São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SUCESSÃO NOS EUA

Clintonistas e doadores são o exército obamista

Eleito mantém ecletismo, mas rompe promessa sobre lobby

DE WASHINGTON

Dos nomes anunciados até agora para os postos principais do gabinete obamista, há duas mulheres (Hillary Clinton e a governadora do Arizona, Janet Napolitano, que deve ficar com o cargo de secretária de Segurança Interna), um negro (Eric Holder) e um latino (o governador do Novo México, Bill Richardson, que deve ir para o Departamento de Comércio).
Barack Obama prometeu diversidade ao montar sua equipe e tem mantido a promessa não só nos postos de maior visibilidade. Dos mais de 40 nomes anunciados até agora, ele vem seguindo de perto, intencionalmente ou não, a proporção da população americana: pouco mais da metade é de mulheres, 1 em cada 10 é negro, 2 em cada 10 são ou têm origem hispânica -não há indicados abertamente gays até agora.
Há curiosidades, como o primeiro blogueiro (Peter Orszag, que chefiará o Orçamento na Casa Branca) e dois que ostentam bigodes (além de Holder, o conselheiro David Axelrod).
Mas outros dois são os fatores mais gerais a unir o time.
O primeiro é que mais de 80% passaram em algum momento pelo governo do democrata Bill Clinton (1993-2001), seja em cargos de maior visibilidade, como Bill Richardson, ex-embaixador na ONU, e o próprio Holder, ex-subsecretário de Justiça, seja em postos menos importantes.
O outro é que 56% são doadores importantes da campanha do candidato Barack Obama. O segundo levantamento é do Center for Responsive Politics, ONG de Washington que rastreia as doações em campanhas eleitorais americanas, e leva em conta também os mais de 400 membros da equipe de transição, não só os que farão parte do futuro governo.
O total arrecadado individualmente pela tropa durante a campanha chega a pelo menos US$ 825 mil, uma importância que pode crescer conforme a checagem continue. O valor pula para US$ 2 milhões, se são computadas doações a candidatos democratas em geral, e para US$ 2,8 milhões, quando são incluídos os eventos de arrecadação conjunta que eles lideraram.
Cada um dos já detectados nos dados parciais doou uma média de US$ 3.900 -e pelo menos 14 pessoas levantaram US$ 50 mil cada uma em eventos de arrecadação conjunta. Isso sugere tanto um grupo ideologicamente unido como pessoas que foram recompensadas com cargos por seu trabalho na campanha. Entre os que já foram checados, há somente seis que doaram apenas para candidatos republicanos.
A ONG confirma outra crítica freqüente feita ao time montado por Obama para a transição: a presença de lobistas, apesar da promessa em contrário do então candidato e do conjunto de regras draconianas apresentado pelo chefe de transição, John Podesta, ele próprio um ex-lobista.
São 23 os líderes da transição que já exerceram ou ainda exercem a profissão, que nos EUA é legalizada. Sete eram registrados publicamente até o começo do ano. A cada dia, a lista aumenta ou novas ligações perigosas são apontadas.
Anteontem, o site Politico publicou que era nebulosa a relação de Lawrence Summers, futuro diretor do Conselho Econômico Nacional, com o fundo de investimentos D.E. Shaw & Co., um dos mais bem-sucedidos do mundo, com US$ 36 bilhões. Summers anunciou ao ser nomeado que se desligaria da empresa -mas nem o fundo nem o economista souberam dizer o que ele fez lá nos últimos dois anos. (SÉRGIO DÁVILA)


Texto Anterior: No gabinete, Obama monta balaio-de-gatos de centro
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.