO ENVIADO A SUCRE

No confronto mais violento desde o início do governo Evo Morales, há oito meses, dois cocaleiros foram mortos e dois policiais e outro cocaleiro ficaram feridos à bala ontem de manhã, durante um enfrentamento na região do Chapare, berço político do presidente boliviano, onde começou sua carreira como líder sindical dos plantadores de coca.
Sete policiais teriam sido capturados pelos cocaleiros durante o confronto, informou a agência de notícias do governo, ABI. Já a imprensa local fala em nove reféns -dois militares e sete policiais. Até o fechamento desta edição, eles permaneciam em poder dos cocaleiros.
De acordo com a rede de TV Unitel, o confronto ocorreu por volta das 9h numa zona conhecida como Campo Amarillo, localizada dentro do Parque Nacional Carrasco, na região do Chapare, no centro da Bolívia, a 300 km a leste de La Paz.
Cerca de 200 cocaleiros cercaram um operativo encarregado de erradicar coca na região e o atacaram com armas de fogo e instrumentos cortantes. Cercados, os policiais revidaram antes de se entregar. Além do Chapare, a situação também é tensa na estrada entre Oruro e La Paz, bloqueada por mineiros. A ministra de Governo (Interior), Alicia Muñoz, disse ontem que o governo usará a força para liberar a estrada caso não haja um acordo com os manifestantes. A Força Aérea está realizando "vôos solidários" entre as duas cidades.
É o primeiro enfrentamento entre cocaleiros e policiais sob Morales, que prometeu uma política de "cocaína zero, mas não coca zero", com ênfase no combate ao narcotráfico e incentivo à erradicação voluntária. Para promover essa política, Morales escolheu para a função de "czar antidrogas" Felipe Cáceres, que, como o atual presidente, havia sido plantador de coca no Chapare.
A política antidrogas boliviana tem atraído duras críticas do governo dos EUA, que ameaçou recentemente Morales com retaliações e cobra uma política mais firme de erradicação.
O ex-líder cocaleiro rechaça a acusação e promete medidas para incentivar o consumo interno, como aumentar a área atualmente permitida para o plantio. Em julho, o governo facilitou a comercialização da folha ao acabar com os mercados que monopolizavam a compra e a venda. Agora, qualquer produtor de coca pode vender diretamente seu produto.
Apesar de a política de drogas ser um foco de tensão entre os dois países, praticamente nada da produção de coca boliviana chega aos EUA. Nos últimos anos, o principal destino tem sido o Brasil, tanto como ponto final quanto para ser traficada para a Europa. (FM)


O repórter FABIANO MAISONNAVE viajou a convite da empresa aérea Aerosur


Texto Anterior: Constituinte descarta lei atual na Bolívia
Próximo Texto: Popularidade de presidente cai nove pontos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.