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Voto oposicionista de grandes centros irrita ministro
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES
Os estratos mais pobres da
população argentina foram os
maiores responsáveis pela vitória de Cristina Kirchner e
de seus aliados no domingo.
Em cidades maiores e ricas,
como Buenos Aires, Córdoba
e San Luis, Cristina perdeu.
Nas Províncias mais pobres do
interior, principalmente no
Nordeste e no Norte, venceu
com ampla margem.
As urnas confirmaram a má
vontade que a classe média argentina ainda guarda em relação a Néstor Kirchner. Mas recompensaram amplamente o forte assistencialismo que marcou a sua gestão, com profusão
de programas e verbas sociais.
A Argentina de 2007 repetiu
o Brasil de 2006. No ano passado, Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) teve o apoio maciço de
eleitores mais pobres do Nordeste e Norte, mais atendidos
pelos benefícios sociais. Mas
teve de enfrentar um segundo
turno contra Geraldo Alckmin
(PSDB) por causa do eleitorado
do Sul e Sudeste.
Diante da nova derrota do
kirchnerismo em Buenos Aires,
o chefe-de-gabinete da Presidência, Alberto Fernández, reconheceu que "a classe média
definitivamente não confiou
em Cristina". E disse que os
portenhos deveriam "deixar de
votar e pensar como uma ilha".
Referindo-se aos eleitores da
capital argentina, acrescentou:
"Acho engraçado que os mais
arrogantes do país reclamem
da arrogância de Cristina".
Em Buenos Aires, venceu a
candidata a presidente da Coalizão Cívica, Elisa Carrió, com
quase 38% dos votos. Cristina
ficou com 24%. Em Córdoba, liderou Roberto Lavagna, com
35%. Cristina teve 24%.
Já na Província do Chaco, no
Nordeste e a mais pobre do
país, Cristina atingiu 50% dos
votos, mais da metade do que
foi dado a Lavagna, que ficou
em segundo com 22%. Em Salta, no Norte, Cristina teve 74%,
contra 12,5% de Lavagna.
Medidas voltadas às parcelas
mais pobres dos argentinos foram decisivas para pavimentar
a vitória de Cristina. Em termos absolutos, ela teve quase
8,2 milhões de votos -venceu a
eleição com o apoio de pouco
mais de 30% dos 27 milhões de
eleitores aptos a votar na Argentina. Cerca de 28% desse
eleitorado não votou.
Neste ano eleitoral, Néstor
Kirchner ampliou em 45% os
gastos estatais, cortou impostos dos trabalhadores que ganham menos, aumentou o valor das aposentadorias e subsidiou setores que empregam
mais gente com salários menores, como a construção civil.
Em Províncias pobres como
o Chaco, os índices de pobreza
ainda estão em 50%, mas a
maior parte dos pobres é atendida por programas sociais públicos que doam, no mínimo,
150 pesos (R$ 83) por indivíduo
ou família.
Todo esse "pacote de bondades" foi financiado por um "calote branco" que Kirchner vem
aplicando desde janeiro na dívida pública do país. Seu governo manipula os índices de inflação e utiliza o dado para remunerar os credores -ou seja, paga menos do que deveria. Boa
parte desses credores também
pertence à classe média.
O crescimento econômico de
51% nos anos Kirchner terminou por beneficiar os estratos
mais pobres. Sete entre cada
dez novos empregos formais
criados na Argentina entre
2003 e 2007 saíram de setores
que pagam 20% menos do que a
média do setor privado.
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