São Paulo, terça-feira, 30 de outubro de 2007

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ELEIÇÃO NA ARGENTINA / O BALANÇO POLÍTICO

Cristina governará com maioria ampla

Ela terá controle do Congresso e apoio da maior parte dos governadores, mas eleitorado fica dividido entre pobres e ricos

Abstenção de 28%, a mais alta desde 1928, é outro fator de preocupação; proposta da presidente eleita é "pacto social"

Alejandro Pagni - 28.out.2007/France Presse
Cristina e Néstor Kirchner acenam a eleitores em Buenos Aires após a vitória dela

RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

Ao contrário de seu marido Néstor Kirchner, a primeira-dama Cristina Fernández de Kirchner chegará à Presidência argentina escudada em maioria no Congresso e uma sólida base entre os governadores de Províncias.
O kirchnerismo foi o grande ganhador das eleições de anteontem. Não só teve em Cristina a presidente eleita com maior vantagem sobre a segunda colocada desde a redemocratização do país -com 96/% das urnas apuradas, ela superava Elisa Carrió por 44,9 a 23, quase 22 pontos de vantagem contra os 16 de diferença entre Carlos Menem e José Bordon em 1995, recorde anterior. Também conseguiu maioria própria nas duas Casas do Congresso e saiu vitoriosa em todas as oito eleições provinciais realizadas no domingo.
Com isso, das 24 Províncias argentinas, nada menos que 19 serão governadas por aliados de Cristina. Juntas, elas representam 79% do eleitorado.
No Congresso, o governo ampliou de 41 para 44 o número de seus senadores, o que significa 61% do Senado. Na Câmara, o número ainda não estava fechado, mas a Frente para a Vitória devia somar 20 deputados aos 111 atuais e assim ultrapassar os 129 necessários para ter maioria absoluta na casa.
Mas os números da eleição também podem prenunciar problemas futuros para Cristina. O índice de abstenção chegou a 28%, o mais alto desde 1928 no país, onde o voto é obrigatório. A futura presidente também fracassou nas grandes cidades, o que contrastou com resultados nas regiões mais pobres (leia texto nesta página).

Kirchner x Kirchner
Em algumas Províncias, o apoio ao kirchnerismo gerou situações inusitadas. Em Mendoza, por exemplo, o kirchnerismo ganhou com o candidato da Frente para a Vitória, Celso Jaque; mas também perdeu porque o "radical K" Cesar Biffi, apoiado pelo governador Julio Cobos, agora vice-presidente eleito, ficou em segundo.
Cobos é o primeiro vice-presidente oriundo da União Cívica Radical (UCR) de um presidente peronista (os dois partidos são rivais históricos na Argentina). E cabe ao vice presidir as sessões do Senado.
O apoio nas Províncias e no Congresso não é nada desprezível para Cristina, que tem como um dos objetivos anunciados do seu governo um "pacto social" no qual a aliança com os governadores e a aprovação do Legislativo serão importantes.
Entre os governadores, o mais importante aliado da primeira-dama é Daniel Scioli. Vice-presidente de Kirchner, ele foi eleito por ampla margem em Buenos Aires (principal Província do país em eleitores, população e participação no PIB) -teve 48% dos votos, mais até do que os 45,9% de Cristina na Província. Buenos Aires deve ser um dos principais palcos do pacto social de Cristina, pois concentra a produção industrial e boa parte da agricultura argentina.

"Mesa pequena"
Cristina ainda terá o importante apoio de seu próprio marido. Kirchner não ocupará nenhum cargo no governo, mas pretende presidir o Partido Justicialista (peronista). Além disso, continuará fazendo parte da chamada "mesa pequena" que toma as decisões do governo, ao lado de Cristina e do chefe-de-gabinete Alberto Fernández, que deve ser mantido.
Em entrevista à TV argentina na noite de ontem, Cristina atribuiu a Kirchner sua vitória. "Creio que foi o reconhecimento de uma gestão, e eu fui beneficiada por isso." Questionada sobre o destino do presidente depois de 10 de dezembro, afirmou. "[Kirchner] vai ser o que sempre foi. Um animal político. Ele (...) ama profundamente a política, ama profundamente o seu país e tem um grande compromisso com a Argentina."


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