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Para Siméus, premiê haitiano teme sua candidatura e interfere nela
DA REDAÇÃO
Leia, a seguir, a entrevista que o
candidato à Presidência do Haiti
Dumarsais Siméus concedeu por
telefone à Folha na última segunda-feira, de Porto Príncipe.
(FM)
Folha - Por que o sr. decidiu voltar ao Haiti e se candidatar à Presidência?
Dumarsais Siméus - Por duas razões. Em primeiro lugar, o Haiti
está quebrado, é um país onde a
maior parte das pessoas vive na
miséria, corrompido, sem esperança. Em segundo lugar, tenho
vivência internacional, credibilidade, sou administrador profissional e acredito que tenha a liderança e contatos internacionais
para atrair investidores estrangeiros para ajudar a criar empregos.
Folha - O premiê Gérard Latortue
age contra a sua candidatura. O
que está ocorrendo?
Siméus - Acredito que ele tenha
medo de alguma coisa, de eu ser
eleito pelo povo. Isso tem confundido a comunidade internacional,
incluindo representantes que estão aqui. Ele está interferindo no
processo político, especificamente na minha candidatura.
Folha - Qual é a sua avaliação da
missão de paz da ONU?
Siméus - Nos últimos três meses
definitivamente melhorou; eles
estão fazendo um trabalho muito
melhor, a segurança está muito
melhor. No entanto os pobres
querem que a missão ajude mais
com relação à comunidade, a colocar comida na mesa.
Folha - Como o sr. financia a sua
campanha, com dinheiro próprio
ou de doadores?
Siméus - Entrei nessa campanha
não para me tornar um político,
mas pelas razões que já falei e pelo
incentivo de amigos aqui, nos
EUA, na França e no Canadá. Essas pessoas que me incentivaram
são as responsáveis pelo levantamento dos fundos. Eu não estou
financiando a minha campanha.
Folha - Com relação a esses amigos, a sua empresa está estabelecida no Texas, e o sr. participou de
uma comissão sobre o Haiti por indicação do governador Jeb Bush,
irmão do presidente americano. O
sr. é próximo da família Bush?
Siméus - Eu tenho o meu negócio no Texas, de onde vem o presidente Bush. Há várias pessoas que
conheço como empresário: democratas, republicanos, pessoas
em Washington e em outros lugares. Conheço pessoas de todos os
partidos políticos.
Folha - O sr. conhece o presidente
Bush pessoalmente?
Siméus - Se você me perguntar
se, quando estou no Texas, almoço, janto ou jogo golfe com ele, a
resposta é não.
Folha - O sr. já veio ao Brasil?
Siméus - Viajei várias vezes no
seu país. Costumava trabalhar para a empresa Beatrice Foods, tínhamos uma base em Marília
(SP), uma grande empresa alimentícia chamada Ailiram.Estive
no Carnaval da Bahia, conheço o
Rio, onde tomei muitas caipirinhas e comi feijoada. Antes, trabalhava para uma empresa de alta
tecnologia [Atari], e fazíamos
muitos negócios com a Gradiente,
da família Staub.
Folha - Qual foi a sua impressão
das relações raciais no Brasil?
Siméus -Quando fui ao Brasil,
nenhum dos empresários com os
quais me encontrei se parecia
com alguém da Bahia. Estou apenas dizendo o óbvio: não me encontrei com ninguém que se parecia comigo nas grandes empresas.
Folha - No Haiti, os fãs de futebol
se dividem entre os que apóiam o
Brasil e os que torcem pela Argentina. Em que lado o sr. está?
Siméus -Quando o Brasil joga
contra a Argentina, estou sempre
do lado dos brasileiros. Os haitianos, desde os tempos de Pelé, são
a favor do Brasil. Provavelmente
os que torcem pela Argentina
aqui são os de pele mais clara.
Folha - Qual é a importância dos 2
milhões de haitianos no exterior?
Siméus -Eles enviam pelo menos
US$ 1 bilhão para os seus parentes
por ano. Sem esse dinheiro, o Haiti provavelmente não seria capaz
de sobreviver.
Folha - O sr. poderia descrever
brevemente a sua empresa e sua
trajetória de vida até abri-la?
Siméus - Temos duas fábricas,
uma na Carolina do Norte e outra
no Texas. Empregamos de 700 a
800 funcionários, dependendo da
época. Deixei o Haiti em 1961, estudei engenharia elétrica na Universidade Howard, em Washington. Mais tarde, fiz um mestrado
na Universidade de Chicago, onde estudei sob orientação de Milton Friedman. Nasci no coração
do Haiti. Meus pais são camponeses e nunca foram à escola. Tive
muita, muita sorte.
Folha - Será este o grande mote
de sua campanha: uma história de
sucesso para a população haitiana?
Siméus - É possível dizer isso.
Não usaria a palavra "sucesso",
pois é uma meta que se transforma. Quero oferecer aos haitianos
as mesmas oportunidades que tive. Cresci pobre. Quero assegurar
que as crianças pobres daqui tenham a oportunidade de se tornar dez vezes maiores do que eu.
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