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análise
Vitória forte, mas com uma base estreita
JULIO BURDMAN
ESPECIAL PARA A FOLHA
Cristina Fernández de
Kirchner venceu as eleições com apoio majoritário dos eleitores, mais ou
menos como Alfonsín em
1983, Menem em 1989 e
1995, e De la Rúa em 1999.
Desde a feroz crise de dezembro de 2001, a Argentina havia perdido sua
qualidade de presidentes
com forte legitimidade
eleitoral: Rodríguez Saá e
Duhalde foram governantes de transição, e Kirchner chegou ao poder com
apenas 22% dos votos.
Mesmo assim, esse retorno à normalidade democrática não deixa de incluir algumas mudanças. A
oposição fragmentada terá de procurar uma nova
fisionomia. E o voto em
Cristina teve clara motivação social. Ao contrário de
Menem, que seduziu os
pobres mas incorporou os
setores de renda média e
alta -os eleitores de direita- em sua coalizão, a base eleitoral de Cristina é
exclusivamente peronista.
A força eleitoral é dado
importante. Caso tivesse
de enfrentar um segundo
turno, Cristina sofreria
um custoso desgaste. Ela
oferece muitas incógnitas
para um governo que enfrentará desafios inéditos:
a primeira mulher eleita
presidente; uma legisladora, quando todos os passados presidentes foram governadores; e mulher do
atual chefe de Estado, o
que gera curiosidade sobre
como será o diálogo íntimo que ela vai manter com
aquele que promete se
consolidar como líder político do peronismo.
Hiperpresidente
Fernández precisa iniciar seu governo com recursos próprios de autoridade, a fim de enfrentar as
demandas que receberá,
logo de saída, de sindicalistas, empresários e governadores, que vão apresentar a fatura pelo apoio.
O "pacto social" não é mais
que um espelho idealizado
do novo modelo corporativo de governo surgido na
Argentina do pós-crise.
Para os opositores, mesmo assim, a consolidação
eleitoral de Cristina
Kirchner é um sinal de
alarme; ela herdará não só
um esquema centralizado
de poder como, dizem, é
uma pessoa pouco suscetível às idéias alheias. Ela se
identifica ideologicamente com a social-democracia européia clássica, mas
é sul-americana e industrialista, compreende que
a Argentina precisa voltar
a se integrar ao mundo e
promete institucionalizar
o modelo "hiperpresidencialista" adotado depois da
crise. Ainda assim, terá de
responder à sua própria
base, que talvez se prove
refratária a diversas das
mudanças que sugere.
JULIO BURDMAN , 34, é cientista político na Universidade Belgrano e analista
do instituto Nueva Mayoria
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