São Paulo, terça-feira, 30 de dezembro de 2008

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Ataque é uma brutalidade, diz assessor do Planalto

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, condenou ontem o ataque israelense à faixa de Gaza como uma "brutalidade" que terá dois desdobramentos, em sua opinião: "uma definição mais peremptória" do presidente eleito Barack Obama para a sua política externa e uma ampliação dos mediadores de uma solução regional.
"Israel tem uma política de força, e o resultado é uma política de sangue. Não dá mais. É preciso trocar ou ampliar os negociadores internacionais, para acabar com esse rame-rame diplomático que não chega a lugar nenhum", disse Garcia, condenando o ataque a civis.
"É preciso reduzir o poder dos EUA nas negociações?", perguntou-lhe a Folha.
"Exatamente. Os EUA têm lado, e é óbvio que isso contamina as tentativas de solução", respondeu ele, acrescentando que nada indica que a passagem de governo de George W. Bush para Barack Obama, em 20 de janeiro, irá alterar isso.
"O governo Obama ainda está cheio de mistérios, falta clareza principalmente na política externa, e não se podem esperar grandes guinadas, até porque um transatlântico não consegue dar cavalo de pau", disse o assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Quando ele fala em "trocar" ou "ampliar" os negociadores de uma solução para o Oriente Médio, está defendendo a inclusão do Brasil num novo grupo com essa função por ser emergente e não "ter lado" -no caso, não apoiar Israel.
O Brasil foi o único país da América Latina convidado para a conferência de Annapolis (EUA), no fim de 2007, na condição de integrante do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul).
Planalto e Itamaraty consideraram, à época, que o convite poderia abrir portas para a participação do Brasil num eventual grupo de apoio ao Quarteto (ONU, União Européia, EUA e Rússia), núcleo que trata do conflito. Isso não ocorreu.
Se condena os EUA por "ter lado", o Brasil, que historicamente apóia as posições palestinas no conflito, tem dado vários passos em direção ao mundo árabe. Mas nenhum em direção a Israel, país que Lula nunca visitou como presidente.
Lula já foi a diferentes países árabes e sediou em Brasília uma cúpula de chefes de Estado árabes e sul-americanos.
Garcia, porém, diz que "a intenção não é isolar Israel, muito pelo contrário".
No fim da tarde de ontem, o Itamaraty divulgou nova nota "deplorando" a continuidade das "ações desproporcionais" de Israel em Gaza e exortando os dois lados a cessarem, "de forma imediata", os "atos de hostilidade mútua".


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