São Paulo, quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

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Cidade no Suriname afugenta brasileiros

Polícia de Albina, palco do ataque a garimpeiros, recomenda que estrangeiros fiquem na capital, a 150 km de distância

Prédios que funcionavam de entreposto para garimpeiros comprarem, dormirem e se encontrarem parece agora ter sido alvo de explosão

João Carlos Magalhães/Folha Imagem
Surinameses de máscaras trabalham nos escombros de prédio danificado no ataque a garimpeiros brasileiros na véspera do Natal

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL AO SURINAME

Cinco dias após o violento ataque de descendentes de quilombolas a garimpeiros brasileiros no Suriname, Albina, a cidade palco do conflito, fechou as portas aos brasileiros. A polícia local recomenda que brasileiros se mantenham a 150 km de distância, na capital, Paramaribo, para onde quase todos foram levados após terem sido agredidos com facões, paus, pedras e machadinhas durante a véspera do Natal. Nas ruas de Albina, apertadas e apinhadas de comerciantes ambulantes, a população -quase toda de maroons, os descendentes de quilombolas- não esconde sua hostilidade à presença brasileira, conforme a Folha testemunhou em visita com escolta policial. "Brasileiros, fora daqui. Get out", grita um homem negro quando a reportagem se aproxima. Após alguma conversa, ele aceita dar uma breve entrevista, apesar de afirmar não ter visto nada da confusão. "Eles [brasileiros] bebem, roubam, não podem ficar aqui", diz em inglês. "Me roubaram três quilos de ouro, e acertaram a minha mão." Em sua mão há pequenas cicatrizes que ele diz terem sido provocadas por disparos de chumbo. Um pouco mais tarde, outro homem, que vendia verduras em uma barraca, começou a gritar e a esbravejar em holandês quando percebeu que era filmado pelo repórter. Albina fica às margens do rio Maroni, de onde se pode ver com clareza a cidade de Saint-Laurent, na Guiana Francesa. Sua delegacia, uma pequena construção de alvenaria onde trabalham 12 pessoas, fica a menos de cinco minutos de carro do local do confronto. O que antes era uma espécie de entreposto para os garimpeiros comprarem, dormirem e se encontrarem parece agora ter sido alvo de uma explosão. Do hotel onde moravam dezenas de brasileiros sobrou apenas um esqueleto chamuscado de dois andares. No mercado de um chinês, também destroçado durante o conflito, resta uma pilha de latas de cerveja carbonizadas. Ambos os prédios desabaram. Para entrar no local, à beira do Maroni, é preciso vencer um amontoado de telhas metálicas retorcidas, entulho e vidro estilhaçado. Em meio ao tapete de lixo, botijões de gás que não estouraram. "Isso é perigoso, ainda pode explodir", diz o policial Humphrey Naarden, que acompanhava a visita. O cheiro de carniça e comida podre é nauseante. Moscas estão por todo o lugar. Segundo Naarden, o odor não provém de supostos cadáveres enterrados, mas dos mantimentos que não foram saqueados. Os homens que ajudam a retirar os destroços usam máscaras cirúrgicas. Espalhadas por um pátio, restam carcaças de ao menos seis veículos queimados, entre eles um caminhão. Por sorte, dez reservatórios de gasolina do posto fluvial contíguo ao pátio ficaram intactos. Ao fundo, há um galpão de madeira de chão forrado por objetos deixados pelos brasileiros. Numa das hastes da construção, antes usada como alojamento, uma bandeira verde e amarela permanece intocada. Pela manhã, brasileiros vítimas do ataque pediam à reportagem que coletasse alguns desses objetos, sobretudo documentos. Sem eles, afirmavam, é difícil voltar ao Brasil.


Garimpeiro diz que corpos foram escondidos

www.folha.com.br/093631


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