São Paulo, domingo, 30 de outubro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para Siméus, premiê haitiano teme sua candidatura e interfere nela

DA REDAÇÃO

Leia, a seguir, a entrevista que o candidato à Presidência do Haiti Dumarsais Siméus concedeu por telefone à Folha na última segunda-feira, de Porto Príncipe. (FM)

Folha - Por que o sr. decidiu voltar ao Haiti e se candidatar à Presidência?
Dumarsais Siméus -
Por duas razões. Em primeiro lugar, o Haiti está quebrado, é um país onde a maior parte das pessoas vive na miséria, corrompido, sem esperança. Em segundo lugar, tenho vivência internacional, credibilidade, sou administrador profissional e acredito que tenha a liderança e contatos internacionais para atrair investidores estrangeiros para ajudar a criar empregos.

Folha - O premiê Gérard Latortue age contra a sua candidatura. O que está ocorrendo?
Siméus -
Acredito que ele tenha medo de alguma coisa, de eu ser eleito pelo povo. Isso tem confundido a comunidade internacional, incluindo representantes que estão aqui. Ele está interferindo no processo político, especificamente na minha candidatura.

Folha - Qual é a sua avaliação da missão de paz da ONU?
Siméus -
Nos últimos três meses definitivamente melhorou; eles estão fazendo um trabalho muito melhor, a segurança está muito melhor. No entanto os pobres querem que a missão ajude mais com relação à comunidade, a colocar comida na mesa.

Folha - Como o sr. financia a sua campanha, com dinheiro próprio ou de doadores?
Siméus -
Entrei nessa campanha não para me tornar um político, mas pelas razões que já falei e pelo incentivo de amigos aqui, nos EUA, na França e no Canadá. Essas pessoas que me incentivaram são as responsáveis pelo levantamento dos fundos. Eu não estou financiando a minha campanha.

Folha - Com relação a esses amigos, a sua empresa está estabelecida no Texas, e o sr. participou de uma comissão sobre o Haiti por indicação do governador Jeb Bush, irmão do presidente americano. O sr. é próximo da família Bush?
Siméus -
Eu tenho o meu negócio no Texas, de onde vem o presidente Bush. Há várias pessoas que conheço como empresário: democratas, republicanos, pessoas em Washington e em outros lugares. Conheço pessoas de todos os partidos políticos.

Folha - O sr. conhece o presidente Bush pessoalmente?
Siméus -
Se você me perguntar se, quando estou no Texas, almoço, janto ou jogo golfe com ele, a resposta é não.

Folha - O sr. já veio ao Brasil?
Siméus -
Viajei várias vezes no seu país. Costumava trabalhar para a empresa Beatrice Foods, tínhamos uma base em Marília (SP), uma grande empresa alimentícia chamada Ailiram.Estive no Carnaval da Bahia, conheço o Rio, onde tomei muitas caipirinhas e comi feijoada. Antes, trabalhava para uma empresa de alta tecnologia [Atari], e fazíamos muitos negócios com a Gradiente, da família Staub.

Folha - Qual foi a sua impressão das relações raciais no Brasil?
Siméus -
Quando fui ao Brasil, nenhum dos empresários com os quais me encontrei se parecia com alguém da Bahia. Estou apenas dizendo o óbvio: não me encontrei com ninguém que se parecia comigo nas grandes empresas.

Folha - No Haiti, os fãs de futebol se dividem entre os que apóiam o Brasil e os que torcem pela Argentina. Em que lado o sr. está?
Siméus -
Quando o Brasil joga contra a Argentina, estou sempre do lado dos brasileiros. Os haitianos, desde os tempos de Pelé, são a favor do Brasil. Provavelmente os que torcem pela Argentina aqui são os de pele mais clara.

Folha - Qual é a importância dos 2 milhões de haitianos no exterior?
Siméus -
Eles enviam pelo menos US$ 1 bilhão para os seus parentes por ano. Sem esse dinheiro, o Haiti provavelmente não seria capaz de sobreviver.

Folha - O sr. poderia descrever brevemente a sua empresa e sua trajetória de vida até abri-la?
Siméus -
Temos duas fábricas, uma na Carolina do Norte e outra no Texas. Empregamos de 700 a 800 funcionários, dependendo da época. Deixei o Haiti em 1961, estudei engenharia elétrica na Universidade Howard, em Washington. Mais tarde, fiz um mestrado na Universidade de Chicago, onde estudei sob orientação de Milton Friedman. Nasci no coração do Haiti. Meus pais são camponeses e nunca foram à escola. Tive muita, muita sorte.

Folha - Será este o grande mote de sua campanha: uma história de sucesso para a população haitiana?
Siméus -
É possível dizer isso. Não usaria a palavra "sucesso", pois é uma meta que se transforma. Quero oferecer aos haitianos as mesmas oportunidades que tive. Cresci pobre. Quero assegurar que as crianças pobres daqui tenham a oportunidade de se tornar dez vezes maiores do que eu.

Texto Anterior: Missão no Caribe: Milionário é surpresa das eleições no Haiti
Próximo Texto: Reino Unido: Namoro de William leva discrição à monarquia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.