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ARTIGO
Guerra do Iraque e atoleiro financeiro
TOM ENGELHARDT
DA "NATION"
Vamos começar pelo dinheiro que o governo Bush já despejou na Guerra do Iraque. De
acordo com depoimento ao
Congresso em junho de William Beach, diretor do Centro
de Análise de Dados, a guerra já
custou US$ 646 bilhões. O novo
orçamento da Defesa para
2009 acrescenta mais US$ 68,6
bilhões para as guerras do Iraque e do Afeganistão. Mas o especialista em assuntos militares Bill Hartung, da New America Foundation, propõe uma
estimativa conservadora de
US$ 3,5 bilhões para o custo semanal da guerra no Iraque, ou
seja, US$ 180 bilhões ao ano.
A guerra no Iraque custará
muito mais, no ano que vem, do
que a porção reservada ao Iraque dos US$ 68,6 bilhões que o
Congresso está prestes a aprovar. Esses custos adicionais serão bancados, como vem acontecendo, por verbas suplementares solicitadas pelo governo
Bush (e qualquer governo que
vier a seguir). Em algum momento de 2009, os custos totais
da guerra ultrapassarão US$
800 bilhões, US$ 100 bilhões a
mais do que o custo do resgate
ao sistema financeiro em debate em Washington.
As estimativas dos custos em
longo prazo da guerra, incluindo benefícios aos veteranos que
se estenderão ao futuro distante, disparam para a estratosfera. Variam de entre US$ 1 trilhão e US$ 2 trilhões, nos cálculos do Serviço Orçamentário do
Congresso, a até US$ 4,5 trilhões, nas contas dos economistas Joseph Stiglitz e Linda
Bilmes. Estamos falando no
equivalente ao valor de entre
1,5 e 7 resgates, em dinheiro dos
contribuintes, desperdiçado no
atoleiro do Iraque.
O governo Bush, em negociações com o governo iraquiano,
conseguiu arrancar um ano
adicional para a retirada das
tropas americanas; a data foi
adiada de 2010 -o ano sugerido por Barack Obama e pelo
premiê iraquiano Nouri al Maliki- para 2011. De acordo com
entrevista de Maliki a uma estação de TV iraquiana, essa mudança deriva da preocupação
do governo com a "situação interna" nos EUA -ou seja, a
campanha de John McCain.
"Na verdade", disse Maliki, "a
data final seria o final de 2010, e
o período entre o final de 2010 e
o final de 2011 ficaria reservado
à retirada de todas as tropas remanescentes no Iraque, mas
eles pediram uma mudança [de
datas] devido às circunstâncias
políticas, relacionadas à situação interna dos EUA. De modo
que, em vez de o fim de 2010
marcar a data de retirada, com
um ano de prazo para a saída
total, mencionaremos 2011 como a data final".
No Congresso
Ou seja, estamos falando em
mais entre US$ 150 bilhões e
US$ 180 bilhões em 2011 -mais
ou menos o montante inicial
que seria investido pelo governo para salvar a economia.
Imaginem a situação em que
poderíamos estar caso a guerra
no Iraque não tivesse acontecido. Poderíamos realizar múltiplos resgates.
Como aponta Chalmers
Johnson em "We Have the Money" [nós temos o dinheiro],
"se não conseguirmos reduzir
nossos gastos militares de maneira severa, a bancarrota dos
EUA é inevitável. Como demonstra o colapso em Wall
Street, isso já deixou de ser uma
possibilidade abstrata e se torna cada vez mais provável".
Que estranho, portanto, que
nenhum líder político ao menos pisque quando um novo e
descomunal orçamento para o
Pentágono passa sem objeções
pela Câmara e é aprovado sem
debate no Senado, enquanto
negociadores em Washington
lutam para encontrar montante semelhante para enfrentar o
colapso financeiro. Os políticos
convencionais tampouco se incomodam em estabelecer qualquer conexão entre aquele orçamento e os fundos de que não
dispomos para outros usos, ou
entre o saque ao Iraque e o saque ao sistema financeiro -e,
em ambos os casos, o saque ao
contribuinte dos EUA.
TOM ENGELHARDT é co-fundador do American
Empire Project e autor de "The End of Victory
Culture", entre outros
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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