São Paulo, sexta-feira, 30 de novembro de 2007

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Musharraf promete fim do estado de emergência

Comemorada pela Casa Branca, notícia é recebida com reserva por paquistaneses

Ditador, que deixou a farda, critica "obsessão com democracia nos moldes ocidentais" ao tomar posse para o segundo mandato

DA REDAÇÃO

Após deixar o comando do Exército, o ditador paquistanês Pervez Musharraf afirmou ontem que vai suspender em três semanas o estado de emergência, decretado no dia 3. A Casa Branca recebeu com entusiasmo a promessa de seu principal aliado regional, que assumiu ontem, como civil, mandato presidencial de cinco anos. O adeus às armas, porém, veio tarde demais para muitos paquistaneses, que querem Musharraf fora da vida política.
Os moderados, que um dia viram no golpe uma alternativa ao instável governo de Nawaz Sharif -que testou a bomba atômica e flertou com radicais islâmicos- perderam a confiança no governo devido às constantes interferências no Judiciário, que culminaram no decreto do dia 3.
Centenas dos mais de 6.000 presos durante o estado de emergência continuam detidos e a nova roupagem civil do governante -que teve sua reeleição, indireta, validada por uma Suprema Corte expurgada de dissidentes- é vista com suspeitas.
Já para os fundamentalistas, o viés ocidentalizante do regime e a aliança com os EUA são intoleráveis. Após o massacre, em julho, de insurgentes que exigiam a adoção da sharia, líderes tribais declararam guerra ao governo. O poderoso Exército paquistanês, ele próprio permeado por influências dos radicais, foi incapaz de evitar a sucessão de atentados que levaram o país a uma situação próxima de uma guerra civil.
A oposição, porém, não se firmou como alternativa viável, num cenário marcado por disputa pelo poder e divergências ideológicas profundas. Os ex-premiês Benazir Bhutto e Nawaz Sharif, principais nomes da oposição, ameaçavam boicotar as eleições gerais de 8 de janeiro caso o estado de exceção continuasse em vigor.
A hipótese não está descartada -afirmou, ontem, Sharif-, mas dependerá de um diálogo com Benazir. A rivalidade entre os dois -que, apesar das bravatas, apresentaram candidatura- dificulta um consenso.

Se não agora, quando?
"Existe uma obsessão irrealista pela forma de democracia de vocês, pelos direitos humanos e liberdades civis que vocês levaram séculos para adquirir. Mas nós faremos isto do nosso modo, pois entendemos nossa sociedade e nosso ambiente muito melhor que os ocidentais", disse Musharraf aos diplomatas estrangeiros, na cerimônia de posse.
A classe média paquistanesa, porém, não parece disposta a esperar. "Se não agora, quando? Se não nós, quem?", questiona, numa apropriação do provérbio judaico, a convocação para protesto, assinada por comitês de 15 instituições de ensino superior de Lahore, segunda maior cidade paquistanesa. Manifestações pelo retorno do estado de direito ocorrerão hoje não apenas nas principais cidades paquistanesas, mas também na Europa e EUA, afirma o panfleto.


Com o "New York Times" e agências internacionais


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