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Musharraf promete fim do estado de emergência
Comemorada pela Casa Branca, notícia é recebida com reserva por paquistaneses
Ditador, que deixou a farda, critica "obsessão com democracia nos moldes ocidentais" ao tomar posse para o segundo mandato
DA REDAÇÃO
Após deixar o comando do
Exército, o ditador paquistanês
Pervez Musharraf afirmou ontem que vai suspender em três
semanas o estado de emergência, decretado no dia 3. A Casa
Branca recebeu com entusiasmo a promessa de seu principal
aliado regional, que assumiu
ontem, como civil, mandato
presidencial de cinco anos. O
adeus às armas, porém, veio
tarde demais para muitos paquistaneses, que querem Musharraf fora da vida política.
Os moderados, que um dia viram no golpe uma alternativa
ao instável governo de Nawaz
Sharif -que testou a bomba
atômica e flertou com radicais
islâmicos- perderam a confiança no governo devido às
constantes interferências no
Judiciário, que culminaram no
decreto do dia 3.
Centenas dos mais de 6.000
presos durante o estado de
emergência continuam detidos
e a nova roupagem civil do governante -que teve sua reeleição, indireta, validada por uma
Suprema Corte expurgada de
dissidentes- é vista com suspeitas.
Já para os fundamentalistas,
o viés ocidentalizante do regime e a aliança com os EUA são
intoleráveis. Após o massacre,
em julho, de insurgentes que
exigiam a adoção da sharia, líderes tribais declararam guerra
ao governo. O poderoso Exército paquistanês, ele próprio permeado por influências dos radicais, foi incapaz de evitar a sucessão de atentados que levaram o país a uma situação próxima de uma guerra civil.
A oposição, porém, não se firmou como alternativa viável,
num cenário marcado por disputa pelo poder e divergências
ideológicas profundas. Os ex-premiês Benazir Bhutto e Nawaz Sharif, principais nomes da
oposição, ameaçavam boicotar
as eleições gerais de 8 de janeiro caso o estado de exceção
continuasse em vigor.
A hipótese não está descartada -afirmou, ontem, Sharif-,
mas dependerá de um diálogo
com Benazir. A rivalidade entre
os dois -que, apesar das bravatas, apresentaram candidatura- dificulta um consenso.
Se não agora, quando?
"Existe uma obsessão irrealista pela forma de democracia
de vocês, pelos direitos humanos e liberdades civis que vocês
levaram séculos para adquirir.
Mas nós faremos isto do nosso
modo, pois entendemos nossa
sociedade e nosso ambiente
muito melhor que os ocidentais", disse Musharraf aos diplomatas estrangeiros, na cerimônia de posse.
A classe média paquistanesa,
porém, não parece disposta a
esperar. "Se não agora, quando? Se não nós, quem?", questiona, numa apropriação do
provérbio judaico, a convocação para protesto, assinada por
comitês de 15 instituições de
ensino superior de Lahore, segunda maior cidade paquistanesa. Manifestações pelo retorno do estado de direito ocorrerão hoje não apenas nas principais cidades paquistanesas,
mas também na Europa e EUA,
afirma o panfleto.
Com o "New York Times" e agências internacionais
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