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Espanha quer aceno da UE a Cuba, mas tem mãos atadas
Madri assumirá presidência rotativa do bloco com poderes enfraquecidos pelo Tratado de Lisboa
LUCIANA COELHO
EM BARCELONA
A Espanha assumirá nesta
sexta-feira a presidência rotativa da União Europeia com poderes esvaziados, mas cheia de
promessas. O descompasso é
nítido nas Relações Exteriores,
frente em que Madri quer fazer
de Cuba uma prioridade mesmo que careça de apoio e influência para tanto.
Segundo o chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos,
o governo de José Luiz Rodríguez Zapatero quer substituir a
Posição Comum de 1996, que
exige da ilha demonstrar avanço no respeito aos direitos humanos em troca de cooperação.
A ideia é adotar uma posição
bilateral, que envolva Havana e
crie, eventualmente, diálogo. A
Posição Comum é unilateral,
ainda que o bloco europeu e sobretudo a Espanha, sob seis
anos de governo Zapatero, se
mostrem mais flexíveis do que
os EUA quanto ao regime dos
irmãos Castro.
Mas a Suécia, antecessora
dos espanhóis no posto, já lançou o alerta. O ministro das Relações Exteriores Carl Bildt, segundo agências de notícias,
afirmou que "não se pode prometer diálogo e excluir a questão dos direitos humanos".
"Queremos dialogar com Cuba,
mas é claro que direitos humanos são parte disso." Para o
centro-direitista sueco, a desassociação é "inaceitável".
Se Madri tiver sucesso, as
sanções impostas pela UE desde a detenção de 73 dissidentes
políticos por Havana em 2003
-a maioria dos quais ainda está
presa- poderão ser abrandadas ou suspensas em prol de
um "diálogo firme e forte".
Como a UE funciona pelo
princípio do consenso, é difícil
esperar que a iniciativa tenha
futuro. Entre os 27 países-membros, os governos socialistas são minoria, e a direita centro-europeia é estridente.
Mais que isso, as regras do
bloco mudaram neste mês.
A própria página espanhola
da presidência rotativa é paradoxal -senão irônica- ao colocar o país "modestamente e discretamente à disposição daqueles que assumiram as responsabilidades que antes recaíam sobre o chefe de governo
e o chanceler do país-presidente de turno".
É uma alusão ao Tratado de
Lisboa, novo estatuto da UE em
vigor desde o último dia 13, que
cria uma presidência fixa -nas
mãos do belga Herman Van
Rompuy pelos próximos 30
meses- e uma Chancelaria -a
cargo da britânica Catherine
Ashton até 2014.
O mesmo documento fortalece o papel da Comissão Europeia (a burocracia do bloco) como órgão Executivo e reduz o
do país que ocupa a presidência
rotativa a uma espécie de organizador de reuniões e cúpulas.
Isso inclui propor temas que
entrarão na agenda, mas não
poder real de fazê-los avançar.
Ainda assim, de mãos atadas
e especialmente avariada pelas
turbulências econômicas mundiais, a Espanha promete trabalhar pela "superação da crise,
pelo processo de paz no Oriente Médio, pela aproximação
com a América Latina e o Magreb", bem como nos laços com
os EUA, a Rússia e o Japão.
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