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Zelaya volta a pregar resistência popular
Contrariando apelos do Brasil para que não insufle violência, hondurenho convoca protestos contra fechamento de rádio e TV
Um dos pivôs da deposição de presidente, chefe das Forças Armadas prevê uma solução "nos próximos dias" para a crise institucional
Joel Silva/Folha Imagem
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Manifestantes esticam bandeira de Honduras em frente à polícia em Tegucigalpa
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
O presidente deposto de
Honduras, Manuel Zelaya, voltou a exortar seus seguidores a
protestar ontem, apesar dos
apelos do Brasil para que não
use a embaixada do país, onde
está refugiado há dez dias, para
fazer pronunciamentos que
possam desencadear violência
no país.
Desta vez, Zelaya pediu uma
greve de fome contra o fechamento anteontem da rádio Globo e do canal 36, os principais
meios de comunicação que o
apoiavam.
"Toda a resistência, todo o
povo, sem distinção de cor, deve ir lutar para que devolvam a
frequência ao canal 36 e à rádio
Globo. Essa é a nossa missão
neste momento. (...) Vamos parar diante das embaixadas, com
jejum, com greve de fome, com
plantões até que devolvam a
frequência", disse Zelaya, dirigindo-se à rádio Globo, que
desde ontem só transmite via
internet.
Sem seus principais meios de
comunicação e com o país e
com os direitos individuais restringidos desde domingo à noite, a exortação de Zelaya teve
pouco eco no país. Em Tegucigalpa, uma manifestação pró-Zelaya reuniu apenas cerca de
350 pessoas.
O general Romeo Vásquez,
chefe das Forças Armadas e um
dos pivôs da deposição de Zelaya, previu ontem uma solução
"nos próximos dias" da crise
política hondurenha.
Sem entrar em detalhes, Vásquez afirmou há processo de
diálogo em curso entre representantes de ambas as partes e
que logo se pode chegar a uma
solução para o impasse.
"Tenho certeza de que Honduras encontrará uma saída pacífica para a para a crise que estamos vivendo. Todos os setores da sociedade deveriam colocar de lado suas diferenças e
unir-se em nome da nação."
Zelaya disse que as declarações de Vásquez "são um símbolo de que eles estão seriamente atingidos, porque o golpe não deu certo".
Dias antes da sua deposição,
Zelaya tentou exonerar Vásquez, mas a Corte Suprema ordenou que ele reconduzisse o
militar ao posto.
O presidente deposto não
deu ontem sinais de que a negociação esteja caminhando. Ele
classificou de "golpe dentro do
golpe" a proposta de que ele e o
presidente golpista, Roberto
Micheletti, renunciem juntos.
Questionado pela Folha, Zelaya confirmou o contato com
Artur Corrales, emissário de
Micheletti que visitou duas vezes a embaixada, mas disse que
não houve nenhum avanço.
Arias
Fora de Honduras, o mediador da crise e presidente da
Costa Rica, Óscar Arias, advertiu que as eleições de 29 de novembro não serão reconhecidas internacionalmente se realizadas sob os golpistas. Para
Arias, Micheletti não moveu
um dedo de sua posição inicial
nas negociações para a volta de
Zelaya. Desde o começo, o governo golpista rejeita qualquer
acordo que preveja a restituição do líder deposto.
Para o costa-riquenho, o golpe de junho foi um "dramático
e histórico recuo" que precisa
ser corrigido por meio de eleições livres e transparentes com
Zelaya na Presidência. No começo do mês, Arias chegou a
admitir à Folha a possibilidade
de que o pleito pacifique o país.
O presidente da Costa Rica
abriu ainda a possibilidade de
alterar alguns pontos do Acordo de San José em nome do entendimento entre as partes,
mas afirmou que a sua proposta é "a única sobre a mesa".
EUA
Zelaya qualificou de "desafortunada" a posição assumida
pelos EUA na Organização dos
Estados Americanos (OEA), de
se recusar a assinar uma condenação em termos fortes ao golpe de junho -em clara divergência com o Brasil.
Para o presidente deposto, o
representante americano na
entidade, Lewis Amselem, é um
"idiota e irresponsável". "Ele
foi muito grosseiro." Na reunião, Amselem afirmou que a
volta de Zelaya a Honduras foi
"tola e irresponsável".
Zelaya, porém, disse confiar
em que "a secretária de Estado
[dos EUA] Hillary Clinton e o
presidente Obama estão trabalhando pela minha restituição e
pela reconstrução do sistema
democrático hondurenho"
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