São Paulo, domingo, 30 de outubro de 2005

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ORIENTE MÉDIO

Redes de televisão e sites disputam atenção do público, cujo interesse aumenta durante mês sagrado do Ramadã

Mundo árabe vê guerra na mídia entre Al Qaeda e oponentes

HASSAN FATTAH
DO "NEW YORK TIMES", NA ARÁBIA SAUDITA

A batalha por corações e mentes muçulmanos é hoje travada em telas de TV e monitores de computador, e as massas que alternam jejum e banquetes no Ramadã oferecem uma audiência sempre disposta a assistir.
Pelo menos duas séries de TV inovadoras se concentram nos danos que o extremismo vem causando no mundo muçulmano, enquanto uma organização de mídia estreitamente associada à Al Qaeda deu início a um programa de videonotícias pela internet para contrabalançar o que caracteriza como "mentiras e propaganda" difundidas até mesmo por canais árabes de notícias via satélite, como a Al Jazira, que já sofreu acusações de subestimar o grau de atividade da Al Qaeda.
As duas minisséries são uma pequena parte da vasta programação de comédias, dramas de época e histórias de amor veiculada no Ramadã por mais de cem canais via satélite neste ano. Cerca de dois terços da programação original árabe produzida durante o ano são transmitidos no nono mês do calendário islâmico, durante o qual as famílias se reúnem à noite para quebrar o jejum que observam de dia, e os anunciantes investem mais da metade de suas verbas nesse período. Mas as duas minisséries representam algo novo para as audiências árabes.
"É a primeira vez, nos dramas árabes, que vemos pessoas que acreditam no Alcorão e ainda assim fazem o mal", disse Ali al Ahmed, diretor da Abu Dhabi TV.
Toda noite, às 23h30, horário nobre na Arábia Saudita durante o Ramadã, o canal que ele dirige exibe "A Estrada Difícil", que conta a história de um correspondente fictício de TV envolvido na produção de um documentário sobre os mujahidin do Afeganistão, o qual termina por descobrir corrupção e oportunismo na causa dos combatentes islâmicos.
Às 23h, a saudita Middle East Broadcasting Company exibe "As Belas Virgens", baseada frouxamente na história real de um ataque de militantes a um complexo residencial que abriga estrangeiros na Arábia Saudita e causou 17 mortes em 2004. Produzida na Síria, a história começa logo após o ataque, com uma mulher ferida narrando sua história ao repórter, e acompanha as vidas das vítimas e dos agressores e sua perturbadora causa, enfatizando a crueldade e a corrupção da Al Qaeda.
A exibição da série é introduzida por uma dedicatória "à memória das vítimas inocentes de ataques terroristas" e começa com uma citação: "Silenciar diante do crime também é crime".
O programa noticioso na internet também procura atrair as massas que o Ramadã torna disponíveis. Os jovens árabes correm aos computadores depois das festividade noturnas, causando queda na velocidade de download.
Pouco antes do Ramadã, a Frente Mundial de Mídia Islâmica, grupo que muitos consideram porta-voz da Al Qaeda, divulgou uma proclamação em diversos fóruns de mensagens na internet e conclamou muçulmanos a colaborar com seus conhecimentos de produção e edição de vídeo.
Em setembro, ela começou a transmitir um programa noticioso de meia hora, "A Voz do Califado", exibido em sites cujos endereços são regularmente alterados.
"Trata-se de uma guerra na mídia entre a Al Qaeda e seus oponentes", disse Montasser al Zayat, advogado e ex-porta-voz de um grupo militante egípcio. Ele disse que Ayman al Zawahiri, o número dois da Al Qaeda, estava "ávido por transmitir vídeos porque desejava passar a mensagem de que a estrutura organizacional do grupo ainda existe e dizer aos americanos que ele continua lá".


Tradução de Paulo Migliacci

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