São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2008

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Vitorioso, Correa controla transição

"Congressinho" de maioria governista que funcionará até novas eleições definirá regras para troca de juízes

Ao contrário do previsto em bocas-de-urna, presidente equatoriano sofre derrota em Guayaquil, governada por prefeito da oposição

Robert Puglla/Efe
Partidários do presidente do Equador, Rafael Correa, festejam aprovação da nova Constituição do país em Guayaquil, onde o "sim" foi derrotado por pequena margem

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A QUITO

Um dia depois do referendo que ratificou a nova Constituição do Equador, deputados constituintes aliados ao presidente Rafael Correa se reuniram ontem em Quito para discutir a instalação do controvertido Regime de Transição, durante o qual haverá eleições gerais e serão renovados todos os membros do Judiciário e das demais instituições do Estado.
Com 95,65% dos votos apurados, o "sim" à Constituição impulsionada por Correa registrava 64,01% dos votos, contra 28,05% para o "não". O resultado confirma projeções da maioria das bocas-de-urna e da contagem rápida divulgadas na noite de domingo.
Sem a homologação do resultado oficial, a reunião em Quito teve caráter informal e serviu principalmente para discutir o tamanho do "Congresillo", como é chamado o comitê de transição, que será formado por ex-constituintes. As propostas variam desde 30 membros até todos os 130 integrantes da Assembléia.
Já na Corte Suprema de Justiça, os 31 juízes começaram a limpar as gavetas ontem -pelas disposições transitórias, eles perderão o emprego dez dias após a proclamação dos resultados. O atual órgão máximo do Judiciário será substituído pela Corte Nacional de Justiça, formada por 21 juízes provisórios, escolhidos por sorteio.
A nomeação dos novos juízes e outras autoridades é uma das principais polêmicas em torno da nova Constituição. Para analistas e a oposição, Correa poderá nomear aliados e, dessa forma, controlar as instituições do Estado. Os governistas afirmam que o processo de escolha será principalmente por meio de concursos públicos, sem ingerência do Executivo.

Reviravolta em Guayaquil
A única surpresa da contagem oficial ficou por conta de Guayaquil, a maior cidade do país, onde as projeções indicavam uma vitória apertada do "sim". A apuração do Tribunal Superior Eleitoral, porém, mostra a vitória do "não", defendido pelo prefeito opositor Jaime Nebot, com 47%, contra 45,7% para o "sim".
A virada foi uma surpresa para o governo. Anteontem à noite, Correa chegou a dizer que a vitória em sua cidade natal havia sido "retumbante". Nos últimos dias, ele concentrou os esforços de campanha em Guayaquil, pólo econômico e maior reduto oposicionista.
Ontem, Nebot, que havia prometido não buscar a reeleição se o "sim" vencesse em sua cidade, chamou de "falta de respeito ao povo guayaquilenho" a comemoração de Correa na noite anterior. Já Correa, em encontro com jornalistas estrangeiros, minimizou a iminente derrota em Guayaquil ao dizer que o importante era o resultado nacional. Em alusão a Nebot, disse que "sempre haverá a possibilidade de que certas elites separatistas de Guayaquil continuem com o seu afã de ter um mundo à parte".
O consolo governista é que, na Província de Guayas, da qual Guayaquil é capital, o "sim" vencia com 50,8%, contra 41,4% para o "não".
Hoje, Correa viaja a Manaus, onde se encontrará com os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Evo Morales (Bolívia) e Hugo Chávez (Venezuela).


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