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ELEIÇÃO NA ARGENTINA / DESAFIO ECONÔMICO
Negociação da dívida deve ser reaberta
Governo quer fechar ciclo da moratória para atrair investimentos e aumentar oferta de produtos
Esse seria o caminho menos traumático, mas mais difícil, para combater surto inflacionário; aumento da cesta básica chega a 30%
DO ENVIADO A BUENOS AIRES
Uma nova pesquisa na Argentina revelou ontem que os
preços dos produtos contidos
na cesta básica do país projetam alta de 4,6% em outubro.
Com isso, a inflação dos alimentos mais consumidos pelos
argentinos já terá subido 30,1%
neste ano. Os dados são da associação independente de consumidores Adelco, que realiza
medições há 25 anos no país.
Eles se chocam com os números oficiais. Para o Indec (o IBGE argentino), os preços dos
alimentos e bebidas subiram
"apenas" 8% neste ano.
O maior desafio da presidente eleita, Cristina Kirchner, será tentar controlar rapidamente a subida dos preços. O apoio
que teve das classes mais baixas
da população na eleição de domingo tende a esvaziar rapidamente caso a tendência de alta
dos alimentos persista.
Cristina tem duas opções para lidar com o problema: 1) tomar medidas para esfriar a economia e conter os preços reduzindo a demanda; ou 2) convencer os setores empresariais
a aumentar rapidamente os investimentos para ampliar a
oferta de produtos. A expectativa é que o governo tente fazer
as duas coisas ao mesmo tempo. Mas há muitos obstáculos
para concretizar a segunda opção -a melhor das duas.
Desde que deu um calote em
sua dívida externa de US$ 132
bilhões no final de 2001, a Argentina está sem grandes fontes de financiamento de fora.
Muitas empresas, especialmente européias, esperam uma
solução para parte do débito
para voltar a investir no país.
Há duas semanas, na reunião
anual do FMI (Fundo Monetário Internacional), em Washington, o ministro Miguel Peirano (Economia) esteve com o novo diretor-gerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn.
Ele prometeu "colaborar" com
a Argentina para ajudar a negociar os termos de uma dívida de
US$ 6,2 bilhões que o país tem
com o Clube de Paris (que reúne 19 países ricos).
A solução para esse débito
pode significar investimentos
diretos europeus, hoje em compasso de espera, de US$ 8 bilhões. Outros países, em especial o Brasil, também estão de
olho na Argentina. As crises dos
últimos anos deixaram as companhias do país muito baratas.
A estratégia mais comum é a de
comprar as empresas já constituídas, e não necessariamente
aumentar investimentos.
Na semana passada, o setor
industrial argentino atingiu um
recorde de 23 anos na utilização da capacidade instalada.
Ela chegou a 78,7%, o que tende
a levar as empresas a subir preços. No curto prazo, portanto, a
solução para a inflação não perder totalmente o controle tende a incluir medidas que ajudem a esfriar a economia.
A mais imediata deve ser um
corte no ritmo de crescimento
dos gastos públicos, que subiram 45% neste ano eleitoral.
Com isso, o governo tentaria
ampliar economia que faz para
pagar juros da dívida, aumentando a confiança sobre a sustentabilidade da economia.
(FCZ)
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