São Paulo, terça-feira, 30 de outubro de 2007

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ELEIÇÃO NA ARGENTINA / DESAFIO ECONÔMICO

Negociação da dívida deve ser reaberta

Governo quer fechar ciclo da moratória para atrair investimentos e aumentar oferta de produtos

Esse seria o caminho menos traumático, mas mais difícil, para combater surto inflacionário; aumento da cesta básica chega a 30%

DO ENVIADO A BUENOS AIRES

Uma nova pesquisa na Argentina revelou ontem que os preços dos produtos contidos na cesta básica do país projetam alta de 4,6% em outubro. Com isso, a inflação dos alimentos mais consumidos pelos argentinos já terá subido 30,1% neste ano. Os dados são da associação independente de consumidores Adelco, que realiza medições há 25 anos no país. Eles se chocam com os números oficiais. Para o Indec (o IBGE argentino), os preços dos alimentos e bebidas subiram "apenas" 8% neste ano.
O maior desafio da presidente eleita, Cristina Kirchner, será tentar controlar rapidamente a subida dos preços. O apoio que teve das classes mais baixas da população na eleição de domingo tende a esvaziar rapidamente caso a tendência de alta dos alimentos persista.
Cristina tem duas opções para lidar com o problema: 1) tomar medidas para esfriar a economia e conter os preços reduzindo a demanda; ou 2) convencer os setores empresariais a aumentar rapidamente os investimentos para ampliar a oferta de produtos. A expectativa é que o governo tente fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Mas há muitos obstáculos para concretizar a segunda opção -a melhor das duas.
Desde que deu um calote em sua dívida externa de US$ 132 bilhões no final de 2001, a Argentina está sem grandes fontes de financiamento de fora. Muitas empresas, especialmente européias, esperam uma solução para parte do débito para voltar a investir no país.
Há duas semanas, na reunião anual do FMI (Fundo Monetário Internacional), em Washington, o ministro Miguel Peirano (Economia) esteve com o novo diretor-gerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn. Ele prometeu "colaborar" com a Argentina para ajudar a negociar os termos de uma dívida de US$ 6,2 bilhões que o país tem com o Clube de Paris (que reúne 19 países ricos).
A solução para esse débito pode significar investimentos diretos europeus, hoje em compasso de espera, de US$ 8 bilhões. Outros países, em especial o Brasil, também estão de olho na Argentina. As crises dos últimos anos deixaram as companhias do país muito baratas. A estratégia mais comum é a de comprar as empresas já constituídas, e não necessariamente aumentar investimentos.
Na semana passada, o setor industrial argentino atingiu um recorde de 23 anos na utilização da capacidade instalada. Ela chegou a 78,7%, o que tende a levar as empresas a subir preços. No curto prazo, portanto, a solução para a inflação não perder totalmente o controle tende a incluir medidas que ajudem a esfriar a economia.
A mais imediata deve ser um corte no ritmo de crescimento dos gastos públicos, que subiram 45% neste ano eleitoral. Com isso, o governo tentaria ampliar economia que faz para pagar juros da dívida, aumentando a confiança sobre a sustentabilidade da economia. (FCZ)


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