São Paulo, domingo, 30 de outubro de 2005

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REINO UNIDO

Futuro rei protege Kate como pode do assédio dos jornalistas

Namoro de William leva discrição à monarquia

YVONNE ROBERTS
DO "INDEPENDENT"


Kate é sensata, qualidade que pode oferecer proteção caso ela tenha um dia de lidar com as brutais maquinações do palácio
A imagem de uma moça em um ônibus de Londres, em fotos tiradas por paparazzi, pode se tornar um ícone especialmente em razão da escassez do produto. A foto mostra Catherine "Kate" Middleton, 23, a namorada do príncipe William, futuro rei britânico.
William freqüentemente transmite a impressão de que, se a monarquia pudesse ser persuadida a descer do trono antes de chegar a hora de ele assumir a coroa, abandonar a ribalta aristocrática não lhe custaria muito. O príncipe é um cidadão comum por instinto, senão por nascimento. Talvez isso explique em parte os motivos que o levaram a se interessar por Kate, filha de uma família de empresários oriundos da classe média, e não por uma obscura princesa da Ruritânia, com sobrenome repleto de hífens e vários ramos dúbios na árvore genealógica.
Na semana passada, o escritório de advocacia que representa Kate, o Harbottle & Lewis, enviou uma carta à mídia, insatisfeito com a cobertura que ela vem recebendo. Solicitaram que detalhes da vida pessoal de Middleton não fossem revelados.
Até agora, o jovem casal vinha desfrutando de uma trégua incerta com a mídia. O chamado Acordo de St. Andrews, sob o qual a imprensa se comprometeu a respeitar a privacidade do príncipe durante seus estudos universitários em troca de ocasionais entrevistas e oportunidades fotográficas, foi considerado um sucesso pelo príncipe herdeiro. Na universidade, onde ele e Kate se conheceram, moraram no mesmo alojamento e se apaixonaram, o casal vivia em um casulo artificial. Mas mais recentemente os dois têm sofrido intrusões mais sérias. Em uma viagem familiar de esqui a Klosters, no segundo trimestre, paparazzi perseguiram o casal por todo o complexo de esqui, galgaram árvores e tiraram fotos pela janela, uma prática que William considerou incômoda.
Chelsy Davy, 19, namorada do príncipe Harry, também enfrentou "perseguição". Em julho, advogados escreveram a jornais em nome dela, alertando às publicações de que não deveriam comprar fotos dos paparazzi que aparentemente estavam trabalhando no campus em que ela estudava e seguindo Davy em automóveis e motocicletas. Mas Kate e Chelsy têm pouco mais em comum -o que talvez explique o motivo para que a família real esteja tão contente com a presença de Kate. Enquanto Davy é descrita como arroz-de-festa, por ser vista saindo pela manhã de casas noturnas e por fumar como um estivador, dificilmente haveria uma consorte real mais perfeita que Middleton.
Kate é a mais velha dos três filhos da ex-comissária de bordo Carole e de Michael Middleton. A família vive em uma pequena aldeia no Condado de Berkshire, em uma casa de cinco dormitórios, e seus pais dirigem a Party Pieces, empresa que fornece acessórios para festas infantis.
Os colegas dos dias de universidade dizem que a auto-estima dela é considerável, e que as raízes desse sentimento vêm de sua vida familiar. Em resumo, ela é uma moça sensata -qualidade que pode oferecer proteção caso ela tenha um dia de lidar com as brutais maquinações do palácio. Uma de suas colegas de escola, Jessica Hay, diz que "Kate tem classe, vigor e a força mental necessária para sobreviver a essa exposição". Ou, ainda melhor, para evitá-la completamente.
Middleton teve excelente desempenho escolar e se saiu igualmente bem nos esportes. Era uma adolescente séria e estudiosa, um pouco tímida, e se recusava a participar das rodadas de vodca de seus colegas, limitando-se a amistosamente trabalhar como vigia. Na universidade, onde estudou história da arte, ela terminou por dividir um alojamento com William, outros colegas e um tremendo corta-barato -os guarda-costas do príncipe.
Mas existem aqueles que preferem atribuir o encontro do jovem casal a algo mais que coincidência. "Algumas pessoas bem informadas imaginam se o encontro entre ela e o príncipe na universidade possa ser realmente atribuído ao acaso", afirmou petulantemente o jornal "Spectator".
Tendo sobrevivido na atmosfera relativamente segura do campus universitário e à imprensa temporariamente tímida, o relacionamento do jovem casal agora terá de enfrentar desafios mais adultos. Diz-se que estão procurando uma casa onde possam continuar a viver juntos, mas o local teria de ser cuidadosamente inspecionado pelos serviços de segurança para garantir que o príncipe não esteja sujeito a qualquer ameaça terrorista. "William planeja passar lá suas licenças de final de semana da academia militar de Sandhurst", diz "um amigo". Sob as regras existentes, Middleton não pode contar com proteção semelhante à da família real antes do anúncio formal de um noivado (e William disse, não muito tempo atrás, que não pretende se casar antes dos 28 anos). Mas por enquanto ela parece calma quanto à segurança, faz compras em Bond Street e até (para espanto dos tablóides) toma o ônibus número 19.
O príncipe Charles e a rainha demonstraram aprovação tácita à escolha de William ao permitir que o par ocupasse um apartamento em Clarence House, a residência oficial do príncipe de Gales. Enquanto isso, Kate enviou seu currículo a galerias de arte, e diz-se que está estudando procurar emprego nas casas de leilões Christie's e Sotheby's. O casal estaria buscando um apartamento pequeno perto do Kensington Palace, antiga residência da princesa Diana, embora tenha rejeitado a oferta de um apartamento no palácio mesmo por medo de comparações entre Kate e Diana.
E fazem bem. Kate já foi comparada fisicamente à mãe de seu namorado -ou seja, ela é jovem, esbelta e atraente. Mas sem dúvida o casal preferiria que as comparações parassem por aí. Há ainda quem diga que Diana foi morta pela imprensa, como a galinha dos ovos de ouro. Não admira que William se empenhe tanto em proteger a namorada. Talvez o gosto de William para namoradas indique mais uma mudança em uma monarquia para a qual mudar de imagem é mais comum do que no caso de Madonna. Sob o rei William -e quem sabe a rainha Kate-, é possível que vejamos o abandono do dispendioso estilo atual, substituído por uma realeza barata e enxuta.
Tradução de Paulo Migliacci

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