São Paulo, terça-feira, 30 de novembro de 2010

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EUA criam "sala de guerra" após revelações

Força tarefa montada pelo Departamento de Estado visa reparar danos em laços com parceiros internacionais

Hillary classifica caso de "ataque ao mundo" e diz que governo está adotando "passos agressivos" contra site

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Os EUA entraram ontem abertamente em esforço frenético de contenção de danos após o vazamento de dados diplomáticos sigilosos na internet. A secretária de Estado, Hillary Clinton, se desculpou e classificou o episódio como um "ataque ao mundo".
O site WikiLeaks, dedicado a publicar informações confidenciais, começou a divulgar no final de semana cerca de 260 mil comunicações entre embaixadas americanas ao redor do mundo e Washington, expondo vários governos a situações que vão do ridículo ao risco real.
"Essa divulgação não é só um ataque aos interesses de política externa americanos. É um ataque contra a comunidade internacional", disse Hillary. "Sentimos muito pela divulgação do que deveria ser sigiloso."
A secretária afirmou que o governo está adotando "passos agressivos" para punir os responsáveis e que estão sendo tomadas medidas nos departamentos de Estado e da Defesa para evitar vazamentos futuros.
O secretário da Justiça, Eric Holder, reiterou que há uma investigação criminal em curso nos EUA sobre o WikiLeaks, mas não disse se e como o país tentará prender seus representantes, que estão fora da jurisdição americana.
A sugestão de deputados e senadores republicanos de classificar o site como organização terrorista foi por enquanto rechaçada.
P.J. Crowley, porta-voz do Departamento de Estado, disse que a divulgação de dados secretos não é terrorista.
De toda forma, a previsão é que as revelações prejudicarão por tempo indeterminado algumas relações dos EUA com diplomatas estrangeiros, que perderam a expectativa de confidencialidade das conversas.

FORÇA TAREFA
A situação é tão mais grave quanto menos favorável a visão do público de um país sobre os EUA -Paquistão, Arábia Saudita e Iêmen estão entre os mais abalados pelos vazamentos.
O Departamento de Estado montou uma força tarefa -já apelidada de "sala de guerra"- para lidar com a crise 24 horas por dia.
Além de Hillary, vários diplomatas de alto escalão foram destacados para falar com governos estrangeiros e tentar manter os laços atuais.
"O esforço não vai funcionar", disse à Folha James Lindsay, vice-presidente sênior do think tank Council on Foreign Relations.
"Vai haver uma sombra sobre a diplomacia americana daqui para frente. Em boa parte do mundo, as conversas não serão mais francas."
Para Lindsay, que condena o vazamento como "ato totalmente irresponsável", o WikiLeaks forçará um retrocesso democrático.
"O acesso à informação será mais restrito e as pessoas hesitarão antes de escrever avaliações. E é mais fácil impulsionar más ideias que não são escritas", afirmou.
Internamente, são esperadas poucas mudanças nos EUA. Mesmo a revelação de espionagem por parte de diplomatas não deve levar a alterações.
"Diplomatas são apenas diplomatas", insistiu ontem a embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice.
Não convenceu. "Somos todos adultos aqui", disse Lindsay. "Em alguns casos, diplomatas são mais do que apenas diplomatas."

FOLHA.com
Leia entrevista sobre o WikiLeaks
folha.com.br/mu838159


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