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Chade processa 16 por tráfico de crianças
Avião fretado por uma ONG francesa levaria 103 "órfãos de Darfur" para adoção ilegal; muitos têm família e são chadianos
França e Chade dizem que episódio não afeta relação bilateral; famílias européias pagaram até 6.000 euros por cada criança africana
DA REDAÇÃO
Um juiz do Chade abriu processos ontem contra 16 europeus por crimes de "seqüestro
de menores", "desvio de dinheiro" e "cumplicidade" com
a ONG francesa Arca de Zoé,
que tentou embarcar ilegalmente 103 crianças africanas
para a França na última quinta-feira. A denúncia havia sido feita no mesmo dia por um promotor de Abéché, no leste do
Chade. Entre os acusados estão
seis franceses integrantes da
ONG, sete tripulantes espanhóis do vôo charter contratado pela organização e três jornalistas franceses que acompanhavam o grupo, detido pela
polícia no aeroporto de Abéché.
Famílias francesas e belgas
pagaram até 6.000 pelo
transporte de cada criança, todas apresentadas como "órfãs
de Darfur" -região conflagrada do Sudão. Embora a presença de refugiados de Darfur seja
marcante no leste do Chade, há
evidências de que nem todas as
crianças sejam órfãs e de que
algumas sejam chadianas. Os
acusados alegam que os meninos foram trazidos até a região
fronteiriça e entregues a eles.
O episódio foi condenado pelo presidente francês, Nicolas
Sarkozy, que criou uma célula
de contenção da crise para tentar mitigar o impacto da ação
na imagem de seu país. Ex-colônia francesa, o Chade é peça-chave para a ação em Darfur
-uma das prioridades diplomáticas do governo.
A ministra de Direito Humanos do Chade, Rama Yade, disse que o caso não deve afetar a
ação, a partir de novembro, de
uma força da UE no país -proposta por Paris para solucionar
a questão de Darfur.
Alojadas no orfanato de Abéché, as crianças resgatadas enfrentam agora uma romaria de
diplomatas, jornalistas e assistentes sociais que tentam descobrir sua origem. Os mais novos choram e chamam os pais.
"A maioria tem entre três e
seis anos. É muito difícil perguntar a uma criança de três
anos como se chama e de onde
veio", diz Annette Rehrl, porta-voz do Alto Comissariado da
ONU para Refugiados (Acnur),
que entrevista individualmente as crianças em conjunto com
representantes da Unicef e da
Cruz Vermelha.
"Cada vez mais achamos que
não são órfãos. Elas repetem
sem parar que voltarão com
seus pais." Como muitas tiveram o sobrenome alterado, diz
Rehl, será necessário visitar os
povoados para identificar a
identidade de cada criança.
Algumas já perderam a paciência. "Eu quero ir para casa.
Eu vou, nem que seja andando.
Se eu morrer, não tem problema. Mas eu vou", bravateia
Ousmane Dafallah, de menos
de 10 anos, que diz ter vindo de
um vilarejo do Chade próximo
à fronteira com o Sudão.
Com agências internacionais
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