São Paulo, domingo, 30 de outubro de 2005

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Condições de vida no Iraque pouco evoluíram

LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO

Quando anunciou o fim dos principais combates no Iraque, George W. Bush disse que estava orgulhoso "em ser o comandante-em-chefe das Forças Armadas". Pois passados 30 meses do discurso (completados nesta terça) e gastos mais de US$ 200 bilhões, o presidente americano não tem muito de que se orgulhar. O país que ele invadiu "para levar a democracia", é verdade, livrou-se de um ditador sangüinário. Mas seus habitantes não vivem muito melhor do que antes.
Naquele 1º de maio, a bordo de um porta-aviões no Pacífico, Bush advertiu que teria "um trabalho muito difícil pela frente". Prometeu que os EUA ficariam no Iraque até que esse trabalho fosse concluído. Mas não parecia esperar que, após levar míseras dez semanas para derrotar o Exército de Saddam Hussein, os progressos ocorreriam em ritmo tão lento, e a reconstrução seria solapada por uma insurgência que, só no mês que termina, matou mais de 250 civis iraquianos.
O fornecimento de eletricidade ainda é intermitente em todo o país. Em média, os iraquianos usufruíram em outubro de 15 horas diárias de energia elétrica. Trinta meses não foram suficientes para atingir a meta americana que, medida em megawatts, ainda está quase 20% aquém. O índice de desemprego, há um mês, afetava de 30% a 40% da população. Apenas 37% dos lares iraquianos tinham acesso ao sistema de esgotos -sendo que fora de Bagdá essa média caía para menos de 10%.
A única meta americana que foi superada, ainda que com atraso, foi a de acesso à telefonia. O plano era que houvesse 1,1 milhão de linhas telefônicas residenciais no país em janeiro de 2004. Esse número foi atingido em maio daquele ano, e hoje são mais de 4,5 milhões de linhas. Já o acesso à internet se restringe a 147 mil pontos residenciais, em uma população de 26 milhões.

Petróleo e segurança
Também a tão aguardada recuperação da indústria petroleira do país ainda está por acontecer. Em outubro, foi exportada por dia uma média de 2,15 milhões de barris de petróleo, também abaixo da meta de 2,5 milhões - o mesmo volume exportado pelo regime de Saddam sob as limitadoras sanções da ONU. O Iraque tem a terceira maior reserva conhecida de petróleo do mundo.
Os números constam da última versão, publicada na quinta, do Iraq Index. (O projeto é dirigido por Michael O'Hanlon, especialista em Iraque do Instituto Brookings, de Washington, e professor da Universidade de Princeton.)
Mostram sobretudo que enquanto o progresso avança em passos lentos, o controle sobre a segurança vai se perdendo.
Na última semana, as baixas americanas desde a invasão romperam a barreira psicológica dos 2.000 soldados mortos. Para os civis iraquianos, o saldo é muito mais trágico: a estimativa mais modesta do grupo independente Iraq Body Count, que desde o início do conflito tabula as mortes civis -o comando americano não faz tal cálculo- estima 26,7 mil mortos. Mais de 230 estrangeiros já foram seqüestrados no país, 42 deles foram mortos. E pela última estimativa feita pelo Pentágono, em julho, a insurgência já contava com 20 mil em suas fileiras. O contingente americano no Iraque, por sua vez, também nunca foi tão amplo: 161 mil homens, segundo foi divulgado na última quinta.
Apesar de a nova Constituição do país ter sido aprovada e de eleições para a Assembléia Nacional, da qual sairá um novo governo, estarem marcadas para 15 de dezembro, menos da metade dos iraquianos -47%- acha que o país caminha na direção certa, conforme levantamento do Instituto Internacional Republicano feito entre os dias 9 e 11 deste mês.
Do outro lado do oceano, o pessimismo não é menor. A aprovação do modo como Bush vem conduzindo as ações no Iraque está, na maioria das pesquisas, abaixo dos 40%. No já longínquo 1º de maio, a bordo do porta-aviões e sob uma faixa de "missão cumprida", o presidente contava com o apoio de 75% dos americanos em sua empreitada.

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