São Paulo, quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Próximo Texto | Índice

Zelaya volta a pregar resistência popular

Contrariando apelos do Brasil para que não insufle violência, hondurenho convoca protestos contra fechamento de rádio e TV

Um dos pivôs da deposição de presidente, chefe das Forças Armadas prevê uma solução "nos próximos dias" para a crise institucional


Joel Silva/Folha Imagem
Manifestantes esticam bandeira de Honduras em frente à polícia em Tegucigalpa

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, voltou a exortar seus seguidores a protestar ontem, apesar dos apelos do Brasil para que não use a embaixada do país, onde está refugiado há dez dias, para fazer pronunciamentos que possam desencadear violência no país.
Desta vez, Zelaya pediu uma greve de fome contra o fechamento anteontem da rádio Globo e do canal 36, os principais meios de comunicação que o apoiavam.
"Toda a resistência, todo o povo, sem distinção de cor, deve ir lutar para que devolvam a frequência ao canal 36 e à rádio Globo. Essa é a nossa missão neste momento. (...) Vamos parar diante das embaixadas, com jejum, com greve de fome, com plantões até que devolvam a frequência", disse Zelaya, dirigindo-se à rádio Globo, que desde ontem só transmite via internet.
Sem seus principais meios de comunicação e com o país e com os direitos individuais restringidos desde domingo à noite, a exortação de Zelaya teve pouco eco no país. Em Tegucigalpa, uma manifestação pró-Zelaya reuniu apenas cerca de 350 pessoas.
O general Romeo Vásquez, chefe das Forças Armadas e um dos pivôs da deposição de Zelaya, previu ontem uma solução "nos próximos dias" da crise política hondurenha.
Sem entrar em detalhes, Vásquez afirmou há processo de diálogo em curso entre representantes de ambas as partes e que logo se pode chegar a uma solução para o impasse.
"Tenho certeza de que Honduras encontrará uma saída pacífica para a para a crise que estamos vivendo. Todos os setores da sociedade deveriam colocar de lado suas diferenças e unir-se em nome da nação."
Zelaya disse que as declarações de Vásquez "são um símbolo de que eles estão seriamente atingidos, porque o golpe não deu certo".
Dias antes da sua deposição, Zelaya tentou exonerar Vásquez, mas a Corte Suprema ordenou que ele reconduzisse o militar ao posto.
O presidente deposto não deu ontem sinais de que a negociação esteja caminhando. Ele classificou de "golpe dentro do golpe" a proposta de que ele e o presidente golpista, Roberto Micheletti, renunciem juntos.
Questionado pela Folha, Zelaya confirmou o contato com Artur Corrales, emissário de Micheletti que visitou duas vezes a embaixada, mas disse que não houve nenhum avanço.

Arias
Fora de Honduras, o mediador da crise e presidente da Costa Rica, Óscar Arias, advertiu que as eleições de 29 de novembro não serão reconhecidas internacionalmente se realizadas sob os golpistas. Para Arias, Micheletti não moveu um dedo de sua posição inicial nas negociações para a volta de Zelaya. Desde o começo, o governo golpista rejeita qualquer acordo que preveja a restituição do líder deposto.
Para o costa-riquenho, o golpe de junho foi um "dramático e histórico recuo" que precisa ser corrigido por meio de eleições livres e transparentes com Zelaya na Presidência. No começo do mês, Arias chegou a admitir à Folha a possibilidade de que o pleito pacifique o país.
O presidente da Costa Rica abriu ainda a possibilidade de alterar alguns pontos do Acordo de San José em nome do entendimento entre as partes, mas afirmou que a sua proposta é "a única sobre a mesa".

EUA
Zelaya qualificou de "desafortunada" a posição assumida pelos EUA na Organização dos Estados Americanos (OEA), de se recusar a assinar uma condenação em termos fortes ao golpe de junho -em clara divergência com o Brasil.
Para o presidente deposto, o representante americano na entidade, Lewis Amselem, é um "idiota e irresponsável". "Ele foi muito grosseiro." Na reunião, Amselem afirmou que a volta de Zelaya a Honduras foi "tola e irresponsável".
Zelaya, porém, disse confiar em que "a secretária de Estado [dos EUA] Hillary Clinton e o presidente Obama estão trabalhando pela minha restituição e pela reconstrução do sistema democrático hondurenho"


Próximo Texto: Polícia retém diplomata brasileiro por uma hora
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.