São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2004

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URUGUAI

O oposicionista Tabaré Vázquez pode ser eleito amanhã, em primeiro turno

"Não decepcionarei a esquerda"

CLÁUDIA DIANNI
ENVIADA ESPECIAL A MONTEVIDÉU

Tabaré Vázquez, o candidato da coalizão de esquerda Frente Ampla que lidera todas as pesquisas para a eleição presidencial de amanhã no Uruguai, disse que, se ganhar, seu governo não irá decepcionar a esquerda de seu país, como aconteceu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que recebe críticas desse setor, inclusive em seu próprio partido.
"Nosso programa foi feito em conjunto e aprovado por 500 convencionais de diferentes partidos. Houve apenas uma abstenção. Isso significa que aprovaram nossa proposta de governo. E, se os uruguaios nos elegerem, será porque também aprovam. Portanto, não haverá decepção", disse o candidato em entrevista coletiva concedida à imprensa estrangeira ontem, em que fez vários elogios ao presidente Lula.
Vázquez tem no currículo uma antiga militância de esquerda, com propostas que já foram consideradas radicais. Mas tem sido comparado ao presidente brasileiro pela moderação de seu atual discurso e por propostas que incluem o setor privado.
"Não se pode clonar a experiência de um país [Brasil] por causa da semelhanças das propostas", disse Vázquez, que, porém, demonstra gostar da comparação com Lula. Ele disse que o "caráter sério e responsável" de suas propostas que, segundo ele, vão "atender à emergência social no país", são uma semelhança entre seu eventual governo e o de Lula.
Entre as propostas parecidas com as do governo do PT estão a criação de programas sociais para famílias carentes em troca da manutenção de criança e adolescentes na escola, a criação de parcerias entre os setores público e privado e o respeito aos contratos e acordos com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
O senador Danilo Artori, cotado para ser o ministro da Economia de Vázquez, disse que a esquerda deve buscar uma alternativa entre o Estado e o setor privado. "É isso que Lula está fazendo. Ele está ganhando confiança e credibilidade. A esquerda está em pleno processo de renovação", disse.
Se forem confirmadas as pesquisas de intenção de voto e Vázquez se tornar o primeiro presidente de esquerda da história do país, o candidato disse que vai alterar a lei que anistiou os repressores da ditadura militar uruguaia (1973-1984), a exemplo da discussão atualmente em curso na Suprema Corte da Argentina.
Segundo Vázquez, a lei que estabelece a caducidade dos crimes da ditadura foi aprovada pela população em 1989. "Como somos a favor das consultas populares, não podemos dizer que elas só valem quando o resultado nos agrada. Temos de respeitar", disse.
Segundo ele, os governos posteriores ao plebiscito ignoraram um artigo da lei que estabelece que o Executivo deve investigar desaparecimentos políticos. "Isso vamos fazer. Não pretendemos ignorar esse instrumento", disse.


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