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ORIENTE MÉDIO
Redes de televisão e sites disputam atenção do público, cujo interesse aumenta durante mês sagrado do Ramadã
Mundo árabe vê guerra na mídia entre Al Qaeda e oponentes
HASSAN FATTAH
DO "NEW YORK TIMES", NA ARÁBIA SAUDITA
A batalha por corações e mentes
muçulmanos é hoje travada em
telas de TV e monitores de computador, e as massas que alternam jejum e banquetes no Ramadã oferecem uma audiência sempre disposta a assistir.
Pelo menos duas séries de TV
inovadoras se concentram nos
danos que o extremismo vem
causando no mundo muçulmano, enquanto uma organização de
mídia estreitamente associada à
Al Qaeda deu início a um programa de videonotícias pela internet
para contrabalançar o que caracteriza como "mentiras e propaganda" difundidas até mesmo por
canais árabes de notícias via satélite, como a Al Jazira, que já sofreu
acusações de subestimar o grau
de atividade da Al Qaeda.
As duas minisséries são uma pequena parte da vasta programação de comédias, dramas de época e histórias de amor veiculada
no Ramadã por mais de cem canais via satélite neste ano. Cerca
de dois terços da programação
original árabe produzida durante
o ano são transmitidos no nono
mês do calendário islâmico, durante o qual as famílias se reúnem
à noite para quebrar o jejum que
observam de dia, e os anunciantes
investem mais da metade de suas
verbas nesse período. Mas as duas
minisséries representam algo novo para as audiências árabes.
"É a primeira vez, nos dramas
árabes, que vemos pessoas que
acreditam no Alcorão e ainda assim fazem o mal", disse Ali al Ahmed, diretor da Abu Dhabi TV.
Toda noite, às 23h30, horário
nobre na Arábia Saudita durante
o Ramadã, o canal que ele dirige
exibe "A Estrada Difícil", que conta a história de um correspondente fictício de TV envolvido na produção de um documentário sobre
os mujahidin do Afeganistão, o
qual termina por descobrir corrupção e oportunismo na causa
dos combatentes islâmicos.
Às 23h, a saudita Middle East
Broadcasting Company exibe "As
Belas Virgens", baseada frouxamente na história real de um ataque de militantes a um complexo
residencial que abriga estrangeiros na Arábia Saudita e causou 17
mortes em 2004. Produzida na Síria, a história começa logo após o
ataque, com uma mulher ferida
narrando sua história ao repórter,
e acompanha as vidas das vítimas
e dos agressores e sua perturbadora causa, enfatizando a crueldade e a corrupção da Al Qaeda.
A exibição da série é introduzida por uma dedicatória "à memória das vítimas inocentes de ataques terroristas" e começa com
uma citação: "Silenciar diante do
crime também é crime".
O programa noticioso na internet também procura atrair as
massas que o Ramadã torna disponíveis. Os jovens árabes correm
aos computadores depois das festividade noturnas, causando queda na velocidade de download.
Pouco antes do Ramadã, a Frente Mundial de Mídia Islâmica,
grupo que muitos consideram
porta-voz da Al Qaeda, divulgou
uma proclamação em diversos fóruns de mensagens na internet e
conclamou muçulmanos a colaborar com seus conhecimentos
de produção e edição de vídeo.
Em setembro, ela começou a
transmitir um programa noticioso de meia hora, "A Voz do Califado", exibido em sites cujos endereços são regularmente alterados.
"Trata-se de uma guerra na mídia entre a Al Qaeda e seus oponentes", disse Montasser al Zayat,
advogado e ex-porta-voz de um
grupo militante egípcio. Ele disse
que Ayman al Zawahiri, o número dois da Al Qaeda, estava "ávido
por transmitir vídeos porque desejava passar a mensagem de que
a estrutura organizacional do grupo ainda existe e dizer aos americanos que ele continua lá".
Tradução de Paulo Migliacci
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