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Condições de vida no Iraque pouco evoluíram
LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO
Quando anunciou o fim dos
principais combates no Iraque,
George W. Bush disse que estava
orgulhoso "em ser o comandante-em-chefe das Forças Armadas". Pois passados 30 meses do
discurso (completados nesta terça) e gastos mais de US$ 200 bilhões, o presidente americano
não tem muito de que se orgulhar.
O país que ele invadiu "para levar
a democracia", é verdade, livrou-se de um ditador sangüinário.
Mas seus habitantes não vivem
muito melhor do que antes.
Naquele 1º de maio, a bordo de
um porta-aviões no Pacífico,
Bush advertiu que teria "um trabalho muito difícil pela frente".
Prometeu que os EUA ficariam
no Iraque até que esse trabalho
fosse concluído. Mas não parecia
esperar que, após levar míseras
dez semanas para derrotar o
Exército de Saddam Hussein, os
progressos ocorreriam em ritmo
tão lento, e a reconstrução seria
solapada por uma insurgência
que, só no mês que termina, matou mais de 250 civis iraquianos.
O fornecimento de eletricidade
ainda é intermitente em todo o
país. Em média, os iraquianos
usufruíram em outubro de 15 horas diárias de energia elétrica.
Trinta meses não foram suficientes para atingir a meta americana
que, medida em megawatts, ainda
está quase 20% aquém. O índice
de desemprego, há um mês, afetava de 30% a 40% da população.
Apenas 37% dos lares iraquianos
tinham acesso ao sistema de esgotos -sendo que fora de Bagdá essa média caía para menos de 10%.
A única meta americana que foi
superada, ainda que com atraso,
foi a de acesso à telefonia. O plano
era que houvesse 1,1 milhão de linhas telefônicas residenciais no
país em janeiro de 2004. Esse número foi atingido em maio daquele ano, e hoje são mais de 4,5
milhões de linhas. Já o acesso à internet se restringe a 147 mil pontos residenciais, em uma população de 26 milhões.
Petróleo e segurança
Também a tão aguardada recuperação da indústria petroleira do
país ainda está por acontecer. Em
outubro, foi exportada por dia
uma média de 2,15 milhões de
barris de petróleo, também abaixo da meta de 2,5 milhões - o
mesmo volume exportado pelo
regime de Saddam sob as limitadoras sanções da ONU. O Iraque
tem a terceira maior reserva conhecida de petróleo do mundo.
Os números constam da última
versão, publicada na quinta, do
Iraq Index. (O projeto é dirigido
por Michael O'Hanlon, especialista em Iraque do Instituto Brookings, de Washington, e professor
da Universidade de Princeton.)
Mostram sobretudo que enquanto o progresso avança em
passos lentos, o controle sobre a
segurança vai se perdendo.
Na última semana, as baixas
americanas desde a invasão romperam a barreira psicológica dos
2.000 soldados mortos. Para os civis iraquianos, o saldo é muito
mais trágico: a estimativa mais
modesta do grupo independente
Iraq Body Count, que desde o início do conflito tabula as mortes civis -o comando americano não
faz tal cálculo- estima 26,7 mil
mortos. Mais de 230 estrangeiros
já foram seqüestrados no país, 42
deles foram mortos. E pela última
estimativa feita pelo Pentágono,
em julho, a insurgência já contava
com 20 mil em suas fileiras. O
contingente americano no Iraque,
por sua vez, também nunca foi tão
amplo: 161 mil homens, segundo
foi divulgado na última quinta.
Apesar de a nova Constituição
do país ter sido aprovada e de eleições para a Assembléia Nacional,
da qual sairá um novo governo,
estarem marcadas para 15 de dezembro, menos da metade dos
iraquianos -47%- acha que o
país caminha na direção certa,
conforme levantamento do Instituto Internacional Republicano
feito entre os dias 9 e 11 deste mês.
Do outro lado do oceano, o pessimismo não é menor. A aprovação do modo como Bush vem
conduzindo as ações no Iraque
está, na maioria das pesquisas,
abaixo dos 40%. No já longínquo
1º de maio, a bordo do porta-aviões e sob uma faixa de "missão
cumprida", o presidente contava
com o apoio de 75% dos americanos em sua empreitada.
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