São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2004

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O IMPÉRIO VOTA - RETA FINAL

Em vídeo, o terrorista saudita se dirige aos americanos, comenta a eleição dos EUA e diz que Kerry é a melhor alternativa

Bin Laden reaparece a 4 dias da eleição

DA REDAÇÃO

Quatro dias antes da eleição presidencial americana, a TV árabe Al Jazira exibiu ontem um vídeo em que o líder da rede terrorista Al Qaeda, Osama bin Laden, critica o presidente George W. Bush e pela primeira vez admite diretamente ter ordenado os ataques de 11 de setembro de 2001.
"Alá sabe que não nos ocorreu atacar as torres, mas, depois que nossa paciência se esgotou e vimos a injustiça e inflexibilidade da aliança americana-israelense em relação à nossa gente na Palestina e no Líbano, isso veio à minha mente", disse o terrorista com voz calma e firme. Bin Laden acusou Bush de "continua enganando e escondendo a verdade" da população americana e acrescentou: "Portanto continuam existindo as razões para se repetir o que já ocorreu".

Bush responde
Bush, reagindo à exibição do vídeo, disse que as novas ameaças de Bin Laden não amedrontarão o país. Ele foi informado da existência da fita pela assessora de Segurança Nacional Condoleezza Rice enquanto viajava no avião presidencial.
"Deixe-me ser bem claro: os americanos não serão intimidados ou influenciados por um inimigo de nosso país. Eu tenho certeza de que o senador Kerry concorda com isso", disse o presidente durante uma viagem de campanha em Toledo (Ohio). "Estamos em guerra contra esses terroristas", prosseguiu.
No aeroporto de West Palm Beach (Flórida), o candidato democrata também comentou a fita. "Em resposta ao vídeo, deixe-me afirmar claramente, muito claramente, que nós, americanos, estamos unidos em nossa decisão de perseguir e destruir Osama bin Laden e os terroristas", disse Kerry.
Scott McClellan, porta-voz da Casa Branca, disse que o vídeo deve ser autêntico. "A comunidade de inteligência continua a analisar a fita. Se houver inteligência acionável, iremos agir a respeito." O porta-voz afirmou ainda que não há planos imediatos de elevar o nível de alerta no país contra ameaças terroristas. "Isso é algo que analisamos o tempo inteiro. Já estamos em um estado elevado de atenção."
Há cerca de uma semana, funcionários de forças de segurança e de agências de inteligência do governo americano disseram ao jornal "Washington Post" que não haviam encontrado evidências diretas sobre planos de ataques terroristas vinculados à eleição.
Trata-se do primeiro vídeo divulgado com declarações de Bin Laden em mais de um ano. A gravação, na qual o saudita se refere à eleição da próxima terça-feira, mostra Bin Laden vestido com uma túnica branca, manto e turbante, lendo um texto previamente escrito, em frente a um fundo de pano marrom.
Com a aparente intenção de influenciar o resultado da disputa presidencial, Bin Laden afirmou que "a melhor maneira de evitar um novo desastre" era não provocar a ira árabe e sugeriu que os democratas seriam uma melhor alternativa. "Liberais [termo usado nos EUA para se referir tanto a esquerdistas como a membros e simpatizantes do Partido Democrata] não negligenciam a sua segurança, ao contrário de Bush, que diz que nós odiamos a liberdade."
Se a intenção do terrorista era a de ajudar Kerry a vencer Bush, talvez a estratégia venha a provocar o resultado inverso. Durante toda a campanha os republicanos bateram na tecla de que Kerry é despreparado para enfrentar o terrorismo. Nesse tema, as pesquisas de opinião indicam que a maioria dos americanos considera Bush bastante superior ao senador de Massachusetts.
Analistas políticos acham provável que o candidato democrata venha a perder votos com a iniciativa de Bin Laden. "Minha reação visceral é de que poderá prejudicar Kerry. Não acredito que o povo americano irá aceitar bem Osama bin Laden se intrometendo na nossa eleição", afirmou Joel Goldstein, professor de ciências políticas da Universidade Saint Louis.
"Kerry vai dizer: "Por que esse cara ainda está solto nos ameaçando? Por que ele ainda está mandando vídeos? Por que ele ainda não foi detido?" Mas ameaças estrangeiras geralmente trabalham a favor do comandante-em-chefe", afirmou Michael Lewis-Beck, professor da Universidade de Iowa.
O líder terrorista -durante o cerca de um minuto que durou a mensagem exibida pela Al Jazira e reproduzida pelas principais redes de TV dos EUA- disse que a administração de Bush se parece com governos árabes corruptos e ainda ridicularizou o presidente, fazendo uma referência à sua reação de não interromper a leitura de uma história infantil em uma escola quando foi informado sobre o ataque à segunda torre do World Trade Center.
"Jamais nos ocorreu que o comandante-em-chefe do país iria deixar 50 mil cidadãos nas duas torres para enfrentar aqueles horrores sozinhos... porque achou que ouvir uma criança falando sobre suas cabras era mais importante", disse Bin Laden.
Um editor da rede árabe de TV sediada no Qatar disse que a fita de vídeo, com cinco minutos de gravação, foi recebida ontem. O Departamento de Estado americano, segundo um alto funcionário do órgão que não quis revelar seu nome, pediu ao governo do Qatar, que financia a Al Jazira, para que o vídeo não fosse exibido.


Com agências internacionais


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